Júlio César, Daniel Alves, Thiago Silva, David Luiz e Marcelo; Luiz Gustavo, Paulinho e Oscar; Hulk, Fred e Neymar. Esta é a escalação da Seleção Brasileira que mais vezes se repetiu neste séc. 21, incluídas as Copas de 2002 (da conquista do Penta), 2006 e 2010. Mesmo sem ter convencido nos dois primeiros jogos desta Copa de 2014, é o mesmo time que Luiz Felipe Scolari manda a campo hoje, às 17h, no estádio Mané Garrincha, em Brasília, para fazer o último jogo da fase de grupos. Seu adversário será uma seleção de Camarões já desclassificada e com currículo desabonador: quase não viajou ao Brasil por conta de uma discussão sobre prêmios, perdeu de 1 a 0 (descontados dois gols legítimos anulados) para o México e por 4 a 0 para a Croácia, teve jogadores do próprio time se agredindo dentro de campo, teve a investigação de manipulação de resultado para esse jogo contra o Brasil anunciada previamente pela própria Fifa (aqui), e não confirmou a escalação do seu principal nome, o atacante Samuel Eto’o.
Com a vaga às oitavas de final praticamente assegurada, o Brasil não poderia ter chance melhor para tentar ganhar confiança no próprio futebol e da torcida, antes de entrar na fase eliminatória. Apesar da novidade de hoje ser a volta do atacante Hulk ao time, após ter sentido um incômodo na coxa esquerda (aqui) que o tirou do empate sem gols contra o México (aqui), os titulares mais questionados por analistas brasileiros e estrangeiros têm sido o centroavante Fred e o o segundo volante Paulinho. Contra o atacante do Fluminense, pesam não só o jejum de gols, como a falta de mobilidade. Por sua vez, ao volante do Tottenham se cobra eficiência na transição da defesa ao ataque, além de servir como opção de homem surpresa na área adversária. Mas o fato é que, atrapalhados por contusões desde a conquista da Copa das Confederações de 2013, Fred e Paulinho não vieram de boas fases em seus clubes.
Tetracampeão brasileiro em 1994, o ex-jogador Raí chegou a sugerir (aqui) a substituição de Paulinho pelo reserva Fernandinho, além da escalação de Neymar como falso 9, barrando Fred. Dos maiores atacantes do futebol inglês em seus tempos de jogador, o hoje comentarista da BBC Alan Shearer chegou a dizer (aqui): “Fred está puxando o time para baixo e estou impressionado por ele ter jogado como titular nas duas partidas do Brasil. Ele não se mexe, não ajuda o time e o Brasil parece estar jogando com 10 o tempo todo. Ele não pode ser o centroavante de uma Seleção Brasileira num Mundial”. Foi duramente respondido em entrevista coletiva no sábado, na qual o lateral-direito Daniel Alves defendeu Fred e chamou de “babaca” e “antiético” o comentário do capitão inglês na Copa de 1998.
Se Fred e Paulinho precisam aproveitar a chance, o mesmo não é diferente para o próprio Daniel e seu companheiro na lateral-esquerda Marcelo, que até evoluíram do primeiro para o segundo jogo, mas ainda estão distantes do futebol que apresentam, respectivamente, no Barcelona e Real Madri. Oscar, que foi o melhor jogador brasileiro na vitória de 3 a 1 sobre a Croácia, não chegou a jogar mal contra o México, mas não voltou a brilhar. Guardadas as proporções devidas, o próprio Neymar também não conseguiu ser decisivo contra os mexicanos, como foi contra os croatas. Sem que Júlio César ainda tenha sido testado de verdade, quem está bem até aqui é a turma da defesa: os caros (e seguros) zagueiros Thiago Silva e David Luiz, e o incansável primeiro volante Luiz Gustavo.
Pressionados pela responsabilidade de jogar uma Copa do Mundo em casa, num ano de eleição presidencial projetado em calendário de “pátria de chuteiras” pelos donos do poder, a Seleção Brasileira mais vezes titular neste séc. 21 terá hoje à frente seu adversário mais fraco nesta primeira fase, para confirmar a liderança no Grupo A , enquanto México e Croácia se enfrentam no mesmo horário. Se o futebol brasileiro fluir e os gols saírem naturalmente, de preferência com um ou mais de Fred, o time pode embalar nos jogos eliminatórios. E o caminho não será fácil! Antes de enfrentar Camarões, já saberá se pegará Chile ou Holanda (que definem o Grupo B antes, às 13h) pelas oitavas. Nas quartas, poderá ter que encarar um campeão do mundo: Itália ou Uruguai. Nas semifinais, também há chance real de cruzamento com Alemanha ou França. Depois, a possibilidade que mais encanta (e assusta) é a Argentina, numa final em pleno Maracanã.
Mas em Copa, só existe um jogo: o próximo. Com obrigação de vitória e expectativa por uma boa atuação, ele é daqui a pouco, contra Camarões. Tudo correndo bem dentro de campo, o pior que poderia acontecer fora dele é a ressurreição do clima de “já ganhou”.
Se o Brasil já cometeu muitas falhas, inclusive consigo mesmo, ao sediar esta Copa, o fato é que sua Seleção de futebol terá hoje a última chance de acertar para quando não poderá mais errar.