Artigo do domingo — “Ou dá, ou desce” a meio milhão de campistas

Ou-dá-ou-desce

 

Uma mosca que estivesse presente na famosa “casinha na Lapa que papai deixou”, entre a noite do último domingo (23/03) e a madrugada seguinte de segunda, teria várias histórias para contar. E muitas foram as moscas presentes que zumbiriam, fora e depois dali, tudo que foi discutido na tensa reunião de mais de cinco horas, entre o deputado federal e pré-candidato a governador do PR, Anthony Garotinho, e quase todos os vereadores da base da prefeita Rosinha (PR).

Assim como faz na Câmara, onde se esforça para dar a aparência mínima de razão, até na defesa do indefensável, o líder da bancada governista Paulo Hirano (PR) foi o porta-voz do descontentamento generalizado dos vereadores da situação. Além de todos, sem exceção, julgarem estar sendo pouco valorizados, seja nas benesses do Executivo municipal, seja nas pretensões de muitos deles de se candidatarem a cargos mais altos em outubro, Hirano também se queixou da desorganização do governo Rosinha até para lhe municiar das informações necessárias para defendê-lo.

E o nível de organização no qual a coisa se encontra foi atestado por quem, de fato, toma todas as macro-decisões administrativas na Prefeitura de Campos. Confrontado com a cobrança dos vereadores, Garotinho se queixou de não ter sido procurado por nenhum deles, durante o atraso da votação de 7% de aumento dos servidores municipais, na sessão da Câmara do último dia 19 (relembre aqui). Se fosse, alegou que poderia ter concedido um reajuste maior de 10%. Ao que Hirano respondeu: “Porque muitas vezes eu ligo e você não atende, Garotinho”.

Mais que a engolida em seco de quem falou o que quis e ouviu o que não quis, como o aumento de 10% acabaria sendo finalmente anunciado (aqui) na última sexta (28/03), pelo casal Garotinho, na solenidade do Cepop para comemorar os 179 anos do município, fica a pergunta óbvia: por que cargas d’água (como aquelas que naquele mesmo dia inundariam a cidade) o reajuste de 10% não foi proposto desde o início, para ser aprovado pelo mesmo rolo compressor governista que nove dias antes havia imposto apenas 7%, sob protesto inútil dos quatro vereadores de oposição? Erro de cálculo? Incompetência? De quem?

De qualquer maneira, para se consumar a correção tardia e travestida de bondade com o servidor, que palco melhor do que Cepop, símbolo maior do desperdício do dinheiro público de Campos? Afinal, não é lá que ocorrerá, daqui a uns poucos dias, o carnaval fora de época do município, sem que nenhum cidadão ainda possa saber (confira aqui) quanto custou ao seu próprio bolso a folia do ano passado?

Os vereadores que negaram esses e quase todos os outros pedidos de informação da oposição, são os mesmos que na tensa reunião com Garotinho, apesar de queixosos, tiveram que entubar diante aos ditames do líder sobre quem será e não será candidato em outubro. Entre os edis, Hirano e Gil Vianna (PR) ganharam vaga para disputar a deputado estadual. Por sua vez, Jorge Magal (PR), pressionando para ver cumprido um acordo com Garotinho (aqui) que lhe garantiria presidir a Câmara Municipal no biênio 2015/16, ou se candidatar à Alerj em 2014, teve que se contentar em ser jogado aos leões numa disputa de pouquíssimas chances à Câmara Federal.

E para quem como Magal, ou Albertinho (Pros) — limado da disputa a deputado estadual, a não ser que seu partido apoie Garotinho a governador (aqui) —, ou qualquer outro dos 17 vereadores governistas que não tiver gostado, três dias após a reunião, a resposta do político da Lapa foi impressa, preta no branco, numa entrevista não assinada e publicada em O Diário, jornal que existe para ecoá-lo: “ninguém é obrigado a permanecer em um grupo político. Uma porta serve tanto para entrar, como para sair, e se não existe maçaneta enguiçada, ninguém terá dificuldade para acioná-la”.

E para garantir que o “ou dá, ou desce” de Garotinho aos parlamentares, temperando seu discurso de campanha para governador, fosse conhecido muito além da circulação do jornal, o primeiro caderno da edição, contendo a entrevista, foi no mesmo dia distribuído gratuitamente pelas ruas e atirado nos quintais das casas em vários pontos do município, em ato ilegal de campanha extemporânea à luz do dia (flagrado aqui), sob a completa passividade do Ministério Público e da Justiça Eleitoral de Campos.

Entre a covardia do um que submete e a dos 17 que se deixam submeter, resta saber até quando estarão submissos quase meio milhão de campistas.

 

Publicado na edição impressa de hoje da Folha.

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Este post tem 4 comentários

  1. Savio

    Só posso falar uma frase em relação aos vereadores teleguiados do Deputado-Prefeito:

    __BEM FEITO!

    Mas, em relação à população campista, só posso lastimar. Sim, porque cada cidadão deste município acaba atado a estes políticos sem personalidade.

    Se pudermos analisar pelo menos um lado bom de toda esta tragédia, é a possibilidade cada vez mais crescente, do povo perceber que está desamparado pelos políticos que elegeu.

    O emblemático “Bolo de Lama” nascido da percepção popular, se contrapondo ao “Bolo CEPOP”, é um sinal claro de aversão espontânea a todo este descaso às reais necessidades de uma população.

    Este é o preço que os vereadores de Campos irão pagar e que também refletirão nas eleições. Não há dúvida que o totalitarista Deputado-Prefeito irá colher os amargos frutos que tem semeado.

  2. carlinhos j.carioca

    Eu como cidadão o que mais me preocupa é essa forma de ‘manusear”o dinheiro nosso.Ora,não pode ser erro de cálculo ao passar de 7% para 10%,e sim muita incompetencia ou como mais provável a forma IRRESPONSÁVEL DE LIDAR com esse “montante fácil” que jorra na prefeitura.pura demosntração de falta de PLANEJAMENTO que essa administração irresponsável faz!Agora politicamente eu quero é que esses vereadores,incompetentes e súbitos se explodam,e que na próxima eleição eles saim de circulação!

  3. Welington Caetano

    O povo que recebe tijolos,sacolão etc, em troca de votos, merece. O eleitor é culpado.

  4. Clóvis Gonçalves

    O que eu acho curioso, que muitos campistas se renega até em pronunciar o nome deste cidadão. Este termo cidadão no meio policial,quer dizer (trecho excluído pela moderação), quanto mais votar, porém na hora (H, o homem ganha. Nós sabemos que a situação esta difícil, sem dúvida e que cem reais ajuda. Mas esta na hora do povo ter vergonha na cara, e valorizar o seu voto,mesmo porque a cidade esta cheia de papel higiênico usado.

    LUGAR DE POLITICO É NO FUNDO DO MAR.

    POLITICA NÃO É PROFISSÃO, DEVERIA SER UMA FUNÇÃO VOLUNTARIA, PORÉM ESCOLHIDA PELO POVO, MAS SÓ OS INTELIGENTES,E NO MÁXIMO DOIS MANDATOS. ASSIM ACHO EU QUE DIMINUIRÍAMOS A CORRUPÇÃO.
    OBS: FALTARIA CANDIDATOS.

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