“A queda do governo Dilma é uma questão de dias”. Foi o que disse ontem (aqui) em Vitória (ES), durante a Convenção Nacional de Cidades do PPS, o senador pelo partido Cristovam Buarque. Primeiro reitor eleito da Universidade Federal de Brasília (UNB), ele foi também governador do PT no Distrito Federal, quando criou o bolsa-escola mais tarde transformado em bolsa-família, além de ministro da Educação do governo Luiz Inácio Lula da Silva (PT). Seu currículo, portanto, não é receita de “coxinha”.
Desde a condução de Lula sob ameaça de força coercitiva, por determinação do juiz federal Sérgio Moro, no dia 4 deste mês, o desespero do ex-presidente passou a ser traduzido por quem ainda se presta a tentar defendê-lo. Não é preciso ir longe. Do Planalto Central à planície goitacá, poderíamos ficar no exemplo de um presidente de associação de imprensa que bravateia duvidar que a Globo News dará à coletiva de Lula o mesmo espaço conferido à cobertura da sua condução pela Polícia Federal. E, desmentido alguns minutos depois, no lugar de assumir a parcialidade companheira, diz ter sido a emissora que evitou ser parcial demais.
O que falar do educador que, sem vergonha da apologia ao crime lecionada, bate no peito para dizer: “Prefiro Lula roubando do que qualquer outro político honesto do Brasil”? Ou da cronista que escreve contra a demanda de uma nação por heróis, com a mira no calcanhar de Moro, para tentar defender o peito aberto de Lula? Ou da feminista em apoio a um líder patriarcal cobrando macheza de “mulheres de grelo duro”, saudando a consciência masculina do clitóris? Ou do jornalista que defende a manutenção de Dilma para não sermos governados por Temer, na amnésia seletiva de quem votou na chapa composta por ambos à presidência? Ou de quem, independente do ofício, perdeu o emprego por conta do desastre econômico do lulopetismo, mas continua a defendê-lo, purgado pelo bolso vazio, em aparente questão de fé?
Seria menos pior se fossem realmente “petralhas”, na associação de petistas com os Irmãos Metralhas, bandidos dos quadrinhos da Disney. Mas se tratam de pessoas reais, a maioria dotada de cultura, sensibilidade e índole acima da média. Bem verdade que, embora ainda ruidosa, representam uma parcela hoje ínfima da população. Na contabilidade das manifestações nacionais dos últimos domingo (13) e sexta (18), a cada 100 brasileiros que saíram às ruas pelo fim do governo Dilma, a prisão de Lula e em defesa da atuação de Moro, apenas sete marcharam pelos motivos opostos. E a diferença foi ainda maior em Campos (aqui), onde diante de cada 100 manifestantes contra o PT, somente quatro se apresentaram à defesa do partido.
Anabolizada de “coxinha” a “pernil” pela disparidade, verdade que essa maioria antipetista, na planície ou no planalto, guarda no discurso tanta hipocrisia quanto os casos “petralhas” tipificados acima. Afinal, como levar a sério quem sai para protestar contra Dilma e Lula e se cala, em sua própria cidade, sobre Rosinha e Garotinho? Na extensão institucional mais grave desta contradição, como entender a Justiça Federal da comarca goitacá promover um ato público de apoio a Moro, enquanto (aqui) ajusta a venda da cegueira diante ao desperdício, por uma Prefeitura inexplicavelmente quebrada, dos recursos federais dos royalties do petróleo e do Sistema Único de Saúde (SUS) — apontado em inspeções midiáticas, mas inócuas (aqui), do Ministério Público Federal (MPF) local?
Clássico do cinema, “Os intocáveis” (1987), do mestre estadunidense Brian De Palma, recria com brilho a Chicago dos anos 1920 para contar a história real do agente federal Eliot Ness (vivido por Kevin Costner) na tentativa de prender o criminoso Al Capone (Robert De Niro, no auge). No julgamento, após descobrir no bolso do capanga do mafioso uma lista com os nomes dos jurados, Ness leva o caso ao juiz, no escritório deste, na presença do promotor e advogado de defesa. Respondido que o papel não era prova de nada, o agente pede licença aos demais para falar em particular com o magistrado, conversa não revelada pelo corte da cena.
Na tomada seguinte, já no salão do júri, o juiz reflete acabrunhado antes de pedir ao meirinho que trocasse o júri de Capone pelo do julgamento ao lado. Exultante, mas surpreso, o promotor se vira para Ness e pergunta: “Mas o que você disse a ele?”. Ao que o agente federal responde: “Que o nome dele também estava na lista”.
Foi mais ou menos assim que Moro enquadrou o Supremo Tribunal Federal (STF), tanto nas gravações que geraram a prisão do então líder de Dilma no Senado, Delcídio do Amaral, quanto nas mais recentes, nas quais Lula cobra ao telefone (aqui) subserviências e “gratidões” tão republicanas quanto o nível do seu linguajar. No caso de dúvida, a entrevista de Delcídio (aqui) convertido em delator da Lava-Jato, publicada ontem na revista Veja, impressiona pelo detalhamento do bilionário esquema de corrupção, seus beneficiários e mandantes, bem como pelas cascas de banana mesquinhamente deixadas um para o outro, entre presidente e ex.
Foi nelas que ambos escorregaram, ao acharem que Lula poderia assumir (e salvar) o governo de Dilma e, de quebra, se salvar da ameaça de prisão pelo foro privilegiado. Três dias depois da maior manifestação política da História do Brasil sair às ruas contra uma mandatária e o antecessor que a inventou como poste de esquentar lugar.
Com a OAB endossando o pedido de impeachment de Dilma, a devolução do inquérito de Lula pelo STF para Moro e a legalidade dos grampos sobre o ex-presidente atestada pelo procurador geral Rogrigo Janot, pertinente a última fala de Ness a Capone, perto do final do filme: “Never stop fighting until the fight is done” (“Nunca pare de lutar, até que a luta termine”).
Publicado hoje (20/03) na Folha da Manhã
MARCO AURÉLIO MELLO, DO STF: MORO COMETEU CRIME
Em entrevista ao portal Sul 21, publicada neste domingo, ministro Marco Aurélio Mello, do Supremo Tribunal Federal, fez as mais duras críticas já registradas ao juiz Sergio Moro, que conduz a Lava Jato; “Ele não é o único juiz do país e deve atuar como todo juiz. Agora, houve essa divulgação por terceiros de sigilo telefônico. Isso é crime, está na lei. Ele simplesmente deixou de lado a lei. Isso está escancarado.
Cara Jurema,
Foi o mesmo Marco Aurélio de Mello que deu uma liminar, aos 46 do segundo tempo, para que Rosinha pudesse concorrer à reeleição em 2012?
Abç e grato pela chance da indagação!
Aluysio
CHICO PROÍBE PEÇA DE ATOR QUE OFENDEU DILMA E NEGROS
O cantor e compositor Chico Buarque de Hollanda retirou, neste domingo, a autorização para que o ator Cláudio Botelho continuasse a apresentar um musical feito a partir de suas canções; na noite de ontem, em Belo Horizonte, Botelho atacou a presidente Dilma Rousseff no meio da peça e foi interrompido pela plateia, que passou a gritar “não vai ter golpe”; em seguida, Botelho disse que “um ator não pode ser peitado por um negro”; antes, nas redes sociais, Botelho já havia pregado a morte dos parlamentares Lindbergh Farias (PT-RJ) e Jandira Feghali (PCdoB-RJ); como os direitos autorais são de Chico, o musical terminou ontem em Belo Horizonte.
E existe petista de graça? Olha quanto vale, do dinheiro público, gravar vídeo de chamamento e ler um poema em manifestação pró-Lula?
http://musica.terra.com.br/jornal-leticia-sabatella-e-autorizada-a-captar-r-15-mi-para-show,71f224f4d865a310VgnCLD200000bbcceb0aRCRD.html