O jornalismo tem algo em comum com a democracia: só se faz com contraditório. Temporariamente afastado do jornalismo, abri ontem (19) uma exceção sazonal. Para tentar analisar, em seus aspectos jurídicos, éticos, políticos e eleitorais reunidos em 6 pontos, a denúncia da Procuradoria-Geral da República contra o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) e outros 33 suspeitos de envolvimento na suposta tentativa de golpe de Estado no Brasil.
Neste blog e nas redes sociais, o texto gerou (confira aqui, aqui e aqui) bom engajamento e comentários. Alguns, de simples manifestação descerebrada e passional de torcida. Que caracteriza a esquizofrenia da bipolaridade política brasileira e tanto aproxima o que de pior há no bolsonarismo e no lulopetismo. Outros, no entanto, de acréscimo dialético ao debate, sobretudo quando em contraditório.
Abaixo, em nome do bom debate sobre um tema grave, complexo e que ainda renderá bastante nos próximos meses, algumas dessas opiniões. Emitidas pela professora e ex-vereadora Odisséia Carvalho, presidente do PT de Campos; pelo advogado, ex-prefeito e ex-presidente da Câmara Municipal de Campos, Nelson Nahim; e pelo jornalista Sebastião Carlos Freitas, ex-editor-geral da Folha da Manhã:
Odisséia Carvalho — “O procurador-geral da República, Paulo Gonet, denunciou Bolsonaro e mais 33 aliados ao Supremo Tribunal Federal (STF) na noite de terça-feira (18), pelos crimes de organização criminosa, abolição violenta do Estado Democrático de Direito e golpe de Estado. Essa denúncia histórica leva o Partido dos Trabalhadores a fazer, mais uma vez, a defesa enfática da democracia, do Estado Democrático de Direito e a colocar um ponto final em qualquer tentativa de anistia aos golpistas.
A denúncia apresentada por Gonet mostra com muita habilidade como o golpe começou a ser tramado desde 2021, quando Bolsonaro ameaça não reconhecer os resultados eleitorais de 2022 e usa o desfile de 7 de setembro para atacar o STF. Além do já conhecido plano que envolveria o assassinato de Alexandre de Moraes, Geraldo Alckmin e do presidente Lula.
O nosso país não pode ser refém do golpismo que já desrespeitou resultados eleitorais tantas vezes ao longo da nossa história. Esse é um passo importante e didático para todos aqueles que ousarem desafiar a democracia brasileira. Sem anistia! Cadeia já!”
Nelson Nahim — ”Como advogado e político não tenho dúvida que se o Bolsonaro quisesse de fato dar um golpe de Estado teria feito com a caneta na mão enquanto estava presidente. E mais, os atos de 8 de janeiro (de 2023) não podem ser considerados como tentativa de golpe contra o Estado de Direito; mas sim uma baderna, por sinal muito mal feita.
Condenar pessoas a 17 anos de prisão com esse argumento, aí, sim, fere de morte a nossa combalida democracia e tudo que estudei na nossa Faculdade de Direito de Campos 42 anos atrás”.
Sebastião Carlos Freitas — “Infelizmente, nosso Brasil continua sendo de poucos.
Brigas pelo poder, povo sendo usado e nada de positivo.
Triste ver um Congresso tão ruim, parcialidade no Judiciário e Executivo na mão de deputados que fazem bem somente para seus próprios bolsos.
Acredito que este momento passa também pela educação sucateada de um país onde governantes querem o povo cada vez com menos conhecimentos, para assim não serem contestados diante de suas ações absurdas.
Qual o número de brasileiros deve saber o que é orçamento secreto?
Como lulista, eu talvez deveria estar feliz em saber que o golpista, aquele mesmo que debochou de pessoas que morriam de Covid. Mas o momento do Brasil não é de felicidade.
Como Kakay (advogado aliado de Lula que divulgou carta pública com críticas ao isolamento do presidente e ao seu atual governo), também não posso fechar os olhos para o momento vivido pelo governo Lula, mas ver políticos como o senador Cleitinho (Azevedo, REP) e o deputado Nikolas (Ferreira, PL), conterrâneos de minha querida Minas Gerais, representando o povo no Congresso Nacional, é algo que me envergonha como mineiro!”