Velocista improvável aos 30 anos e dono de um drible de canhota tão mortal quanto o de Messi, Arjen Robben foi o craque da Copa até as semifinais. Louis van Gaal pode ser um baú de papelão sem alça em dia de chuva, mas é também um tático brilhante, capaz de alterar esquemas de acordo com os adversários e de mudar placares com substituições durante o jogo. A bem da verdade, de todas as quatro seleções que ainda estão no Mundial, ou das 28 que já voltaram para casa, a Holanda é o time mai difícil de ser derrotado. Tem uma defesa sólida e um contra-ataque letal, conjunto que garantiu uma campanha invicta, desclassificada pela Argentina apenas na loteria dos pênaltis.
Mesmo que contasse com Neymar em forma e não tivesse sofrido a maior humilhação da história das Copas, diante do mundo e dentro da sua própria casa, nos 7 a 0 impostos pela Alemanha, seria uma parada indigesta para o Brasil, na decisão do terceiro lugar de logo mais, a partir das 17h, no estádio Mané Garrincha, em Brasília. Na escalação mais compacta, com Paulinho em substituição a Fernandinho e, sobretudo, com Ramires no lugar de Hulk, além da volta de Thiago Silva à zaga, o Brasil, pelo menos em tese, estará mais seguro na defesa. Bem verdade que a insistência em jogar com centroavante fixo, com Fred cedendo vez a Jô, para poupar o primeiro das vaias das quais foi vítima no vexame do Mineirão, demonstram que Felipão está mesmo superado para o futebol hoje praticado no resto do mundo.
Mas quer saber, e daí? Os 11 que entrarem em campo o farão já exorcizados da pressão eleitoral de uma “pátria de chuteiras” cuja presidente-candidata descartou todos os 23 na manhã seguinte à derrota, como “pior dos pesadelos” e com direito a confissões de ex-guerrilheira marxista diante à câmera yankee da CNN. Da mesma maneira, jogarão de grilhões rompidos com uma obrigação de vitória imposta pela arrogância dos comandantes que teriam de proteger-lhes fora de campo, mas que de lá trouxeram para dentro o dilema entre glória ou maldição, sob a expiação de uma pátria que só se lembra de sê-la de quatro em quatro anos.
Se, como pregou ontem seu capitão na coletiva (aqui), quem hoje jogar realmente buscar no campo a restituição de sua honra representando um país, será capaz de fazê-lo, independente do placar. Como sua metáfora, talvez não haja esporte mais fiel à vida do que o futebol. Com a única certeza do apito final em ambas, que a Seleção Brasileira consiga hoje encarnar o estoicismo de Marco Aurélio (121 d.C./ 180 d.C.), imperador e filósofo romano: “Levanto-me para retomar a minha obra de homem”.
Muito mais por eles do que nós, essa é a torcida!