Morando em Roraima há três anos, ainda há muito o que conhecer do norte do país. Tive a oportunidade de viajar a Santarém no último setembro. Ao chegar lá, na primeira oportunidade, fui presenteada com um muiraquitã. Trata-se de um artefato indígena, em formato de sapo, talhado em madeira ou pedra que pode simbolizar desde proteção a poder. Depois iniciaram algumas viagens. Algumas duravam dez, outras apenas duas horas. De barco, voadeira, lancha rápida, rabeta, passando por alguns rios como o Amazonas, o Tapajós, o Trombetas. Algumas das descobertas desses dias seguem em forma de poema. E, esses versos, assim como o rio, permanecem em sutil movimento.
Entre Rios
O olhar treinado permite ver os bancos de areia à noite ao norte
no Amazonas que não tem ondas próprias
somente quando encobre o ser ou circula na máquina do homem.
Mesmo o olhar treinado não permite
medir o comprimento do Tapajós na sua majestade de rio,
ainda que quase todos, ao fim, componham as águas salgadas.
A proteção do muiraquitã garante que o rio te abrace em segurança.
E o que é um mergulho no tempo das águas que suavemente sobem e descem
Se não o que chamamos de vida?
Os espaços compartilhados para aqueles que
atravessam, admiram, conversam sobre o Trombetas
são largos se comuns, estreitos se privados.
Mas sob a lua iluminada, toda prosa é quase cheia.
Sutilmente, ao fim da viagem nesses mares calmos
Descobre se és turbina ou reflexo do movimento das águas ao lado.
Santarém, 14 de setembro de 2016