O Brasil acordou diferente na última segunda. Com a taxa de renovação na casa dos 52% na Câmara e de 85% no Senado, teremos o Congresso com mais caras novas desde a redemocratização. Com uma performance avassaladora, o PSL, partido de Bolsonaro, elegeu 52 deputados e passou de um dos menores partidos da Câmara para o segundo maior partido na Casa do Povo. A surpresa passou pela rejeição de candidatos coroados pelas reiteradas pesquisas. Dilma, Suplicy, Romero Jucá, Roberto Requião, Eunício Oliveira, César Maia, entre outros, foram apenas alguns dos figurões que estavam eleitos pelos institutos de pesquisa. Estes últimos também foram incapazes de perceber a ascensão fulminante de Wilson Witzel no Rio de Janeiro, que terminou a eleição próximo da maioria dos votos válidos. Analisada de modo amplo reflete uma rejeição massiva dos políticos tradicionais que foram incapazes de construir alternativas concretas aos problemas dos eleitores.
Após uma década de baixo crescimento, a tímida recuperação da mais brutal crise econômica deu origem a uma geração de desalentados após um longo período de melhoria contínua nas condições de vida. O crescimento galopante de assassinatos e a sensação implacável de insegurança sentida pela maioria da população coabitam com a contínua percepção de assalto sistemático aos cofres públicos. Em resumo, a população brasileira era convidada a permanecer sentada num espetáculo cujo teatro pegava fogo enquanto os extintores eram roubados pelos organizadores.
Talvez esse sentimento explique a baixa eficácia da campanha negativa realizada contra candidatos como Bolsonaro (“homofóbico, machista, misógino, apoiador da tortura” etc) e a alta eficácia das fake news, cujo conteúdo normalmente confirma crenças anteriores a respeito de algum tipo de trama de poderosos ou de acordos de bastidores que prejudicam o eleitor.
Bolsonaro é, hoje, a maior placa tectônica a mover o sistema político e a votação expressiva que obteve em todo território nacional comprova sua força pessoal enquanto encarnação do sentimento antipetista que habitava a contragosto no PSDB. É provável que Bolsonaro saia das urnas, inclusive, superior ao antipetismo, tomando o protagonismo de Lula como maior força política nacional. Porém, há alguns resultados eleitorais que não podem ser explicados apenas pela força de Bolsonaro e que ocorreram *apesar* da sua força. A não-eleição de Magno Malta, fiel escudeiro do capitão, por exemplo, indica que há algo para além da rejeição do presidiário e seus asseclas.
Desde ontem, muito se fala da “Onda Conservadora” ou de uma “Onda Bolsonaro”. De fato, os resultados das urnas foram absolutamente avassaladores e, considerando as eleições legislativas, não previstos em qualquer pesquisa. Entender o movimento que culminou nos votos de ontem como uma onda talvez seja inadequado. Prefiro classificar o que aconteceu no primeiro turno das eleições de 2018 como um terremoto. O terremoto, cuja face mais visível é a desorganização, esconde uma brutal reorganização subterrânea, em que uma nova acomodação dará origem à configuração da superfície por um certo período de tempo.
Um observador mais ousado poderia dizer que Bolsonaro deixou de ser um candidato. Bolsonaro passou a ser uma ideia, um sentimento. E será difícil encerrar essa ideia antes do dia 27.