Lula pede telefone a Wladimir
A política real é sempre mais dinâmica que os dogmas de fé da militância. Que se espantou com os bastidores da visita de Lula (PT) para inaugurar o novo prédio da UFF em Campos na segunda (14). Quando o presidente pediu (confira aqui) o telefone de Wladimir Garotinho (PP), após saber que ele pode ser vice de Eduardo Paes (PSD), aliado de Lula, na chapa a governador em 2026.
Bacellar não descarta Wladimir
A quem ignora que parte do PT goitacá serviu como linha de apoio a uma candidatura de direita a prefeita de Campos em 2024, o espanto seria ainda maior. E não só à militância de esquerda. Ao saber que o apoio de Wladimir também não está descartado por outra pré-candidatura a governador: a do presidente campista da Alerj, Rodrigo Bacellar (União).
Lula quer falar com Garotinho
De fato, o espanto sobre a dinâmica da política real poderia até despertar a militância do sonambulismo. Se esta soubesse, por exemplo, que Lula disse Wladimir no palanque de inauguração do prédio da UFF: “Gosto muito do seu pai (Anthony Garotinho), mais ainda da sua mãe (Rosinha Garotinho). Mas a política afasta a gente. Precisamos voltar a conversar”.
Bolsonaros em compasso de espera
Do outro lado da bipolaridade política brasileira, Bacellar busca o apoio do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) à sua pré-candidatura a governador. Mas tudo em relação aos Bolsonaro ficou em compasso de espera com a nova cirurgia a que o ex-presidente teve que se submeter no domingo (13), ainda consequência da facada que tomou em 2018 de um militante.
Bacellar se reaproxima de Pampolha
Conhecido por sua capacidade de articulação, como pela determinação em busca dos seus objetivos, Bacellar não está em compasso de espera. E aproveitou o final de semana passado para reerguer pontes com o vice-governador Thiago Pampolha (MDB). A quem visitou, por conta do aniversário da filha, no sítio Lajedo, em Vargem Grande, na Zona Oeste do Rio.
Quem assume lugar de Castro?
Como a coluna antecipou (confira aqui) desde 12 de março: “É dado como certo que (Cláudio) Castro (PL) se desligará do cargo de governador em 2026, para se candidatar a senador ou a deputado federal. Se Pampolha também saísse, Bacellar se candidataria a governador já no cargo, com a máquina na mão. O que pesaria tanto ou mais que o apoio de Bolsonaro”.
Pampolha a governador?
Ao noticiar na quarta (confira aqui) o encontro entre Bacellar e Pampolha no último final de semana, o jornal carioca O Dia, no entanto, ressalvou: “Tem gente que vê esta aproximação como uma forma de Bacellar ajudar a pavimentar uma vaga de Pampolha no TCE-RJ. Aos amigos, Pampolha confidencia que não quer, e que concorrerá ao Palácio Guanabara de qualquer maneira”.
Daqui não saio?
Como a coluna também adiantou desde 12 de março: “Quem conhece a política fluminense, mas trabalha na oposição a Bacellar, diz que Pampolha é a encarnação da marchinha ‘Daqui não saio, daqui ninguém me tira’. Quem conhece a política fluminense e trabalha com Bacellar, aposta que o vice-governador só está valorizando o passe”.
Wladimir sai ou fica prefeito?
Como Castro, Wladimir receia ficar sem mandato. Por isso, ambos pensam em sair de seus cargos até abril de 2026, para se candidatarem em outubro do mesmo ano. Mas o grupo de Bacellar, o mesmo de Castro, também trabalha com a perspectiva de Wladimir ficar e concluir seu mandato como prefeito de Campos até 1º de janeiro de 2029.
Variáveis de 2026 a 2030
Caso Wladimir apoie Bacellar em 2026 a governador, este garantiria paz jurídica ao hoje prefeito de 2029 a 2030, quando disputaria uma nova eleição. O problema reside na confiança no cumprimento desse acordo. Cuja ruptura poderia brotar já na eleição a prefeito de Campos em 2028, caso Bacellar e Wladimir apoiassem nomes diferentes para suceder o segundo.
Bacellar x Paes pela política
Sobre a pacificação de Bacellar com Pampolha, O Dia também registrou na quarta: “Rodrigo agora trabalha por um grande arco de alianças visando às eleições de 2026”. De fato, o político de Campos é visto como um “candidato da política”. Enquanto Paes é encarado como político que se fia em seu trabalho como administrador, mas dá pouca entrada à política.
Aliados de peso de Bacellar
“Bacellar tem dialogado com lideranças dos partidos mais fortes do Estado” disse O Dia. Sua pré-candidatura a governador passa pelo apoio do deputado federal Altineu Cortês, presidente do PL no RJ, do ex-prefeito de Duque de Caxias Washington Reis (do MDB de Pampolha) e do presidente nacional do União, Antonio Rueda. Que costura por cima com o PP de Wladimir.
Bruno com Bacellar ou Caio com Paes?
A posição de Wladimir em 2026 tem duas possibilidades, sinalizadas por dois aliados do prefeito: o deputado estadual Bruno Dauaire (União) e o federal Caio Vianna (PSD). Licenciado da Alerj para ser secretário de Habitação de Castro, Bruno é pró-Bacellar. Já Caio é pró-Paes, a quem deve o exercício do seu mandato na Câmara Federal.
Bifurcação no Folha no Ar
Ao Folha no Ar em 28 de março, Bruno revelou (confira aqui): “Meu papel de cupido, que foi sempre equilibrar essas duas pessoas (Wladimir e Bacellar), cada qual com as suas características peculiares”. Ao Folha no Ar de 4 de abril, Caio projetou (conira aqui): “Wladimir com o Eduardo (Paes) seria uma chapa dos sonhos. Dificilmente haveria concorrência para bater essa chapa”.
Wladimir é a noiva cobiçada
Até as convenções entre julho e agosto de 2026, tudo são especulações à urna de 6 de outubro do mesmo ano, daqui a 17 meses. Período no qual, como advertia o sábio conservador Marco Maciel: “Tudo pode acontecer, inclusive nada”. Na dúvida entre Bruno ou Caio de padrinho, Wladimir hoje é uma noiva cobiçada por Paes e Bacellar. De quem até Lula quer o telefone.
Publicado hoje na Folha da Manhã.