O artigo da Madeleine Lacsko no UOL é de ontem (6). Mas vale hoje, nesta Sexta-Feira Santa, quanto depois que o presidente Lula consumar a indicação do seu advogado pessoal, Cristiano Zanin, à vaga de Ricardo Lewandowski, velho companheiro de São Bernardo do Campo, ao Supremo Tribunal Federal (STF). Quando um homem branco sucederá um homem branco na mais alta Corte do país, que tem duas mulheres e nenhum negro entre os 11 ministros.
Agudo como adaga, o texto da craque Lacsko é antídoto ao capachismo de político. Imuniza tanto às paquitas que ainda se prestam a defender um contrabandista internacional de joias, quanto à hipocrisia de boa parte da nossa intrépida esquerda identitária:


Diversidade era para valer ou teremos mais um homem branco no STF?
Por Madeleine Lacsko
O presidente Lula não se comprometeu a indicar uma mulher, um negro ou a primeira mulher negra para o Supremo Tribunal Federal. Eu, pessoalmente, não entendo que esse método seja inclusivo.
Concordo com o líder do governo no Senado, Randolfe Rodrigues, que analisa a questão menos pelos símbolos e mais pela prática. Na prática, promovemos inclusão se a visão de mundo do escolhido for inclusiva. Ele pode ser de uma minoria e contra a inclusão, isso existe.
A escolha de mulheres e negros para posições de destaque não garante inclusão de mulheres e negros, é mais simbólica do que prática. Não faltam exemplos recentes que não nos deixam mentir.
Eu não vou questionar que o presidente Lula escolha para o STF seu advogado pessoal, que lhe tirou da cadeia e está relacionado à narrativa enganosa de que não houve corrupção nos governos petistas. Confundir os exageros da Lava Jato com a existência de corrupção foi uma jogada de mestre. Para paquitas de político, pouco importa que muita gente tenha devolvido milhões ao governo e dito que foi fruto de corrupção.
Mesmo assim, não questiono o presidente. Se ele manda essa e ainda tem gente que se agacha, numa olimpíada nacional de capachismo, tem mesmo de seguir em frente. Eu faria. Se Bolsonaro indicasse Frederick Wassef e a reação fosse a mesma, ele teria feito. Enquanto houver otário, malandro não morre de fome.
Antes que alguma paquita de político – bolsomínion ou luloafetiva – lance a carta mágica da “falsa simetria”, eu sei que Zanin e Wassef são diferentes. Também sei que Bolsonaro e Lula são diferentes. Igual seria a ação de indicar o advogado que defende criminalmente o presidente.
A imagem do STF foi monumentalmente abalada nos anos de bolsonarismo. Toda espécie de jogo sórdido de desinformação foi feita para levar a crer que a Suprema Corte era um puxadinho do petismo, agia apenas politicamente, se submetia a Lula e, sobretudo, perseguia Bolsonaro e os bolsonaristas. É uma narrativa que colou para muita gente, principalmente entre quem não faz ideia do que é ou como funciona o STF.
Agora o STF começa a tentar reverter essa crise de imagem e se aproximar do cidadão. Bem no meio disso, Lula pensa em mandar para lá, para ser integrante da Corte, seu advogado pessoal. Quem já via o STF como puxadinho do petismo vai se aferrar à posição e, se bobear, convencer quem não pensava isso mas também não sabe como o STF funciona.
Os Três Poderes funcionam num sistema de freios e contrapesos. Acirrar a opinião pública contra o STF deixa o Judiciário mais fraco. Isso é bom para o presidente da República, o contrapeso fica mais leve e ele mais livre e poderoso. Só que é excelente também para nossos probos políticos que circulam tanto no Congresso Nacional quanto nas páginas policiais, muitos deles réus no STF.
Compreendo a manobra política, mas agora temos algo importante a tratar. Diversidade e inclusão não podem ser perfumaria, discurso para dar dinheiro a influencer ou sinalizar vitude. Tem de ser algo sério e definitivamente não está sendo tratado dessa forma.
Quando interessa bater em adversários, perseguir críticos ou sinalizar virtude, se adota o discurso de que colocar mulheres e negros em posições de destaque é a coisa mais importante do mundo. A reação contra qualquer questionamento é implacável. Mas, quando interessa atender a vontade de Lula, esse axioma é relativizado.
Quando as ações seguem esse padrão, fica claríssimo que inclusão e diversidade não são a coisa mais importante. A prioridade é usar esse discurso para ações de marketing. É a era do justiceiro social do tipo Justo Veríssimo.