Aqui, na capa de hoje da Folha Dois, a jornalista Paula Vigneron narrou a ocupação dos artistas de Campos, ontem, ao Teatro de Bolso Procópio Ferreira, que acompanhou desde o início. Hoje, completa o relato, abaixo, a escritora:
Ocupa TB: resistência de quem faz
Por Paula Vigneron
No final da tarde da última segunda-feira, ouviu-se um grito: “não adianta/ tem que mudar/ o artista tem que trabalhar”. Pela principal avenida do Centro da cidade, artistas e imprensa caminhavam em direção a um dos mais aconchegantes espaços culturais, o Teatro de Bolso Procópio Ferreira. Ele, em seu esquecimento forçado, também gritava por socorro. Fechada há anos para reformas não concluídas, a “Casa do Artista Campista” representa o isolamento a que foi destinada a cultura local.
Na entrada lateral do teatro, a movimentação dos que sentem saudades de casa. Dos que buscaram, por anos, espaços alternativos que pudessem substitui-lo. Em vão. Por conta do fechamento, atores e atrizes se espalhavam por locais alternativos e ruas da cidade. Não queriam deixar morrer o sonho da arte. Não abriram, apesar das dificuldades, mão da criação. Transformaram em palco os jardins, as praças e as vias pelas quais trafegam aqueles que nem sempre compreendem o papel da arte, que existe porque a vida não basta, conforme afirma o escritor Ferreira Gullar.
Em sua luta, os criadores explicavam a quem passava pela Rua Gesteira Passos que desejavam apenas voltar para casa. Que buscavam o reencontro com o palco de tantas histórias contadas e vividas. Uma causa legítima. A todo momento, explicavam: “nós somos trabalhadores”; “precisamos ganhar dinheiro”. Nessas horas, o artista-cidadão dialogava com outros cidadãos, nem sempre dispostos a compreender suas razões.
Batidas na porta. Pedidos para que seus pedidos fossem ouvidos. Nenhuma resposta. Com a caixa de som, cantavam, bradavam e tornavam a explicar. Sem retorno. A ocupação, então, saiu da ficção para se transformar em realidade. O calor, causado pela falta de refrigeração — motivo pelo qual não houve a reabertura do Teatro de Bolso no tempo previsto —, não alterou os planos feitos ao ar livre. Deixando para trás a realidade pessoal, os artistas se mantiveram firmes na proposta inicial: ocupação para diálogo com o poder público, a entrega do teatro à classe e mudanças na administração. Para isso, esperariam a responsável por assuntos ligados à cultura. Esperaram a noite inteira. Ela ainda não chegou. E eles não vão desistir.
No meio do caminho, a imprensa. Do outro lado, o diretor do TB, com palavras escolhidas para controlar o movimento, e a Guarda Civil Municipal. Os ânimos dos agentes do órgão foram acalmados por um lúcido comandante. Houve discussões. Ameaça de prisão por desacato. Formação de um ambiente hostil enquanto os artistas explicavam que eram trabalhadores. Queriam seus direitos, assim como eles almejaram em diversas manifestações pela cidade. Mas, ali, lutavam por causas contrárias e não se entendiam.
Não havia baderna, conforme poderiam pensar os homens e mulheres fardados. Nenhuma palavra de agressão. Sem demonstrações de violência. O companheirismo contornando as expressões. Aqui, um rapaz se distrai com as cordas de um grande ioiô. Logo à frente, a um canto, uma moça posta informações em redes sociais. Ali, amigos conversam animadamente. Sorrisos espalhados. O clima era um misto de palavras de ordem e descontração, com um violão ecoando o ritmo dos artistas e de suas vozes. Afinal, eles voltaram para casa depois de tantos anos.
Quantos meses faltam pra acabar o atual mandato da Prefeita & Secretário? Considerando que maio já anda pelo meio, até as novas eleições, faltam 5 meses, 7 para o término definitivo do mandato.
O forte poder descritivo e rico em conteúdo da jornalista e escritora Paula Vigneron disse tudo, a foto é mais do que clara, logo, desenhar nem é preciso.
__Preciso, é o texto! Mostra realidade e a dificuldade de se empreender Cultura de verdade na nossa cidade. Esta tem sido uma característica no Município de Campos dos Goytacazes, aqui prioriza-se, aposta-se no que há de mais inferior em termo de Cultura onde num passado recente muitos milhões foram “investidos” em todo tipo de breguice.
Aqui, Cultura de verdade, como o “Orquestrando a Vida”, sobrevive por teimosia e paixão daqueles que acreditam numa Cultura verdadeira. Quem sabe, também pela paixão e teimosia, igualmente resgatem o Teatro de Bolso, antes que o ´”Indio Goitacá Deitado”, por desgosto, vire de bruços, para sempre!