Pontos de vista e de ensino sobre jornalismo e publicidade

Embora tenha sido criado dentro de uma redação de jornal e milite há mais de 20 anos na Folha como jornalista, com participações bissextas em rádio e televisão, além da recente atuação como blogueiro, admito, por paradoxal que seja, que não sou grande consumidor de mídia. A bem da verdade, meu contato com as notícias de Campos, região, estado, Brasil e mundo, se limitam à leitura diária dos jornais impressos de Campos (hoje, apenas dois), de O Globo, além da audiência do Jornal Nacional — esta quase sempre entrecortada com a edição da Folha do dia seguinte. Muito raramente ouço rádio e, residindo em Atafona, a intencional falta de antena deixa minha TV circunscrita à exibição de filmes de ficção e documentários em DVD.

Quando quero assistir a um jogo de futebol ou basquete, ou então a uma luta, o faça na casa de meu pai. E mesmo atuando em dois blogs, um deles dedicado à poesia e clamando por retomada das atividades, não tenho hábito de ler opiniões e notícias pela internet. Meu tempo livre costumava ser dedicado à leitura, mas de livros, hábito também tátil e olfativo, além de visual, do qual não consigo me libertar.

Não por outros motivos, apenas no final de semana fui atualizar minha leitura do blog Ponto de Vista (aqui), do Christiano Abreu Barbosa. E foi ali que me deparei com dois textos (aqui e aqui) tratando do assunto jornal: um sobre a decadência do carioca O Dia, outro sobre a substancial venda de anúncios da Folha na edição de aniversário de Campos, em oportuna analogia com a crise financeira que condenou o Monitor Campista a encerrar sua atividade centenária.

Em sua estréia como blogueiro, já havia dito que, em prosa, Christiano sempre escreveu melhor que eu. Pois após a leitura das suas duas análises profundas, diretas, equilibradas e didáticas, cheguei à orgulhosa conclusão de que ele também entende muito mais de jornal do que seu irmão que vive de fazer jornal.

Ao contrário de muitas Cassandras da mídia, reproduzidas em escala geométrica com o advento dos blogs, diria que, ao lado do jornalista Guilherme Belido, titular do site Opinião (aqui), Christiano é hoje a pessoa em Campos que mais entende do assunto jornal, em todas as suas muitas nuances. Para quem dúvida tiver, recomendo a leitura dos posts trancritos abaixo, cuja análise poderia fazer parte de qualquer curso superior de jornalismo e publicidade, sobretudo aos oferecidos localmente pela Fafic, cujos formandos e formados têm a preparação ao exercício da profissão sempre construída na prática…

 

Bombou de anúncios

Por Christiano, em 29-03-2010 – 23h18

A edição da Folha da Manhã de ontem, ajudada um pouco pela Páscoa e a data comemorativa ao aniversário de Campos, estava absolutamente lotada de anúncios, em sua imensa maioria de clientes privados. A edição de sábado já tinha bombado de publicidade também.

Entre os anúncios, destacaram-se: 1 página da TIM, 1 página do Alpha, 1 página do Colégio Regina, 1/2 página do Shopping Avenida 28, 1/2 página dos 175 anos de Campos, 2 páginas de volume de anúncios variados de Páscoa e aniversário da cidade, 1/4 página do Grupo IMNE e 1/4 página da Fundação Getúlio Vargas.

Entre os clientes públicos, destacaram-se: 1 página do Governo do Estado, 1/2 página da Prefeitura de São João da Barra e 1/4 da Alerj. Isto fora os anúncios privados normais no noticiário, colunas sociais e classificados.

A receita para isto parece ser simples: uma ótima equipe de redação -> conteúdo de qualidade -> procura por leitura -> inúmeros assinantes + leitores de bancas -> grande circulação -> retorno para os anúncios -> departamento comercial bom e guerreiro -> vários anunciantes.

Parece simples, mas não é. Muitos tentam e acabam não conseguindo por inúmeros motivos, especialmente por não entender que jornal sem anúncio não sobrevive.

Um bom exemplo foi o Monitor Campista, que teve, durante anos, bom projeto gráfico, excelente impressão feita no Rio, ótima equipe de redação (talvez seu ponto mais forte), bons colaboradores, o melhor contrato publicitário da cidade e acabou encerrando as suas atividades, por nunca ter conseguido circulação minimamente relevante e clientes para anunciar, se acomodando em um frágil contrato único.

Veja abaixo o belo anúncio de 1 página da TIM, parabenizando Campos pelo seu aniversário, publicado ontem na Folha. Os membros do Blue Man Group, grupo famoso internacionalmente que estrela as campanhas da companhia telefônica, têm um bolo de aniversário desenhado na cabeça. Uma menina vestida de princesa sopra para apagar as velas, gerando belo efeito visual.

TIM

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O Dia – do auge à decadência

Por Christiano, em 02-04-2010 – 21h03

O Dia pertenceu durante décadas ao ex-governador Chagas Freitas. Era um jornal extremamente popular, com muito sangue na capa. Vendia, nesta época, em torno de 180.000 exemplares diários. Sua grande transformação começou com a venda para Ary Carvalho, em 1983.

Em 1987, Ary fez uma grande reforma gráfica e editorial em O Dia, investindo pesadamente em bons profissionais, qualificando sua redação, trazendo um visual moderno, com muitas cores para suas páginas, e muitas promoções. A resposta dos consumidores foi imediata, levando o jornal a inimagináveis 900.000 leitores no domingo.

Junto com a circulação, veio o faturamento. E junto do crescimento, veio o incômodo ao gigante O Globo. A concorrência levou O Globo a se mexer, mudando o seu visual e investindo em equipamentos e melhorias gráficas, levando mais cores para as suas páginas.

ExtraPorém, o tiro certeiro da Infoglobo, que edita o jornal O Globo, veio 11 anos depois, em abril de 1998, com o lançamento do Extra. O novo jornal popular, voltado para a classe C e com muitas promoções, foi criado exatamente para brigar com O Dia e tirar O Globo desta briga, colocando-o num patamar de jornal mais qualificado.

Já em seu lançamento O Extra alcançou a tiragem de 110.000 exemplares. Pouco a pouco foi conquistando leitores de O Dia, até ultrapassa-lo como jornal de maior circulação do estado, alcançando depois o título de jornal com mais leitores no país.

Em dezembro de 1998, O Globo inaugurou o maior parque gráfico da América Latina, dando capacidade industrial folgada para todos os seus projetos de crescimento.

Com o falecimeto em 2003 de Ary Carvalho, as três herdeiras Gigi, Eliane e Ariane iniciaram um disputa pelo controle do grupo. Ariane assumiu a direção, mas depois perdeu o posto no ano seguinte para um suposto e ilógico rodízio entre elas. Gigi assumiu o posto.

Meia-HoraPara combater o Extra, O Dia lançou o jornal popular Meia-Hora, em outubro de 2005. A idéia era posicionar o Meia-Hora para brigar com o Extra, deixando caminho aberto para O Dia brigar com O Globo. O Meia-Hora foi um sucesso de circulação, conquistando grande números de leitores.

Tiro certeiro? Não, tiro no pé. O Meia-Hora tirou leitores do Extra, mas tirou muito mais leitores de O Dia, canibalizando o mercado e levando o Grupo O Dia a perda de publicidade.

ExpressoEm março de 2006, a Infoglobo lança o Expresso, para combater o Meia-Hora. A idéia foi posicionar o Expresso para brigar com o Meia-Hora nas classes C e D, o Extra para brigar com O Dia nas classes B e C (maioria), deixando O Globo sem concorrentes nas classes A e B.

A Infoglobo teve sucesso em sua estratégia. O Extra e O Globo, voltados para classes distintas, continuaram na disputa pela liderança no estado, seguidos em distância segura pelo Meia-Hora, enquanto O Dia iniciou uma queda sem fim de circulação e faturamento.

ExtraExpressoO Globo

 

O DiaSem rumo, O Dia ainda fez uma desastrada mudança de formato, saindo do standard e migrando para o berliner, tamanho similar ao tablóide, e lançou o jornal O Campeão, em outubro de 2009, fracasso de vendas. Já sem alternativa, Gigi deixou a direção em janeiro deste ano, preparando o terreno para a venda anunciada ontem.

A missão do grupo português, novo dono de O Dia, é reverter o quadro desfavorável. O IVC de fevereiro mostrava, no estado do Rio: Extra em 1º (3º no país) com 272 mil exemplares, O Globo em 2º (4º no país) com 251 mil, Meia-Hora em 3º (8º no país) com 144 mil, O Dia em 4º (18º no país) com 56 mil.

Para se ter uma idéia da crise atual, o jornal Meia-Hora perdeu 75 mil leitores em 1 ano, enquanto O Dia decresceu 36 mil.

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Este post tem 3 comentários

  1. Rogério Carlos

    Boa tarde,
    È um descaso com a população que Ilsan viana ser colocada como vereadora, pois sao do tipo dela que quase afundaram a prefeitura de campos, e as pessoas que tem ou que é afavor dessas pessoas, são pessoas que tinham algo junto com eles tambem, sou estudante de engenharia e trabalho na petrobras e tenho acompanhado essa politica errada que campos tem nos ultimos seculos, campos precisa mudar muito, uma cidade tão rica ,mas, tão pobre, andando pelas ruas vemos o discaso com as pessoas, transito um “caus” buracos em toda as cidade, bueiros abertos na 28 de março. Campos precisa levantar pessoas serias, que realmente quer que a cidade cresça e não fique parada que jeito que ha praticamente uma decada e meia vem sofrendo. Campos precisa de governantes serios!!!!!

  2. newton guimaraes de almeida

    Caro Rogério e quem é sério neste País ?Com um presidente que é uma piada,vc que trabalha na Petrobrás,corre risco de vida,salários achatados,tá vendo o que essa corja de bandidos em Brasília quer fazer com a nossa única e lucrativa estatal? Não concordo é em falar isso de Ilsan pois,citando um exemplo,no governo de Arnaldo a Apic ,no comecinho,pois antes ela botou a mão na massa para inaugurar o Trianon,já inaugurado inacabado,mas na APIC ela deu uma Geral e sempre funcionou bem e me disse,diante do espanto como jornalista,de ver a casa um luxo,”Newtinho,pobre merece tratamento melhor e a reforma foi feita reciclando móveis,ela trazendo até coisas de casa.E no Planejamento ela reformou e criou prédios para atender diversos programas.”Meninos do Amanhã” tinha até natação com piscina semi-olímpica e treinadores,o que tem hoje? Att;newtinho guimaraes

  3. Aluysio

    Caro Rogério,

    Creio que seu comentário se destinava a algum dos posts acima, que tratam da posse de Ilsan como vereadora, bem como dos seus primeiros passos na Câmara.

    Abraço e grato pela colaboração!

    Aluysio

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