B.B. King — Não sabe que tá andando com o Rei?

 

Andando com o Rei

 

B.B. King no óleo sobre tela de Oswaldir
B.B. King no óleo sobre tela de Oswaldir

Estava agora há pouco editando a Folha Online por telefone junto à jornalista Lohaynne Gregório​, quando esbarrei na notícia da morte do B.B. King​ na madrugada desta sexta, aos 89 anos, vítima de complicações da diabetes. Li seu obituário no primeiro plano da tela do lap top, antes de esticar a vista ainda aturdida à parede da sala ao fundo, onde fica um óleo sobre tela em branco e preto do artista plástico gaúcho Oswaldir, comprado na campista Vox Music, no qual o mestre blueseiro contraí a face e cerra os olhos, num típico transe de solo de blues, enquanto desamarra emoções das cordas da Gibson 335 chamada por ele Lucille, como apelidava qualquer guitarra que tocasse.

King compôs e executou parte da trilha sonora da minha vida, sobretudo no período formativo de adolescência e juventude. Com sua voz e guitarra ao fundo, conferindo profundidade shakespeariana a cada nota, cometi excessos, embalei reflexões, vivi passional como um blues meus amores e desilusões. Nesse processo, no cruzamento dentro d’alma entre o Paraíba do Sul e o Mississipi, ele se tornou alguém próximo, um amigo, um cúmplice, um confidente, um irmão.

Lembro-me de um documentário de Jimi Hendrix (1942/70), quando ele disse que, na sua visão sempre à frente do tempo, o blues dos EUA, onde nascera, tivera em B.B. King seu último grande passo em solo nativo, sendo seguido na pisada seguinte, do outro lado do Atlântico Norte, por um inglês branco com a alma tão crioula quanto a que teve abaixo do Equador nosso Vinicius de Moraes (1913/80): Eric Clapton.

Da música “Ridding wtih the King” (“Andando com o Rei”), que batiza o belo álbum gravado pelos dois em 2000, é com os versos de Clapton feitos não pelo “Deus” da guitarra, mas pelo garoto que como eu e outros tantos, crescemos e viramos homens ouvindo o “Rei”, que deste me despeço com o coração despedaçado, impotente diante aos ditames da vida, como numa letra de blues:

 

“He’s on a mission of mercy on a new frontier

He’s gonna check us all out of here

Up to the mansion on the hill

Where you can get your prescription filled

Any kind of pills, folks

 

“We’re on a TWA to the promised land

Everybody clap your hands

Don’t you girls love the way that it seems?

Don’t you know you’re ridin’ with King?

Ridin’ with the King

Don’t you know you’re ridin’ with King?

 

“Tuxedo and a shiny three thirty five

(That’s me)

You can see it in his face

The blues never lie

Tonight everybody’s getting their angel wings

Don’t you know you’re ridin’ with King?”

 

“Ele está numa missão de misericórdia para a nova fronteira

Ele vai levar todos nós embora daqui

Até aquela mansão na encosta

Onde você pode conseguir uma receita preenchida

Qualquer tipo de pílulas, gente

 

“Embarque num avião para a terra prometida

Todo mundo, batam palmas

Vocês não adoram o jeito como ele canta?

Não sabe que tá andando com o Rei?

Andando com o Rei

Não sabe que tá andando com o Rei?

 

“De smoking e uma Gibson 335 lustrosa

(Esse sou eu)

Dá para ver na cara dele

O blues nunca mente

Esta noite todo mundo ganha asas de anjo

Não sabe que tá andando com o Rei?”

 

 

 

 

fb-share-icon0
Tweet 20
Pin Share20

Este post tem um comentário

  1. Sandra Machado

    Rei é Rei.Nunca perde ou perderá a majestade.

Deixe um comentário