Por que Câmara se negou a debater cultura de Campos?

Se a última semana começou animadora à cultura de Campos, com a proposta do vereador de oposição Rafael Diniz (PPS) assinada também pela governista Auxiliadora Freitas (PHS), no sentido de se promover na Câmara uma audiência pública para se discutir as questões culturais do município, é a mesma semana que termina desesperançosa para quem ainda acredita que o debate seja livre ou capaz de mudar algo na realidade goitacá. Não só o pedido de audiência foi esmagado pelo “rolo compressor” governista, na quarta, depois do ainda inexplicável esvaziamento da sessão de terça, comandado pela vereadora Linda Mara (PRTB), ex-secretária da prefeita Rosinha (PR) e conhecida por sua proximidade com a presidente da Fundação Cultural Oswaldo Lima, Patrícia Cordeiro, como também uma reunião que chegou a ser marcada para amanhã, pelo superintendente de Patrimônio Orávio de Campos, para debater a cultura de Campos com aqueles ouvidos na série de entrevistas da Folha Dois (estampada acima), acabou sendo cancelada, por conta de um acidente pessoal, felizmente sem gravidade. Sobre “a história do que poderia ter sido”, como disse o poeta português Fernando Pessoa, mas que não pôde ser, como determinou a realidade sem poesia de Campos, Adriano Moura, Deneval de Azevedo Filho, Arthur Soffiati, Cristina Lima, José Sisneiro, Antonio Roberto Kapi, Ricardo André Vasconcelos e Cristiano Pluhar voltaram a se manifestar:

Adriano Moura, poeta, dramaturgo e professor
Adriano Moura, poeta, dramaturgo e professor

Adriano — “Quando soube  que os vereadores Auxiliadora Freitas e Rafael Diniz propuseram um diálogo sobre a cultura, entre a Câmara e a sociedade, pensei: enfim, nossos políticos amadureceram. Vinte e quatro horas depois fui informado que o debate não ocorreria, após a Câmara ser esvaziada no dia anterior. A pergunta é uma só: por que não discutir? O fato de a Câmara se negar a viabilizar a audiência, que contaria com representantes indicados pelos vereadores proponentes, prova apenas que alguma coisa deve estar muito errada na gestão cultural”.

Deneval de Azevedo Filho, professor e escritor
Deneval de Azevedo Filho, professor e escritor

Deneval — “A questão não tem mesmo nada a ver com a polêmica do casal Garotinho ser ou não ‘melhor’ para Campos, mas, sim, a traição dos que lutam por uma cultura mais planejada, com um Conselho, um Fundo de Cultura e ações concretas que não sejam shows. Governam para mortos-vivos, ou, pelo menos, assim acham. Menosprezam as cabeças pensantes. Isso, aconteceu, por exemplo, quando a Câmara foi esvaziada. Não há liderança nenhuma. Ninguém manda lá. Quem manda é o deputado!”

Arthur Soffiati, historiador, professor, ambientalista e escritor
Arthur Soffiati, historiador, professor, ambientalista e escritor

Soffiati — “Saudei a iniciativa da Câmara de promover audiências públicas sobre os mais diversos temas. Participei de duas: dos canais da Baixada e do MST. Que eu saiba, todas transcorreram em tranquilidade. Por isso, estranhei muito que a bancada governista tenha bloqueado o pedido de uma audiência para debater a cultura. Há algo a temer? Será que as audiências são só consentidas quando se referem aos governos federal e estadual? Será mesmo necessário blindar o governo de avaliações que visam colaborar ao seu aprimoramento?”

Cristina Lima, professore e ex-presidente da FCJOL
Cristina Lima, professore e ex-presidente da FCJOL

Cristina — “Lamentável que se tenha perdido uma excelente oportunidade de se estabelecer o diálogo sobre um tema tão relevante como a cultura, especialmente quando ele teria sido proposto numa cidade de tradição cultural como a nossa. Depois de 20 temas diversos já terem sido levados a efeito, em audiências públicas na Câmara, rejeitar o debate sobre a cultura deixa um gosto amargo de desinteresse, descaso e desrespeito com a classe artística e a sociedade, como um todo. Tenho convicção de que o debate se daria no seu mais alto nível”.

José Sisneiro, diretor de teatro
José Sisneiro, diretor de teatro

Sisneiro — “Antes de mais nada, não acho absurdo um gran-de fazendeiro contratar um grande artista para um encontro entre amigos. O que está acontecen-do? Há um grande comprador de mentes pairando sobre uma faixa territorial do nosso país. Há um messiânico que segue à risca as lições de Maquiavel. Ao perguntar o que um conhecido meu estava fazendo, obtive a seguinte resposta: ‘Está construindo uma suástica diferente’. Sonha em ser o Imperador da Babilea e usará de toda  sua inteligência em artifícios para realizar esse sonho”.

Antonio Roberto Kapi, diretor teatral e poeta
Antonio Roberto Kapi, diretor teatral e poeta

Kapi — “Cheguei a acreditar que com a assinatura de Auxiliadora a audiência estaria garantida. Ledo engano! Estou indignado com essa atitude covarde e desrespeitosa. É triste constatar que o teatro só serviu de trampolim para o casal e que vereadores da situação não passam de fantoches nas mãos deles. É desalentador ver o estágio em que o município chegou. Acho que a classe artística deveria se unir e botar o bloco na rua, reivindicando que a audiência aconteça”.

Ricardo André Vasconcelos, jornalista e ex-secretário de Comunicação de Campos
Ricardo André Vasconcelos, jornalista e ex-secretário de Comunicação de Campos

Ricardo — “A rejeição da audiência pública pelos vereadores que servem a Rosinha foi um tiro no pé: uma confissão pública de que algo de errado se esconde nos porões do Palácio da Cultura; e parece um segredo tão frágil que não resiste a uma discussão pública e honesta. Politicamente foi uma burrice. O veto deu mais munição, não só à bancada de oposição no Legislativo, mas também ao que resta da sociedade civil não cooptada. Coisa de amadores(as). Foi o triunfo efêmero da mediocridade”.

Cristiano Pluhar, historiógrafo e escritor

Pluhar — “Justificativa cansada. O garotinhocentrismo é tão arrogante que não aceita questionamento. Sempre se põe no papel de vítima.  As opiniões dos vereadores situacionistas evidenciam o cabresto alienador.  O esvaziamento da sessão da Câmara dos Vereadores de Campos dos Goytacazes é o toque de recolher; a retirada da solicitação por parte da cadeira governamental é a patetice da intelectualidade, termo repugnante, política campista”.

Publicado na edição impressa da Folha de hoje.

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Este post tem 2 comentários

  1. santos

    Várias versões para o mesmo tema:”E assim caminha a humanidade.”

  2. leonardo

    PORQUE O POVO DE CAMPOS NÃO TEM CULTURA, É IGNORANTE, E POR ISSO É DOMINADO PELOS MAUS POLÍTICOS E IGUALMENTE IGNORANTES.

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