Adendo da segunda com acento português ao poema do domingo

Aqui, publiquei o poema “O Monstrengo”, de Fernando Pessoa (1888/1935), bem como a justificativa fraterna e histórica de minha escolha poética sempre feita aos domingos. Como fui muito influenciado pelo áudio da interpretação de Paulo Autran (1922/2007) desses versos pessoanos, optei por reproduzi-los ao final da postagem, tentando comungar com você, leitor, aquilo que tanto me impactara. Mas, buscando no youtube o áudio de Autran, acabei esbarrando com um curta de animação sobre o mesmo poema, da lavra de Fernando Simões, Hugo Tiago Andrea e Valter Ramos, falado em português de Portugal e ambientado no fantástico que permeava o imaginário humano nos sécs. XV e XVI das Grandes Navegações.

Por conselho do meu irmão, Christiano Abreu Barbosa, e da minha namorada, Mahelle Pereira, ele também segue abaixo, como adendo retroativo da segunda-feira ao poema do domingo:

 

 

 

 

IV. O Monstrengo

 

O mostrengo que está no fim do mar

Na noite de breu ergueu-se a voar;

À roda da nau voou três vezes,

Voou três vezes a chiar,

E disse: “Quem é que ousou entrar

Nas minhas cavernas que não desvendo,

Meus tectos negros do fim do mundo?”

E o homem do leme disse, tremendo:

“El-Rei D. João Segundo!”

 

“De quem são as velas onde me roço?

De quem as quilhas que vejo e ouço?”

Disse o mostrengo, e rodou três vezes,

Três vezes rodou imundo e grosso.

“Quem vem poder o que só eu posso,

Que moro onde nunca ninguém me visse

E escorro os medos do mar sem fundo?”

E o homem do leme tremeu, e disse:

“El-Rei D. João Segundo!”

 

Três vezes do leme as mãos ergueu,

Três vezes ao leme as reprendeu,

E disse no fim de tremer três vezes:

“Aqui ao leme sou mais do que eu:

Sou um povo que quer o mar que é teu;

E mais que o mostrengo, que me a alma teme

E roda nas trevas do fim do mundo,

Manda a vontade, que me ata ao leme,

De El-Rei D. João Segundo!”

 

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