Porque a vitória de Trump é uma derrota da democracia representativa

Ponto final

 

 

Arquitetura da destruição

Além dos seus conhecidos aspectos político e militar, no brilhante documentário “Arquitetura da destruição” (1989), escrito e dirigido pelo sueco Peter Cohen, o nazismo que levou a Alemanha e o mundo à II Guerra Mundial (1939/45) é dissecado em sua proposta antropológica. Na união de nacionalismo, racismo, fascismo italiano e revanchismo alemão pela perda da I Guerra (1914/18), foram canalizados os recalques de um pintor e arquiteto frustrado: Adolf Hitler (1889/1945). Criado por ele, o nazismo foi também uma tentativa de reação estética ao Modernismo que mudou e ditou as artes do mundo no séc. 20.

 

Castelo de areia

Inegável que a vitória do empresário Donald Trump na eleição a presidente dos EUA, contrariando todas as previsões das pesquisas e da mídia internacional, foi uma reação à globalização que se estendeu sobre o mundo a partir dos anos 1990. Após a queda do Muro de Berlim (1989) e a dissolução da União Soviética (1991), sob a égide da questionável Pax Americana (a lembrar a Pax Romana dos Césares da Antiguidade), foi aberto um período de livre fluxo dos capitais e aparente estabilidade mundial sob a hegemonia estadunidense, que agora parece se dissolver como um castelo de areia.

 

Vitória é derrota

Também não se pode negar que a vitória de Trump teve prenúncios desse reacionarismo antiglobalizante pelo mundo. O voto do eleitor dos EUA que ontem definiu seu próximo presidente, tem as digitais do sufrágio britânico que escolheu sair da União Européia, em junho deste ano, ou do carioca que em outubro elegeu prefeito um bispo da Igreja Universal do Reino de Deus. Mesmo que mude seu discurso racista, machista e isolacionista, como já dá sinais, espanta como Trump possa tê-lo usado e vencido. Seu triunfo foi a maior derrota da democracia representativa no séc. 21, de consequências ainda imprevisíveis.

 

A ver

Para quem vê no resultado da eleição presidencial dos EUA um sinal dos estertores do capitalismo, previsível deveria ser como a passagem da frota nuclear russa pelo Canal da Mancha, entre Inglaterra e França, há pouco mais de um mês, evocaria velhos fantasmas que se julgava exorcizados, todos simpáticos a Trump. Ex-chefe da KGB (serviço secreto da ex-União Soviética) e atual presidente vitalício da Rússia, Vladimir Putin torcia explicitamente pela derrota da democrata Hillary Clinton e ontem parabenizou o republicano vencedor, afirmando que a Guerra Fria (tensão bipolar e nuclear do mundo entre 1945 e 1991) já acabou. A ver…

 

Sem coligações

O plenário do Senado aprovou ontem, em primeiro turno, a Proposta de Emenda à Constituição (PEC) que acaba com as coligações partidárias nas eleições proporcionais e institui a cláusula de barreira para os partidos políticos. O texto ainda deverá passar por três sessões de discussão antes da votação em segundo. Se aprovada a proposta, não haverá mais coligações na eleição proporcional (para deputados e vereadores). O fim favorece os grandes partidos, uma vez que um “nanico” não poderia se unir a outros para aumentar sua força.

 

Fidelidade

De autoria dos senadores Aécio Neves (PSDB-MG) e Ricardo Ferraço (PSDB-ES), a PEC também reforça a fidelidade partidária ao estabelecer que políticos eleitos já no pleito deste ano perderão os mandatos caso se desfiliem de seus partidos, bem como suplentes ou vices perdem a possibilidade de atuar como substitutos se também mudarem de legenda. A PEC também estabelece uma cláusula de barreira que divide os partidos políticos em dois tipos: os com funcionamento parlamentar e os com representação no Congresso Nacional.

 

Barreira

Os partidos com funcionamento parlamentar serão os que obtiverem no mínimo 2% dos votos nas eleições gerais de 2018 e 3% nas de 2022. Tais siglas poderão ter acesso a fundo partidário e tempo de rádio e televisão e estrutura funcional própria no Congresso. Já os com representação no Congresso, os que não superarem a barreira, terão o mandato de seus eleitos garantidos, embora percam o acesso aos benefícios. Os políticos filiados a eles também terão o direito de mudar de legenda sem perder o mandato. Se o texto for aprovado em dois turnos no Senado, ele seguirá para a Câmara dos Deputados, onde ainda poderá ser alterado.

 

Com a colaboração do jornalista Arnaldo Neto

 

Publicado hoje (10) na Folha da Manhã

 

fb-share-icon0
Tweet 20
Pin Share20

Este post tem 2 comentários

  1. lenieverson

    Como eu disse no Facebook, o chororó continua. Jornalismo que não sabe fazer autocrítica e se esforça para perder leitores. Aceita a vitória do cara.

    1. Aluysio

      Caro Leniéverson,

      Como eu disse no Facebook: “O que as eleições estadunidenses revelaram foi o colapso da democracia representativa. Independe da sua aceitação, doeu no mundo!”

      Abç e grato pela chance da reafirmação!

      Aluysio

Deixe um comentário para lenieverson Cancelar resposta