Confesso, não sem algum constrangimento, que não li a edição dominical de O Diário de ontem (29/09), nem em versão online, nem impressa. Só hoje, lendo aqui o blog “Eu penso que”, do jornalista Ricardo André Vasconcelos, fui saber da existência da entrevista concedida pela presidente da Fundação Cultural Jornalista Oswaldo Lima (FCJOL), Patrícia Cordeiro, ao jornalista Paulo Renato Porto, também assessor de imprensa da mesma Câmara Municipal que negou a audiência pública para debater a cultura do município (relembre aqui e aqui). Patrícia abriu a entrevista dizendo que não a estava dando com o objetivo de se defender das muitas críticas que a cultura goitacá vem sofrendo. E o fato é que nem precisou, pois não foi confrontada com nenhum desses questionamentos por quem se propôs a entrevistá-la. Pelo contrário, entrevistador e entrevistada parecerem bem ensaiados ao não perguntar e não responder sobre qualquer questão mais delicada para a segunda, na tentativa parcial, que deveria ter sido evitada pelo primeiro, de desqualificar as muitas críticas à política cultural do município, simplesmente creditando-as a uma suposta “minoria”.
E o que é pior, como a endossar as dificuldades para se falar claramente dos números (e cifras) nos quais se traduzem atual cultura pública de Campos, não souberam nem contabilizar direito o que tentaram menosprezar como “minoria”, resumida por Patrícia em “seis pessoas”, quando só aqueles que se manifestaram em entrevistas neste blog e na Folha Dois, todas trazendo apontamentos críticos ao setor por ela comandado, já foram nove. A conferir:
1) Artur Gomes joga pedra na cruz em defesa da arte na cultura pública de Campos
2) Adriano Moura — O artista não é apenas uma vítima na cultura de Campos
3) Deneval Azevedo: “Estão traindo a cultura de Campos”
4) Arthur Soffiati: “Desde 1989, a cultura de Campos é populista e autoritária”
5) Cristina Lima: “Concentrar poder na cultura de Campos é temerário”
6) José Sisneiro: “O dinheiro da Prefeitura funciona como cabresto”
7) Todas as vertentes da cultura são atendidas em Campos? “É mentira!” (Antonio Roberto Kapi)
8) Ricardo André: “Cultura no governo Rosinha só a da gastança”
9) Demitido após crítica revela como a Cultura de Campos é por dentro (Cristiano Pluhar)
Antes de republicar a entrevista amiga (da entrevistada), Ricardo André enumerou alguns dos assuntos nela solenemente sonegados, mesmo em se tratando de despesas questionáveis e bancadas com dinheiro público, que este “Opiniões” pede licença para transcrever abaixo:
— a contratação de R$ 2 milhões em shows no verão 2013
— o pagamento à Working Empreendimentos de R$ 501 mil para aluguel de palcos (reveja aqui), sendo R$ 347 mil só para a Festa de São Salvador (aqui).
— o show de Maria Bethânia por R$ 233.750,00, enquanto a arrecadação da bilhetaria do Trianon não passou dos R$ 50 mil (aqui).
— Por que pagou R$ 100 mil de cachê para apresentação de alguns passistas da Vila Izabel enquanto cada Escola de Samba do Grupo Especial só recebeu R$ 80 mil para colocar a agremiação inteira na avenida (aqui)?
A estes questionamentos, o blog adiciona outro, feito aqui pelo blogueiro Cláudio Andrade, que até agora permanece sem nenhuma resposta, seja da presidente da FCJOL, ou de quem seja do poder público municipal:
— E as denúncias, já formalizadas no Ministério Público, sobre favorecimento nas contratações municipais da banda A Massa, cujo percussionista, Lucas “Cebola”, é marido da presidente da mesma FCJOL encarregada dos contratos?
Antes da entrevista, uma necessária ressalva ao seu contraditório lead: “Se a democracia é o princípio filosófico que consagra e expressa a vontade da maioria”, quando qualquer debate, audiência pública ou entrevista é concebida para que só uma das partes tenha voz, visando falar apenas do que e como lhe convier, pretendendo resumir toda a discussão à exibição de um vídeo com “realizações”, seja para atender aos interesses da maioria ou de qualquer minoria, a democracia é personagem jazida logo à primeira cena, do primeiro ato. Afinal, como bem sabiam os antigos helenos ao inventarem a democracia e o teatro, fora dos palcos o monólogo só consagra e expressa uma única coisa: a oligarquia, ou “governo” (do grego “archein”) “de poucos” (do grego “oligos”). Em bom português: “fala quem pode, obedece quem tem juízo!”
Abaixo, confira apenas as respostas que quis dar a presidente da FCJOL, elevada a poder central de todo a cultura pública do município de Campos na última reforma administrativa da prefeita Rosinha Matheus (PR)…
Desafios da cultura em Campos
Publicado em 28/09/2013
Paulo Renato Pinto Porto
Se a democracia é o principio filosófico que consagra e expressa a vontade da maioria, a presidente da Fundação Cultural Jornalista Oswaldo Lima, Patrícia Cordeiro, se acha em posição confortável ao enumerar o conjunto de ações na área da Cultura em Campos, além do reco-nhecimento da maioria dos agentes culturais. Diante dos ataques de uma minoria que a acusa de preconceituosa, além de suspeita, por jamais ter encaminhado projetos à Fundação ou acenos em direção a propostas de entendimento, Patrícia argumenta que a política cultural do município tem avançado inclusive além do programa de governo apresentado pela prefeita Rosinha Garotinho (PR) para o setor. Nesta entrevista, ela rompe o silêncio ao argumentar que não falou antes porque seu trabalho não é pautado pelo que pensa uma minoria que se autodenomina a elite do pensamento cultural de Campos. “O que me deixa tranquila, mais estimulada a vencer novos desafios é que o programa de governo da prefeita para a área cultural tem sido implementado, rigorosamente. E nós temos buscado ir além em nossas ações, à medida que surjam ideias ou propostas interessantes, o que não tem ocorrido em relação a esse grupo de pessoas que busca apenas ataques sistemáticos ao governo. Sugiro que conversem com o conjunto dos agentes culturais que atuam em Campos sobre a nossa política cultural… À sociedade, devemos satisfação, não a um pequeno grupo que só tem por finalidade desgastar o governo, sendo que algumas delas se envolveram em desmandos da área cultural. Não vou me pautar por eles ou por quem usa a imprensa para me atacar ou ao próprio governo”, disparou.
O Diário (OD) – Como você se defende das críticas?
Patrícia Cordeiro (PC) – Eu não estou aqui para me defender, não preciso disso e nem o governo. Temos muitas ações e pouco tempo para nos preocuparmos. A resposta da população tem sido muito maior do que as provocações. Assumi esta responsabilidade e tenho plena consciência do que temos feito. A política cultural de Campos contempla um amplo espectro de produção em diferentes e múltiplas áreas.
OD – Você observa algum ranço elitista ou preconceituoso quando se trata dessas críticas?
PC – Muito, extremamente preconceituoso e tão estranho que a gente não espera de pessoas que se dizem modernas ou contemporâneas. As críticas partem de um grupo de pessoas inseridas num segmento localizado que nunca encaminharam propostas, que representa uma minoria. Até hoje nunca recebi um aceno qualquer para um entendimento que levasse ao encaminhamento de propostas na área cultural. Só recebo críticas que não são destinadas a mim, mas basicamente para atingir sistematicamente o governo.
OD – Como avalia a tal audiência pública que seria realizada na Câmara?
PC – A audiência, da forma como foi concebida, descobriu-se logo, tinha viés nitidamente político por se tratar de um debate que interessava às mesmas seis pessoas que têm criticado sistematicamente o governo na área da cultura. Não me interessa polemizar neste sentido com pessoas que têm ocupado sistematicamente espaço em certa mídia para criticar a política cultural do atual governo. A sensação é a de que esse mesmo grupo e essa mídia se comportam como se fossem um partido político.
OD – A sua postura não significa que esteja fugindo do debate?
PC – Pelo contrário, estou preparando um material em vídeo, com imagens e textos, que ainda não está concluído, para apresentar à sociedade, através da Câmara, que é a instância de representação legítima do povo. Não preciso ser pautada por eles… Quando ficar pronto (o vídeo), o dia que o presidente da Câmara me convidar, estarei pronta.
OD – Neste vídeo, se busca então mostrar a abrangência do trabalho na cultura, em todo o município e em seus diferentes polos e realidades…
PC – Sim, será mostrado todo um trabalho que estamos realizando em todas as vertentes. O que essas pessoas não entendem ou fingem não entender é que uma política cultural tem que contemplar as diferentes áreas. Será que eles sabem quantas pessoas estão sendo alcançadas? Nós temos produzido uma política cultural moderna e humanizada, sim. Uma política que busca despertar a sensibilidade das pessoas pela arte e pela cultura para buscarmos um mundo melhor. Sobretudo para as pessoas que mais precisam ter acesso a essas manifestações e a noção de nossa real importância como povo.
OD – Como tem buscado a formação de novas plateias?
PC – A Bienal hoje é um evento consolidado, quando homenageamos José Candido de Carvalho. E buscamos atrair o gosto pela leitura nos estudantes. O Departamento Literatura trabalha o desenvolvimento de conhecimento das crianças e professores da rede na temática de José Cândido. Hoje, seis crianças são treinadas para contar histórias de José Cândido, e a quantidade de público só tem aumentado. Nas artes cênicas, o curso livre de teatro já conta com alunos que montam espetáculos e já garantem uma plateia nova. Eles escolhem roteiro, figurino, cenário e direção, orientados por Neuzinha da Hora e a Maria Helena Gomes. Temos o plano de trabalho para o desenvolvimento Orquestra Municipal… Tanto a escola de teatro como a orquestra, pelo fato de serem grupos de jovens e adolescentes, já proporcionam a formação de novas plateias. Não houve uma apresentação da Orquestra que o teatro não estivesse totalmente cheio.
OD – A preservação do Patrimônio tem agora uma figura do porte do professor Orávio de Campos… Como avalia essa mudança?
PC – As obras do Centro Histórico são outras ações importantes com a preservação dos nossos casarões. Nesta área, como você disse, temos uma pessoa do peso de Orávio de Campos para implementar uma política sólida na questão do Patrimônio Histórico. São espaços de referência histórica que estavam se perdendo – como é o caso do Museu, que é um desafio nosso, mas já muito gratificante. A cada dia de visitação, quando você conversa com as pessoas, a gente sai de lá com o ego inflado do orgulho de ter nascido nesta cidade… Saímos de lá mais campistas, sem dúvida alguma.
OD – O que se ouve desses setores minoritários é que o governo não tem projetos de cultura, mas de shows, entretenimento…
PC – Uma mentira absurda. É óbvio que precisamos contemplar as pessoas que veem na arte um complemento, como um entretenimento. Mas há ações como um todo no município, com a integração dos distritos pela apresentação de shows onde valorizamos a “prata da casa” da forma mais ampla. Nas artes plásticas, o Trianon tem sua diretoria que ainda há pouco tempo realizou uma mostra na qual vários artistas foram premiados, além de uma agenda que contempla outras exposições. Outros três festivais literários estão em andamento, inclusive este ano superou todas as expectativas, com 501 inscrições de quase todos os estados. Tivemos uma semana em homenagem ao centenário de Vinicius (de Moraes), como faremos uma grandiosa homenagem ao centenário de Wilson Batista, no Dia Nacional da Cultural, em parceria com a Câmara, além de vários outros eventos. Há também o festival de teatro infantil, e muita coisa tem sido feita.
OD – Muito além dos shows e entretenimento…
PC – Política cultural feita com seriedade, com gestores na parte técnica e administrativa, mas dentro de uma política que comporta múltiplas manifestações na qual há pessoas que têm autonomia em suas áreas e estreita vinculação com as artes e a cultura, como é o caso de Maria Helena Gomes, Orávio de Campos Soares, João Vicente Alvarenga, que chegou agora… Então, são pessoas de diferentes áreas da cultura que têm uma folha de serviços e uma trajetória na área cultural de Campos. Agora, é fundamental que haja pessoas que atuem também na área técnica e administrativa, como tenho minha equipe, que é excelente e composta de pessoas responsáveis. Até porque é conveniente lembrar que a Casa que presido foi palco de desmandos que trouxeram para Campos e os campistas sérios constrangimentos.
OD – Que, inclusive, não levaram Campos naquele momento às páginas dos segundos cadernos, mas às páginas policiais…
PC – O que essas pessoas deviam fazer é entrevistar empresas e agentes culturais que hoje trabalham com a Prefeitura de Campos que conheciam a realidade anterior e são testemunhas da diferença entre este governo e as realidades anteriores, de outros governos.
OD – Voltando à questão dos shows e eventos, não fosse essa programação que já está consolidada, porque caiu no gosto popular, Farol não é só eventos, mas esportes, turismo…
PC – Da forma como a gente concebeu a programação do Farol, a política ali é bem abrangente, porque envolve a praia no seu vigor econômico ou no turismo, uma política de integração entre as secretarias de Limpeza e Serviços Públicos, de Desenvolvimento e Turismo, de Agricultura, de Esportes, que fazem o conjunto da programação tornar o Farol essa realidade de hoje.
OD – Você acredita que muitas dessas pessoas falam sem conhecer a realidade do Farol?
PC – Quando dizem que no Farol só tem shows, não tenho dúvida que essas pessoas não conhecem o Farol. Não conhecem o projeto “Aquele Braço” , o encontro de feras da MPB com artistas locais. Não ouvem as pessoas que se sentem gratificadas, nem sabem o que significam os eventos no Farol para toda Baixada e a população de Campos em sua grande maioria… Aliado aos shows, nós temos a Tenda Cultural, com eventos diários para as crianças, atividades circenses, oficinas de arte e ofício, de contação de histórias. Temos programação para os idosos e, o mais importante: não há um só evento que não supere expectativa de publico. E isso é imensamente importante para nós. A programação do Farol envolve educação, desenvolvimento econômico, ações que têm uma abrangência muito maior do que o olhar maldoso de quem fica lá de Búzios querendo dar opinião aqui…
OD – A propósito, o carnaval de Campos passa por uma transformação em termos e organização, uma ruptura com um passado, quando pessoas recebiam subvenções sem prestar contas… Eles têm uma grande responsabilidade em produzir um espetáculo à altura do Cepop, que é uma obra conceitual, moderna e abrangente.
PC – O Cepop é hoje um espaço multiuso, conhecido nacionalmente, onde alguns artistas já requisitam como cenário para gravação de DVDs, um espaço privilegiado, que marca por sua grandiosidade, sua arquitetura… Temos realizado o Festival do Folclore, que tirou o boi pintadinho de um gueto no carnaval. Hoje é uma manifestação cultural que ocupa o seu espaço dentro de processo de discussão que está aberto a outras manifestações, como o jongo e a mana chica… Além de tudo, o Cepop contempla outras atividades no projeto, como as festas cívicas e populares, as outras manifestações, além de oficinas de carnaval escola de artes, cenários e figurinos. Neste desafio contamos com a presença do Milton Cunha, uma figura extraordinária, conhecida nacionalmente. O que deixa a gente triste é que nosso trabalho tem sido mais reconhecido fora de Campos, mais do que entre certas cabeças daqui…
OD – E o carnaval?
PC – Antes, não era uma pessoa de representatividade no carnaval, mas a partir do momento em que assumi essa minha responsabilidade na fundação, foi de forma tamanha a profundidade do meu envolvimento. Não preciso de corrente nenhuma ou de bravata para explicar esse meu envolvimento, em tudo que faço é assim, não foi diferente. Nos governos passados, faltaram gestão e sensibilidade com o carnaval. Hoje o espetáculo tem tudo para deslanchar com outro nível de organização, com um novo olhar para essa expressão do nosso povo, onde estão as pessoas mais criativas. Tenho aprendido muito com eles, com as críticas, a paixão, o poder de superação e o envolvimento das comunidades. O traço de negritude dessa gente, essas potencialidades, nos leva a crer que o carnaval é uma atividade da maior importância.
essa senhora tem que falar, do esquema que o seu marido lucas cebola tem na secretaria que ela atua, o esquema é muito grande de contratações de bandas locais, no quais ele mesmo tem 5 bandas so com nomes diferentes mais os integrantes incluindo ele são os mesmo, so muda o nome para nao chamar atençao, quero que ela eclareça isso para população meu dinheiro nao e lixo para esta na mao de uma (trecho excluído pela moderação).
Todos tem que dar o braço a torcer pela sua primeira resposta…
“Eu não estou aqui para me defender, não preciso disso e nem o governo…. A resposta da população tem sido muito maior do que as provocações.”
Cadê a resposta do povo?
O povo está feliz com a administração que temos?
Se não está, porque não se revolta?
Não ter saúde para seus entes queridos, nem educação para seus filhos…vale a pena se vender???
O povo de Campos precisa tomar vergonha na cara e aprender que se não fosse um vendido e tivéssemos um administrador de verdade, não teríamos a porcaria de cidade que temos.
Campos dos Goytacazes Último Lugar no IDEB, não precisa falar mais nada.
Estarei entre as pessoas criticadas pela Presidente da Fundação Cultural Jornalista Oswaldo Lima, Patrícia Cordeiro, por considerar publicamente, no jornal Folha da Manhã, que a política cultural iniciada por Garotinho, em seu primeiro mandato e seguida por todos os prefeitos até hoje, é populista e autoritária? Creio que sim. Mas, se não estou, entendo meus comentários pertinentes.
Em entrevista concedida ao jornal O Diário, nitidamente conduzida pelo entrevistador para que as respostas fossem sempre triunfalistas, Patrícia Cordeiro considera todos os críticos do atual governo como integrantes de uma oposição política e partidária. Ora, todo debate público no contexto da Modernidade e da Pós-Modernidade, é político, embora não seja necessariamente partidário. Patrícia Cordeiro parece ignorar esta distinção. Mesmo que fosse partidária, qual o problema? Só o governo pode ser partidário. Certa vez, Garotinho recebeu um grupo constituído por ele em seu segundo mandato a prefeito por sugestão do Vereador Edson Batista. A finalidade desse grupo era oferecer o projeto de um arquivo histórico para Campos. Eu fazia parte dele. Diante de todos, o prefeito externou sua preocupação com a partidarização da sociedade e me perguntou o que eu achava desse fenômeno. Meus colegas de grupo suplicaram, antes do encontro, para que eu não abrisse a boca. Mas, como ele me dirigiu a pergunta, seria indelicado não respondê-la. Então, ponderei que, não considerava a partidarização um perigo, a partir das premissas do próprio Garotinho externadas em outro momento. Expliquei que nunca fui partidário, mas não tinha contra pessoas que assumiam posição partidária. Ora, Patrícia Cordeiro, ao criticar o grupo como político (creio que ela quis dizer partidária), não reconhece que ela faz parte de um governo partidário e que ela própria é partidária? Se ela tem este direito, por que outros não o terão?
Sempre distante dos partidos, fui membro do Conselho de Cultura instituído pelo Prefeito Raul David Linhares Correa no longínquo ano de 1979, quando Patrícia Cordeiro talvez ainda não tivesse nascido. Ajudei a formular o I Plano Municipal de Cultura e conseguimos do prefeito a destinação de verba modesta para implementar o Plano. Contudo, os recursos foram destinados a outros fins. Na minha independência, desliguei-me co Conselho em sinal de protesto, lavrado numa carta ao Prefeito e ao Presidente da instituição.
Foi assessor do Departamento de Cultura de Campos entre 1986 e 1988, durante o último governo de José Carlos Vieira Barbosa. Durante os 18 meses ocupando um DAS-9, pude planejar uma política cultural democrática contemplando as vertentes patrimonial e de produção cultural, distinguindo infraestrutura de cultura de eventos culturais e procurando tanto verticalizar a cultura quanto horizontalizá-la. Nesses 18 meses, recebi apenas 2 meses e acabei me afastando do cargo por entender que o prefeito fazia cultura no varejo.
Quando Garotinho assumiu seu primeiro mandato, tive oportunidade de fornecer a ele propostas estruturadas sobre cultura. Elas foram engavetadas. Em 1991, o governo Garotinho sabotou o anteprojeto original do Plano Diretor, mas, por descuido, ficaram dois artigos relacionados a patrimônio cultural. Quando se anunciou a demolição do Cine São José, listado num dos artigos como bem a ser tombado pelo município, ofereci ao Ministério Público Estadual notícia que resultou num Inquérito Civil Público. Pois foi por pressão do MPE que o COPPAM foi criado e que os bens listados no Plano Diretor, bens esses que passaram para o Plano Diretor de 2008, foram tombados recentemente, inclusive, ironicamente, o Solar do Chacrinha.
Revelo também (para Patrícia Cordeiro, desconhecedora do que acontece na sua área, tudo é revelação), que, nos anos de 1980, propus ao Conselho Estadual de Tombamento e ao Instituto Estadual do Patrimônio Cultural o tombamento dos prédios do Liceu de Humanidades de Campos, do Hotel Amazonas, da Lira de Apolo, do Solar do Visconde de Araruama (onde hoje se aloja o Museu de Campos) e o Hotel Gaspar. Todos foram tombados. Mais tarde, fiz parte de um grupo que propôs ao Inepac o tombamento do Canal Campos-Macaé e do Córrego do Cula, ambos tombados em 2002. Bem que o desejo da Prefeita é cobrir os dois para ganhar espaço urbano onde possa instalar quinquilharias que ele entende como cultura.
Quanto ao Farol de São Tomé, também revelo que propus a minuta para a criação da Área de Proteção Ambiental do Lagamar, que o ex-prefeito Arnaldo Vianna transformou num centro de espetáculos. E tudo fora de governo e de partido político. Será que Patrícia continuará servindo à cultura quando sair do governo ou voltará aos seus afazeres domésticos? Tenho uma história de serviços à cultura municipal e regional antiga, assim como os outros entrevistados. E, no empenho de se defender e ao governo que serve, Patrícia Cordeiro usa o conhecido e fácil artifício de se voltar para o passado e acusar os antecessores de Rosinha. Ora, os antecessores de Rosinha, depois da propalada mudança de paradigma político, em 1989, foram Garotinho, Sérgio Mendes, Garotinho novamente, Arnaldo Vianna e Alexandre Mocaiber. Com exceção do último, todos foram eleitos por Garotinho. Portanto, Patrícia não se contenta em dar um tiro no próprio pé, como sai atirando nos pés dos desafetos de Garotinho, mas que um dia foram unha e carne com ele.
Patrícia Cordeiro levanta um rol de estultices, mostrando que não está à altura do cargo. Não sabe a diferença entre eventos culturais e infraestrura de cultura, leva a sério manifestações populares que infelizmente foram esvaziadas pela cultura de massa e usa conceitos completamente ultrapassados. Melhor parar por aqui.
Arthur Soffiati – Professor e historiador ambiental