Crítica de cinema — Tão chato, quanto politicamente correto

Caixa de luzes

 

Quarteto fantástico

 

Mateusinho 2QUARTETO FANTÁSTICO — A partir das possibilidades quase ilimitadas da computação gráfica, na última passagem de século, o universo dos super-heróis pôde ser transposto às telas de cinema com a mesma dose de fantástico das páginas das HQs. Se a DC Comics saiu na frente com a franquia do Batman, aberta pelo diretor Tim Burton ainda em 1989, foi com outra exitosa série, aberta por Brian Singer com “X-men — O filme” (2000), que a Marvel Comics passou à frente da concorrente dos quadrinhos também no cinema.

No bojo desse sucesso, outras franquias foram abertas. Entre elas, “Quarteto fantástico” (2005), de Tim Story, que também dirigiu a sequência “Quarteto fantástico e o Surfista Prateado” (2007). O resultado de público não foi de todo ruim, mas ficou aquém de outras séries de super-heróis.

Assim, o Homem Elástico, a Mulher Invisível, o Tocha Humama e o Coisa tiveram que se contentar em observar outras franquias arrebentarem nas bilheterias. Além dos já citados “Batman” e “X-men”, “Homem-Aranha”, “Super-Homem”, “Homem de Ferro”, “Thor”, “Capitão América” e “Vingadores” também foram mais rentáveis.

Neste ínterim, após interpretar Johnny Storm, nome civil do Tocha Humana, nos dois primeiros “Quarteto Fantástico”, o ator Chris Evans depois emplacaria como protagonista de “Capitão América” e, na pele dele, também de “Vingadores”, gerando o problema da duplicidade. Assim, no lugar de louro, como o ator Evans é, e o personagem Storm sempre foi nos quadrinhos, a grande mudança do novo “Quarteto fantástico”, que estreou esta semana nos cinemas de Campos, foi ter o negro Michael B. Jordan na pele “politicamente correta” do Tocha Humana.

Como ele continua irmão de Sue Storm, a Mulher Invisível interpretada por Kate Mara, mantida tão loura quanto nas HQs, a solução foi colocá-la como filha adotada do Dr. Storm. Personagem inexistente nos quadrinhos, no novo filme ele surge interpretado por Reg E. Cathey. Além de adotar Sue, que passou a ser uma refugiada de Kosovo, em outra pitada politicamente correta, Storm pai reuniu dois jovens gênios da ciência: Reed Richards (Miles Teller), mais conhecido como Homem Elástico, e Victor Von Doom (Toby Kebbell), O Dr. Destino, que está para o Quarteto Fantástico como o Coringa ao Batman.

No lugar da nave espacial dos quadrinhos, repetido no filme original de 2005, o que confere os poderes aos quatro super-heróis é uma máquina de teletransporte, na qual todos trabalham em conjunto. Junto com Doom e Storm filho, Reed chama seu amigo e parceiro de projetos de infância, Ben Grimm (Jamie Bell), o Coisa, para uma viagem a outra dimensão. Lá, eles acabam deixando Doom para trás, sendo resgatados por Sue. A viagem de retorno acaba numa explosão, a partir da qual os quatro desenvolvem seus poderes.

O governo dos EUA se interessa pelo projeto e tenta recriá-lo, enquanto mantém sob custódia os quatro jovens, ajudando-os a controlarem seus poderes, visando utilizá-los em missões militares. Reed foge, mas acaba recapturado com a ajuda do Coisa, ressentido por sua nova aparência e por ter sido deixado para trás pelo amigo. Novamente juntos, eles reconstroem a máquina, a partir da qual Doom, agora transformado no Dr. Destino, volta à Terra só para tentar destruí-la. E a única esperança do planeta, lógico, passa a ser encarnada pelo Quarteto Fantástico.

Embora assine como produtor executivo, esse foi o primeiro filme baseado na mitologia da Marvel no qual seu criador, Stan Lee, não fez uma ponta como ator. E o veterano editor de 92 anos, que protestou contra muitas alterações, não deixa de ter razão. Efeitos especiais sempre impactantes à parte, o filme do jovem diretor Josh Trank consegue ser tão chato quanto o politicamente correto que adulterou a história dos quadrinhos às telas.

 

Mateusinho viu

 

Publicado hoje na Folha Dois

 

Confira abaixo o trailer do filme:

 

 

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