“Malfeitos” do governo Rosinha — Das versões aos fatos a ser investigados

Tenebrosas transações

 

 

Tenho profunda estima pessoal e respeito profissional pelo jornalista e vereador Mauro Silva (PT do B). Ao lado de quadros como o deputado federal Paulo Feijó, o estadual Bruno Dauaire (PR),  o vice prefeito Chicão Oliveira (PP), o vereador Paulo Hirano (PR) e o ex-presidente do PR em Campos, Wladimir Garotinho, Mauro integra a chamada “banda boa” do grupo dos Garotinho — e ela, assim como a ruim, existe em qualquer grupo —, que ainda encontra trânsito com a parcela pensante e não cooptada da sociedade campista. E esta é a mesma que mostrou sua força majoritária já no segundo turno das eleições a governador, quando derrotou o candidato apoiado por Anthony Garotinho (PR) em nada menos do que cinco das sete zonas eleitorais do município (relembre aqui).

Todavia, no tempo avançado ao presente, ao ler aqui, no Blog do Bastos, o que Mauro disse na tribuna da sessão de hoje da Câmara, sobre as “tenebrosas transações” reveladas pela auditoria determinada pela prefeita Rosinha Garotinho (PR) em 1º de janeiro de 2013 (confira aqui), sobre seu próprio governo entre 2009 e 2012, que só vieram a conhecimento público a partir deste blog (aqui), da Folha e das denúncias do vereador Marcão (PT), fica impossível  relativizar politicamente as palavras do vereador governista diante da lógica dos fatos, aquela que deve orientar o jornalista. Senão, como diria Jack, the Ripper, vamos por partes:

Mauro disse: “Em primeiro lugar é bom dizer que não existe essa história de vazamento. Quem solicitou a auditoria foi a própria prefeita Rosinha”

Os fatos: Houve, sim, vazamento do relatório da auditoria para o vereador Marcão. E suas digitais parecem ser as mesmas de quem publicamente se prestou a tentar unir duas verdades na sua própria mentira, usado pelo grupo de comunicação de Garotinho, num gesto até patético de depois tentar conter o que vazou, usando a mesma mão com que assinou ao final e rubricou cada uma das 46 páginas do relatório da auditoria. E, sim, quem solicitou a auditoria foi Rosinha, embora sua publicação em Diário Oficial (DO) tenha misteriosamente desaparecido do Portal Oficial da Prefeitura de Campos (recorde aqui), só sendo localizado aqui, pelo jornalista Ricardo André Vasconcelos, no site Justiça Brasil. E, sim, é o fato de Rosinha ter solicitado a auditoria concluída em 15 de julho de 2013, quase um ano e meio atrás, que torna tão necessária a investigação dos fatos pelo Ministério Público Estadual (MPE), além do Ministério Público Federal (MPF) e da Polícia Federal (PF), já que o relatório identifica indícios de uso indevido também de verbas dos royalties e do Fundo Nacional de Desenvolvimento da Educação (FNDE), para saber se houve ou não crime de improbidade administrativa da prefeita. O que nos leva a uma outra declaração do seu vereador…

Mauro disse:  “Em momento algum houve dolo ou culpa da prefeita. O que ela detectou foi uma pendência de R$ 100 milhões dos governos anteriores”

Os fatos: A partir da contabilidade deixada pelos governos anteriores, o “rombo” herdado por Rosinha foi de R$ 56.044.365. A “contabilidade criativa” feita pela secretaria de Finanças durante o primeiro governo da prefeita para jogar mais dívidas para trás, inclusive alterando a contabilidade de outros governos, para se chegar aos tais R$ 100 milhões agora trombeteados pelos defensores do indefensável, é inclusive outra suspeita de ilegalidade flagrada pela auditoria. De qualquer maneira, desde que soube do “rombo”, seu, de outros governos, ou do que foi a estes ilegalmente atribuído pelo seu, e aparentemente não fez nada para denunciar e apurar os responsáveis, é que Rosinha e seu governo têm que ser investigados, ou pelo menos teriam em qualquer estado democrático de direito do mundo regido por um mínimo de honestidade e lógica, ou dotado de alguma instituição capaz de cumprir seu papel constitucional de investigação. Da mesma maneira, para descobrir por que a prefeita não apurou responsabilidades, ao saber pela auditoria que seu governo entregou mais de R$ 218 milhões do dinheiro público para uma empresa sabidamente ligada à medula ao “Mensalão” e com cabeludos pareceres de inidoneidade proferidos pelos Tribunais de Contas dos Estados do Rio de Janeiro e Pernambuco, mas assim mesmo usada para a compra superfaturada de títulos públicos federais, gerando um prejuízo de mais de R$ 4,7 milhões ao contribuinte (confira aqui). Da mesma maneira, para descobrir porque recursos do Previcampos foram mal aplicados, gerando prejuízo de mais de R$ 1,1 milhão aos bolsos do servidor, divididos entre aplicações no Santander e no desconhecido banco Mercatto, isso sem contar um montante de mais de R$ 44,2 milhões que ainda não se sabe se foram resgatados do falido banco Cruzeiro do Sul (relembre aqui). Porque mesmo que Rosinha não tenha tido dolo em nada disso, e ninguém afirmou que teve, quando passou a saber em julho de 2013, se nada fez de lá para cá, ou ignorou alguma das muitas recomendações da sua auditoria, ela passou a ser cúmplice e pode ser igualmente responsabilizada.

Por fim, segundo o jornalista Alexandre Bastos, Mauro disse: “De qualquer forma, assim como a presidente Dilma costuma dizer, os malfeitores serão punidos e a prefeita corta na própria carne”

Os fatos: Bom que, uma semana após a denúncia original feita neste blog e na Folha, a partir do relatório da auditoria vazado ao vereador Marcão, que enviou cópias e formalizou a denúncia em todas as instituições estaduais e federais possíveis de investigação, o governo Rosinha finalmente tenha admitido hoje a possibilidade de que “malfeitos” tenham sido cometidos em seu mandato. Pelo menos, é isso que indica com fartura de detalhes o relatório da auditoria interna determinada pela própria Rosinha, que deve sobre ele explicações detalhadas, muito além de uma entrevista genérica e aparentemente ditada ao grupo de comunicação do marido, do que fez a partir do momento em que soube, um ano e meio atrás, dos vários indícios de irregularidade em seus primeiros quatro anos de governo. De qualquer maneira, se é para usar a presidente Dilma Rousseff (PT) como exemplo, não custa lembrar que foi depois de prometer “cortar na própria carne” para punir os eventuais “malfeitores” do seu governo, que o escândalo do “Petrolão” explodiu na mídia do Brasil e do mundo.

 

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Este post tem 4 comentários

  1. HUGO MESTALA

    ESTE ROMBO PODE SER AINDA MAIOR, SE FOREM FEITAS TAMBÉM EM SECRETARIAS , NOTADAMENTE A DE OBRA, EM QUE TODOS OS GOVERNOS SEJAM ELES FEDERAL, ESTADUAL E MUNICIPAL, EXISTE A DOAÇÃO DE CAMPANHA POR PARTES DE EMPREITEIRAS, COITADAS TODAS BOAZI$$$$$$NHAS, MAIS NÃO SÃO BOAS COM SEUS EMPREGADOS, HAJA VISTO QUE MUITAS NO MOMENTOS NÃO PAGARAM O LABOR DE SEUS EMPREGADOS. POBRE PAÍS,POBRE CAMPOS…..

  2. sandra.maria

    Muita sujeira.

  3. PELAYO

    PUNIÇÃO A TODOS O RESPONSÁVEIS E DEVOLUÇÃO AOS COFRES MUNICIPAIS DO (trecho excluído pela moderação), QUE É DINHEIRO DO POVO.

  4. sandra.maria

    Parabéns aos jornalistas Alexandre Bastos e Ricardo Andre,pelo trabalho jornalístico desenvolvido.Assim é que se faz.

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