Trump e Lula em videoconferência
A provar o quanto a política e a geopolítica são sempre mais complexas que a acefalia bipolar das redes sociais, os presidentes dos EUA e do Brasil, respectivamente, Donald Trump e Lula (PT) fizeram uma videoconferência na segunda (6). Em que a “química” entre os dois em 23 de outubro, quando se cruzaram na Assembleia Geral da ONU, parece ter voltado a se dar.
Videoconferência por Trump
Perguntado na Casa Branca se a nova conversa com Lula pode gerar uma revisão do tarifaço que os EUA impuseram ao Brasil, Trump respondeu: “Tive uma ótima conversa com o presidente do Brasil, que é um homem bom (…) Sim, vamos começar a fazer negócios. Em algum momento, ele virá aqui. Falamos sobre isso”.
Videoconferência por Lula
“Primeiro, acho que foi uma conversa extraordinariamente boa, entre dois presidentes de dois países importantes, das duas maiores democracias do Ocidente. Nós temos uma relação civilizada com mais de 200 anos de diplomacia (…) Nós ficamos de marcar para nos encontrar em torno de uma mesa” disse Lula em entrevista à TV Mirante, afiliada à Globo no Maranhão.
Marco Rubio pelos EUA
Na prática, Trump designou seu secretário de Estado, Marco Rubio, para dar seguimento às negociações sobre o tarifaço e as medidas restritivas aplicadas pelos EUA contra autoridades do Brasil. Enquanto a delegação deste será composta pelo vice-presidente Geraldo Alckmin, o ministro das Relações Exteriores, Mauro Vieira, e o ministro da Fazenda, Fernando Haddad.
Histórico de Rubio
Filho de refugiados de Cuba em Miami antes da Revolução Cubana de 1959, o ex-senador Rubio é considerado da ala ideológica do governo Trump. Desde que o governo deste assumiu em janeiro, o secretário de Estado dos EUA se pronunciou publicamente cinco vezes sobre o Brasil. Nunca citou Lula, mas já fez duras críticas ao ministro do STF Alexandre de Moraes.
Bolsonaro na pauta até setembro
Em 11 de setembro, com Bolsonaro condenado a 27 anos e 3 meses de prisão por tentativa de golpe de Estado, Rubio escreveu: “As perseguições políticas do violador de direitos humanos já sancionado Alexandre de Moraes continuam, já que ele e outros membros do STF decidiram injustamente prender Bolsonaro. Os EUA responderão adequadamente a essa caça às bruxas”.
Bolsonaro fora da pauta em outubro
O fato é que, se estava na carta com que Trump anunciou em 9 de julho as tarifas dos EUA ao Brasil, e se estava até o mês passado nas palavras de Rubio, o nome de Bolsonaro sumiu da pauta entre os dois países em outubro. O que, a despeito de qualquer negacionismo, é uma derrota do bolsonarismo.
Mudança de tom de Trump e Rubio em 2025
A mudança de tom por parte de Trump e Rubio não é novidade. Pode voltar a acontecer com o Brasil, caso as negociações entre os dois países desandem, como ainda apostam os bolsonaristas. E, de fato, já aconteceu entre o passado recente e o presente dos dois líderes do Partido Republicano dos EUA.
Tom de Trump e Rubio em 2016
Nas primárias republicanas que Trump e Rubio disputaram em 2016, o primeiro ganhou para ser candidato naquele ano a presidente do EUA. E se elegeu à Casa Branca pela primeira vez. Mas só depois de ser classificado de “vigarista” por Rubio na disputa interna. Ao que Trump respondeu chamando de “canalha” seu hoje secretário de Estado.
Publicado hoje na Folha da Manhã.