Poder e ressentimento
Desde as Jornadas de Junho de 2013, ficou evidenciada a força das redes sociais na vida pública brasileira. Esta importância foi crescendo com as manifestações de 2015 e 2016 que levaram ao impeachment da ex-presidente Dilma Rousseff (PT). Assim como com a eleição de Jair Bolsonaro ao Palácio do Planalto em outubro deste ano. Bem verdade que esse novo poder deu luz a um ressentimento anti-intelectual e anti-mídia, naquilo preconizado pelo semiólogo Umberto Eco: “as redes sociais deram voz aos idiotas”.
Bonner e Homer
Em 2005, o jornalista William Bonner gerou polêmica ao dizer que fazia o Jornal Nacional para o Homer Simpson — personagem idiota da genial série de animação da Fox. O problema é que, a partir das redes sociais, todo Homer Simpson passou a se achar o William Bonner. O fenômeno é amplo. Em termos locais, a partir das eleições de 2016, passou a atingir até jovens políticos, inexperientes e mal assessorados, que julgavam possível governar uma cidade do porte de Campos a partir do seu Smartphone.
Consistência nas redes
Como Campos, entre suas várias potencialidades, é um orgulhoso polo universitário, as redes sociais também servem à cobrança de consistência dos que pretendem governá-la. Foi o caso recente do sociólogo Roberto Dutra, professor da Uenf. Militante da candidatura presidencial Ciro Gomes (PDT), a única que todas as pesquisas mostravam ter chance de derrotar Bolsonaro no segundo turno, Dutra faz parte da esquerda dotada de autocrítica, tão necessária ao equilíbrio das forças políticas do país, que emergiu do ocaso do lulopetismo.
Críticas a Caio
Sobre a eleição a prefeito de Campos em 2020, que parece abrir espaço a alternativas entre o prefeito Rafael Diniz (PPS) e o deputado federal eleito Wladimir Garotinho (PRP), o professor da Uenf foi bastante crítico em relação a uma delas: “Sério que o PDT de Campos vai lançar novamente Caio Vianna pra prefeito? (…) passou a campanha inteira deste ano tratando o PDT local como se fosse a extensão de sua casa. Não conseguiu um voto pro Ciro. O único ato para o candidato a presidente foi organizado por eleitores e este rapazinho (…) não deu as caras”.
Rumos do PDT
Na sua manifestação nas redes sociais, o sociólogo foi além, cobrando uma intervenção no diretório pedetista de Campos: “(o presidente nacional do PDT, Carlos) Lupi deveria intervir no diretório municipal e devolver o partido ao povo. Eu estava interessado em me filiar, e concordo que devemos disputar o poder dentro do partido. Mas disputar qualquer coisa com quem não tem identificação com o partido, não dá. Campos é uma cidade importante. (…) como Caio Vianna afastam a juventude que deseja entrar na política”.
Em 2016
Mesmo subtraída dos adjetivos mais fortes, a manifestação do professor Roberto Dutra merece contraditório do jovem político. Ao qual a coluna se coloca desde já aberta. Caio foi candidato a prefeito de Campos em 2016, chegou a liderar as primeiras pesquisas, mas naufragou quando perdeu o apoio do próprio pai, o popular ex-prefeito Arnaldo Vianna (MDB). No último debate do primeiro turno, o filho chegou a fazer dobradinha com o candidato rosáceo Dr. Chicão, naquilo que foi considerada uma aliança por baixo dos panos com o ex-governador Anthony Garotinho.
Em 2018
Em 2018, Caio só registrou sua candidatura a deputado federal pelo PDT no último dia permitido pela legislação. Sua votação foi pouco mais da metade de Wladimir, que se elegeu, e de Marcão Gomes (PR), engolido pelo tsunami Bolsonaro. O pedetista teve 21.017 votos, 18.900 em Campos. Boa parte se deveu à reconciliação com seu pai na campanha, trocada pela dobrada com a madrasta, Edilene Vianna (MDB), candidata a deputada estadual. Só que, na reta final, Caio rompeu o trato unilateralmente e apoiou o niteroiense Paulo Bagueira (SD) a estadual. Em resposta, Edilene usou as redes sociais e lançou Arnaldo a prefeito em 2020.
Publicado hoje (22) na Folha da Manhã
O que mais me espanta como idiota de redes sociais que sou, é esse Dna político passado de geração em geração. Sem falar na abnegação que deve acompanhá-lo,para que as crias de políticos como os Garotinhos e Viannas, Bolsonaros,os Collor de Mello,desejem tanto seguir a carreira e passos familiares. É uma das poucas atividades humanas em que o filho não deseja sair da sombra paterna. Ao contrário,quer aproveita-la e se possível,formar um pomar. O problema, às vezes, é a qualidade do fruto. Diretamente ligada à muda original.