Leonel Brizola costumava dizer que o melhor momento de um político era aquele entre a eleição e a posse. A observação do saudoso gaúcho – um dos mais notáveis homens públicos da história brasileira – baseava-se em constatação simples: é a fase em que tudo são flores… Só comemoração, tapinhas nas costas e convites para jantares.
Se conectarmos o pensamento do ex-governador do Rio Grande do Sul e do Rio de Janeiro, figura de proa do PTB de Vargas e fundador do PDT, à circunstância de eleição ganha com ares de mudança revolucionária, onde o vitorioso soma quase o dobro de votos de seu oponente e põe fim (ou interrompe) ciclo político por demais desgastado – veremos, então, que o tal momento ganha potentes turbinas. Contudo, no instante seguinte, também as cobranças viajam de Concorde.
No pleito de 2016 para o executivo de Campos, em que se projetava disputa acirrada, a vitória no 1º turno por surpreendentes 151 mil votos falou por si. O descontentamento do eleitor – da população – veio em enxurrada, e em avassaladora correnteza o recado da cidade que pedia mudança profunda.
Números tão expressivos, entretanto, não ficam num cantinho, mudos e isolados. Ao contrário, geram expectativa proporcional que logo vemos transformada em cobrança – não raro apressadas e adiantadas, como se resultados pudessem ser obtidos ao toque da varinha do mágico em sua cartola.
E o primeiro teste costuma ser ao fim do protocolar 1º trimestre, nas vizinhanças do emblemático ‘100 dias’, nem sempre levando em conta as peculiaridades de cada lugar e do momento vivido.
No caso concreto
Salvo melhor juízo, pelo conjunto das circunstâncias, não me parece que o governo Rafael Diniz possa, já agora, ser avaliado. Em outra conjuntura talvez pudesse… Como em vários municípios certamente possa. Mas aqui, na terra goitacá, afigura-se sensato considerar particularidades pouco comuns.
Senão, vejamos. Numa estrutura político-administrativa montada ao longo de oito anos, seria plausível esperar que o novo prefeito, adversário e, portanto, estranho a essa engrenagem, pudesse dela tomar conhecimento, impor ingerência e colher resultados em 3 meses e 10 dias?
Acrescente-se o período de transição pouco produtivo, o governo anterior claramente com má vontade, o Estado do Rio fortemente atingido pela crise e, desses 100 dias, 60 divididos entre verão e carnaval.
Tome-se, como não menos importante, a queda no preço do petróleo, um município que ano passado decretou emergência econômica, as implicações decorrentes, as ‘vendas do futuro’ e por aí vai…
Isso posto, seria exagero dizer que Rafael e sua equipe gastaram, quando pouco, 30 dias para apenas tomar pé da situação? Penso que não. Aquele período em que se busca tão somente sair do escuro e ter uma noção geral que possibilite enxergar como e por onde será possível dar os primeiros passos.
Assim, subtraídos esses 30 dias iniciais, vemos que o restante, tendo uma semana de carnaval, é muito pouco tempo para cobranças e avaliações.
Por outro lado…
Apesar da bagunça e do comprometimento de receita, o governo recém-empossado também não encontrou, digamos assim, terra devastada. A grosso modo a situação de Campos não se mostrou pior do que a maioria dos municípios do RJ e de outros estados fortemente atingidos pela crise, – podendo-se dizer, até, que por aí tinha coisa ainda pior.
De certa forma, nos oito anos de administração Rosinha, – ressalvados Cepop e similares – até encontram-se obras razoáveis nas áreas do Centro, bairros e distritos. Já no quesito gestão, principalmente no último ano, desandou ladeia abaixo e deu ruim a níveis catastróficos. Mas aí são outros quinhentos e foge ao assunto ora abordado.
De concreto
Especulações à parte, temos, de concreto, menos de ínfimos 7% de mandato cumprido. Assim, além de minúscula fatia do todo, pelas circunstâncias enumeradas é compreensível que tenham sido usados mais para reconhecimento do que para qualquer outra coisa.
Ao jovem prefeito há de se dar, também, tempo para que ele próprio possa se inserir no processo. O Superman saiu dos quadrinhos para o cinema – não para a vida real.
Rafael Diniz, se não tem maior experiência político-administrativa – o que, por sinal, é relativo – tem legitimidade e possibilidade de reverter o quadro de assolamento do município e, depois de quase 20 anos dar, finalmente, o devido aproveitamento aos royalties.
Contudo, também não lhe aproveita repetir que encontrou a prefeitura em estado caótico e que está pagando os servidores em dia. Se a situação não fosse caótica, o eleitor não teria feito opção por suas ideias e projetos. E nem mesmo ele teria o discurso de oposição. E pagar em dia também não é nada excepcional: o governo anterior também pagava.
Ações positivas
Medidas como redução de cargos comissionados e contenção de gastos são bem vindas. Podem parecer pingo em oceano, mas são positivas e indicam o norte de gestão.
Ter colocado para funcionar o sistema de ar refrigerado do HGG, também é pingo. Mas pergunte aos pacientes e seus familiares o que representa estar numa cama de hospital, em ambiente fechado, com calor de 38º, poder contar ou não com o sistema de climatização. Para quem está lá, internado, não é pingo: é a diferença entre dormir ou não dormir – entre bem e mal estar.
Conclusão
Ressalvando que o signatário não tem conhecimento aprofundado e preciso da evolução da atual administração, como não tinha da anterior – o que lhe impede de formar juízo de valor – (outros certamente os têm e assim podem mais e melhor proceder análises técnicas), vejo como prudente dar tempo ao tempo.
Para além das críticas dos que tiveram interesses contrariados, bem como dos que, seja por que motivos for, lançam elogios meramente bajuladores, muita água há para passar debaixo da ponte.
Na hipótese de alguns da equipe administrativa não estarem dando conta do recado (há críticas nesse sentido e só o tempo dirá se infundadas ou pertinentes), ou cuja qualificação esteja presa à teoria inócua, dissociada ao dia-a-dia real que os governos executivos exigem, o prefeito Rafael Diniz, a exemplo do que há de mais comum em administração pública, encontrará o momento certo de colocar em prática as tão comuns ‘reformas administravas’, quando se substitui os que não se mostraram à altura da função por outros que venham a fazer o que eventualmente não esteja sendo feito. Coisa comum, que acontece ao longo de qualquer mandato, duas, três, quatro vezes.
Rafael saberá separar os que funcionam dos que não funcionam, porque a termo e a cabo, o prefeito é ele. Quem responde é ele. Quem atende ou não – quem cumpre ou não – à expectava da cidade e do povo, é ele. E quem poderá disputar para vencer, ou para perder o 2º mandato, também é ele.
Campos, seja em águas calmas e ou sob tempestade, vai seguir navegando. Mas de sua habilidade para delegar e cercar-se das pessoas certas – e não das que aparentam ser as certas – e conectar o que é preciso ao que é possível, dependem sua carreira política.
Acreditemos e torçamos. Mas esperemos. Ainda é cedo.
Publicado hoje (09) na Folha da Manhã
olá;
E o período de transição de governos não conta?
abraços.
As opiniões que li nota-se o DNA democrático e o foco dentro da área
do comentarista. De todas a do Belido é bastante jornalistica e inteligente fala
que é cedo pra cobranças, mas deixa várias cobranças subentendidas, várias portas
entreabertas.
Pra mim o governo já podia ter feito muita coisa nesses 100 dias, só que parece que
nem começou.
A materia nao ouviu niguem. Como sempre so a opiniao de quem escreveu . “O governo recém-empossado também não encontrou, digamos assim, terra devastada” ?? Parece manchete do tempo que escrevia pra Garotinho.