“No, la pintura no está hecha para decorar las habitaciones. Es un instrumento de guerra ofensivo y defensivo contra el enemigo” (“Não, a pintura não está feita para decorar apartamentos. Ela é uma arma de ataque e defesa contra o inimigo”). As palavras duras de Pablo Picasso (1881/1973) só não são mais fortes do que as imagens monocromáticas do famoso painel “Guernica”, considerado uma das suas obras primas, assim como do próprio movimento cubista do qual o pintor espanhol foi o principal expoente.
Cidade do País Basco, província ao norte da Espanha, Guernica foi completamente destruída pelo bombardeio da Luftwaffe, a força aérea de guerra da Alemanha nazista, que usou a Guerra Civil Espanhola (1936/39) como tubo de ensaio para sua tática da blitzkrieg (guerra relâmpago), com a qual conquistaria quase toda a Europa, antes de ser derrotada na II Guerra Mundial (1939/45). O horror de uma guerra mecanizada e sem pudores contra populações civis indefesas, que quedou dos céus sobre Guernica em 1937, foi o que Picasso retrataria no mesmo ano, como prenúncio daquilo que se abateria sobre todo o mundo, literalmente, nos anos seguintes.
Com o mesmo empenho com que Picasso se opunha ao massacre de Guernica e aos fascistas que o perpetraram, outro pintor de menos talento, Adolf Hitler (1889/1945), feito Führer (“Líder”) da Alemanha nazista após fracassar como artista, apoiava o general espanhol Francisco Franco (1892/1975) no golpe militar contra o governo eleito democraticamente pelo povo da Espanha.
Com um oceano, um hemisfério, um continente e alguns anos de diferença, outra democracia de sangue latino vai também definindo seus quadros às vésperas de outras eleições. No Brasil, a presidente Dilma Rousseff (PT) mostra ainda ter lenha para queimar. Não só suportou a “blitzkrieg” eleitoral de Marina Silva (PSB), como já apresenta sinais de recuperação junto ao eleitor.
Se no Ibope da semana anterior, divulgado em 3 de setembro, Dilma tinha 37% das intenções de voto, contra 33% da principal concorrente, na nova amostragem do instituto, liberada no dia 12, a presidente cresceu dois pontos, aparecendo com 39%, enquanto Marina caiu para 31%, perdendo os mesmos dois pontos. E a vitória clara de Marina no segundo turno, prevista pelo Ibope anterior (46% diante dos 37% da presidente), se transformou num empate quase absoluto, no qual Marina hoje tem 43% (queda de quatro pontos) contra 42% de Dilma, que subiu consideráveis cinco pontos no mesmo curto espaço de tempo.
Esse movimento de recuperação de Dilma e queda de Marina também foi registrado no Datafolha. Na comparação das duas últimas pesquisas do instituto, divulgadas em 3 e 10 de setembro, se o empate técnico entre as duas ex-ministras de Lula ficou mantido no primeiro turno (Dilma tinha 35% contra 34% de Marina, e agora tem 36% contra 33%), a vitória antes folgada da candidata do PSB no segundo turno (48% contra 41% da presidente) se transformou em dúvida exata, com as duas apresentando agora os mesmos 47% de intenções de voto.
Diferente de Dilma, quem tem demonstrado dificuldades em reagir ao avanço rápido do principal adversário, é o deputado federal Anthony Garotinho, candidato do PR contra o governador Luiz Fernando Pezão (PMDB). Entre as duas últimas pesquisas do Ibope, liberadas respectivamente aos dias 2 e 9 deste mês, Pezão cresceu impressionantes seis pontos, passando de 19% a 25%, enquanto o político da Lapa, para não dizer que está estagnado, perdeu um ponto: tinha 27% e caiu para 26%. E, mais grave, o empate exato em 35% que o Ibope apontava no segundo turno entre ambos, se transformou em previsão de vitória final relativamente fácil para Pezão, que subiu para 40%, enquanto Garotinho agora só tem 33%.
No Datafolha, entre as pesquisas divulgadas em 4 e 10 de setembro, o quadro se desenha ainda mais desanimador ao candidato do PR. No primeiro turno, Pezão cresceu dois pontos, passando de 23% a 25%, enquanto o campista caiu de 28% para 25%. Mas é nas simulações de segundo turno que a situação se agrava para Garotinho, que caiu de 36% para 35%, enquanto o atual governador subiu de 45% para 47% das intenções de voto, abrindo uma considerável diferença de dois dígitos na decisão final.
De fato, o impacto da última projeção do Datafolha foi tão forte, que o próprio Garotinho, no mesmo dia 10 em que a pesquisa foi divulgada, pareceu atordoado ao ficar sem postar nada em seu blog, desde o final da manhã daquele dia, só voltando a emitir sinal virtual de vida quase 24 horas depois, quando foi obrigado a admitir publicamente o crescimento de Pezão. E os sinais de desânimo, bem como as ameaças para tentar conter a debandada no grupo, não passaram despercebidos nas expressões e discursos do comício de anteontem na praça São Salvador, quando Garotinho entregou sua campanha “em primeiro lugar a Deus e, em segundo, ao povo”.
Na incerteza do Divino, quanto ao povo, apesar de ter sido bravateada a presença de mais de 15 mil pessoas na praça, ninguém que lá esteve foi capaz de enxergar, com muito boa vontade, no máximo um quinto disso.
Garotinho, então, é carta fora do baralho, como se arriscam a já apregoar alguns? Longe disso! Marcelo Crivella (PRB) que aparece com 17% no Ibope e 19%, pelo Datafolha, ainda pode ser fator surpresa, tanto no primeiro, quanto no segundo turno. Muito embora em sua entrevista exclusiva publicada hoje na Folha, o sobrinho de Edir Macedo deixe nas estrelinhas da última resposta a indicação de que, num segundo turno entre Pezão e Garotinho, caminharia com o primeiro. E não é nem preciso ser mais inteligente do que Aécio Neves (PSDB), aliado de Dilma na desconstrução de Marina, para projetar isso.
Inteligência é o que nunca faltou a Garotinho. Tampouco ao generalíssimo Francisco Franco, que recebeu o apoio de Hitler para vencer a Guerra Civil Espanhola, mas nunca retribuiu o favor na II Guerra Mundial.
O resultado? O líder da Alemanha se mataria no fundo de seu bunker, em abril de 1945, numa Berlim posta de joelhos pela ex-União Soviética com tanta lenha para queimar quanto Dilma e Pezão demonstram ter agora. Enquanto isso, Franco continuou governando a Espanha até bem perto de morrer, de causas naturais, em 1975, dentro dos mesmos princípios fascistas derrotados 30 anos antes, nos campos de batalha da II Guerra.
Mesmo que Garotinho perca a disputa ao governo do estado, só um tolo pode supor que seu candidato à sucessão de Rosinha, independente do nome, não entre na disputa como favorito em 2016. Da mesma maneira, só outro tolo acreditaria que a oposição local não vá mais uma vez dividir sua força já inferior em várias candidaturas ainda menores, exatamente como fizeram na Guerra Civil Espanhola os defensores do estado democrático de direito. Foi quando popularizaram no mundo o inspirador lema “!No passarán!” (“Não passarão!”), antes dos coturnos franquistas passarem sobre suas cabeças.
Publicado hoje, na edição impressa da Folha.
Caro Aluysio, sua presença fazia falta no espaço. Suas crônicas e artigos, sempre dosados por um profundo conhecimento histórico, inteligentemento trazidos para os nosso dias e problemas.
“Não passarão”.É verdade. A “oposição política” de Campos ainda não amadureceu o suficiente pra buscar esse consenso. Também é verdade que cada um sente-se capaz, o melhor, para disputar o pleito em 2016. Via ser preciso muito bom senso e maturidade para construirmos um projeto sólido de Poder Político para 2016.
A experiência de 2012 nos mostrou que vencer vaidades, ceder espaços, admitir inferioridades, reconhecer quem detém melhores possibilidades, melhor poder de fogo eleitoral, maior chance de enfrentamento do opositor da situação, seja ele quem for, não foi, e não será novamente tarefa fácil.
Temos feito algumas discussões neste sentido, desde o ano passado, exatamente para podermos criar uma convergência nesse ponto, pelos menos entre alguns desses partidos de oposição. Naturalmente não são os maiores, mas os mais ideológicos.
Mas continuaremos tentando avançar, trazer os demais para o debate, e tentarmos identificar o mais provável, o agregador, mesmo sabendo que, no atual momento, tres ou quatro nomes acham-se apoiados pelas máquinas.
De qualquer forma, a prudência nos indica que estas discussões só irão prosperar após a definição do quadro de eleitos, de Poder, no tabuleiro do RJ. Mas suas considerações foram muito sensatas e oportunas para lembrarmos dessa razão lógica.
Parabéns, fez uma leitura muito inteligente do atual quadro político. Tolice, subestimar o poder de negociação do Garotinho. Há muita coisa em jogo. As pedras do tabuleiro político eleitoral, visando acordos no segundo turno, já estão se movimentando. Talvez, ele surpreenda aos menos atentos do seu grupo político com uma jogada “inesperada”.
Simplesmente sagaz!!! que souber ler que leia…