Artigo do domingo — Dois meses para aprender a jogar sem a bola

 

Dois dos maiores meias da história do futebol e pilares do “tiki-taka”: Xavi e Iniesta (foto: reprodução)
Dois dos maiores meias da história do futebol e pilares do “tiki-taka”, a arte de manter a posse de bola para não cedê-la ao adversário: Xavi e Iniesta (foto: reprodução)

 

 

Sempre houve quem contestasse a grande Seleção Espanhola de futebol, sobretudo após o vexame da sua eliminação na primeira fase da Copa do Brasil em 2014. Os feitos daquele time, no entanto, são incontestes: única seleção nacional da história que ganhou em sequência duas Eurocopas (2008 e 2012), mais uma Copa do Mundo (2010) entre elas.

Quem criticava a Espanha o fazia por três motivos. O primeiro, único correto, era a sua falta de incisividade. O segundo, realçado pelo primeiro, era o predomínio considerado excessivo do toque de bola. O terceiro, sempre foi o mais humano possível, quando este se vê confrontado por algo que, criado por seu semelhante, lhe é superior: despeito!

Apelidado de “tiki-taka”, o futebol baseado na troca de passes curtos e movimentação, era uma influência tanto do futsal — esporte análogo no qual os espanhóis passaram a rivalizar com Brasil a partir dos anos 2000 — quanto do grande Barcelona treinado por Pep Guardiola (2008/12). E deste clube, onde foram ofuscados primeiro pelo brasileiro Ronaldinho Gaúcho, depois pelo argentino Lionel Messi, saíram os dois maiores jogadores dessa Espanha e meias de todos os tempos: Xavi Hernández e Andrés Iniesta.

Habilidosos, mas baixinhos, sobretudo para os padrões da Europa, como um time com jogadores assim poderia prevalecer no futebol mais físico do Velho Mundo? Como marcar adversários geralmente maiores e mais fortes? Como parar, por exemplo, atacantes hercúleos e tecnicamente soberbos, como o português Cristiano Ronaldo, de 1,85 e 80kg, ou o sueco Zlatan Ibrahimovic, de 1,95m e 95 kg?

Como Isaac Newton (1643/1727) ao desvendar o universo ao observar a queda de uma maçã, as questões aparentemente mais complexas têm soluções simples. Por maior, mais forte ou habilidoso que seja um jogador de futebol, nem que assim o sejam os outros 11 do time adversário, qualquer um deles só poderá jogar se tiver a bola.

Ocorre que, com seu “tiki-taka”, a bola era quase sempre da Espanha. Se era criticada por muitas vezes não usar essa posse de bola para agredir, para buscar o gol adversário, a crítica partia de quem não percebia que, sem a bola, os adversários dos espanhóis tampouco podiam fazê-lo.

Para quem imagina o estrago que o vereador Rafael Diniz (PPS) poderia fazer nessa eleição a prefeito se tivesse como aliado o PMDB, seu tempo de propaganda eleitoral, mais o apoio logístico de um Jorge Picciani, presidente do partido e da Alerj, talvez comece a entender porque o deputado estadual Geraldo Pudim, hoje candidato da legenda à sucessão de Rosinha Garotinho, tenha saído do PR sem maiores dificuldades. Mesmo que não jogue mais no time do antigo líder, Pudim, independente do dolo, continua segurando a bola para ele.

E o PT, dono (aqui) de um minuto da propaganda eleitoral de TV à tarde e à noite, mais oito spots de 30 segundos, todo dia dos 35 de campanha, entre 27 de agosto e 30 de setembro? Flertou com Rafael, piscou para Rogério Matoso (PPL) e já tinha até (aqui) pegado na mão de Caio Vianna (PDT). Mas bastou a conversa (aqui e aqui) do marido e secretário de Governo da prefeita Rosinha Garotinho (PR) com o presidente nacional do PT, Rui Falcão, para as executivas nacional e estadual do partido “recomendarem” a candidatura própria de Hélio Anomal. E sem nenhuma chance real a prefeito ou sequer apoio de outra legenda para eleger ao menos um vereador, ele já fala (aqui) até em intervenção num diretório municipal dividido entre tabelar com Caio, Rafael ou Rogério.

E o PRB? Sem grande estrutura no município, tinha um pré-candidato de oposição a prefeito bem colocado nas pesquisas que, certamente, tiraria votos do governo — mais por sua atuação como popular apresentador de TV, que como político. Se o ex-aliado Tadeu Tô Contigo era o “bode na sala” para os rosáceos, teve de cara um sino amarrado ao pescoço pelo marido da prefeita, que usou os interesses comerciais da Rede Record para impor (aqui e aqui) sua participação pessoal no programa do adversário. Isso, enquanto o secretário fazia do deputado federal Índio da Costa (PSD) seu “bode na sala” da disputa à Prefeitura do Rio, com o senador Marcelo Crivella, figura de proa do mesmo PRB de Tadeu. Com a bola furada pelo chefe, apoiado no Rio pelo PR, o vereador “decidiu” (aqui) concorrer à reeleição em Campos.

E o PSDB? Bem, com os tucanos, pelo menos pode se dizer que o líder rosáceo reteve a bola para marcar um gol — sim, os espanhóis também faziam os seus. Além do quase um minuto de propaganda eleitoral de TV à tarde e à noite, mais seis spots de 30 segundos diários, o PSDB deu (aqui, aqui e aqui) o vice na chapa governista encabeçada por Dr. Chicão. E quem disser que a escolha de um vereador articulado e bem quisto como Mauro Silva não foi um gol, como a do próprio Chicão, em vez de ceder ao velho despeito humano, que observe as dificuldades dos demais em escalar vices por aí.

No livro “Herr Pep”, que fala sobre sua vitoriosa carreira como jogador e treinador, Pep Guardiola define o “tiki-taka”: “A posse de bola é apenas um método para ordenar a equipe e desmontar o time adversário”.

Depois de quase uma década de domínio, alguns dos principais jogadores da Espanha e do Barcelona sentiram o peso da idade e seus adversários na Europa e no mundo aprenderam como superar um estilo de jogo que parecia imbatível. Em Campos, após 27 anos de hegemonia de quem é governo e ainda parece saber jogar para continuar a sê-lo, restou à oposição dois meses para aprender a jogar sem a bola.

 

Publicado hoje (31) na Folha da Manhã

 

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Este post tem 2 comentários

  1. Carlos Augusto Siqueira

    Caro jornalista.
    Sou apreciador dos seus textos que aliás herdou do talento inigualável do Comendador Barbosa, seu pai.
    Sou do PSDC e tivemos com outros companheiros,o cuidado de conversar com todos pré candidatos de oposição em Campos. Nenhum demonstrou mais habilidade e objetividade que o Caio Viana. Se não montamos o tick taka da Espanha; com certeza todos verão a objetividade da Alemanha. Nosso time está sendo montado para ser CAMPEÃO. Aguarde por favor a escalação na zona mista e constatará tal afirmação.

  2. Enoque Teles

    Bom dia, peço a Deus que o próximo prefeito seja qualquer um que ame nossa Campos, mas que não seja ninguém do grupo de Garotinho. Princioalmente este Dr. Chicão. Precisamos tirar de vez Garotinho do poder em Campos, pois nossa cidade merece respeito e carinho. Já estamos nas mãos de Garotinho há mais de 30 anos, chega!

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