Após dia e noite longos de trabalho no jornal, cheguei neste início de madrugada a Atafona, minha Pasárgada, mesmo neste agito de folia. Daqui até o próximo dia 6 de março, não estarei postando nada no blog, à exceção dos textos dos seus colaboradores e da minha produção dominical como jornalista na Folha.
Depois do reinado de Momo, a vida real recomeça — queiramos ou não. Até lá, deixo você, leitor, com os “versos alegres” do bardo russo Vladímir Maiakóvski (1893/1930), “agudos e necessários como um estilete pros dentes”, que sempre me ocorrem quando penso em poesia e carnaval.
Inté!
A blusa amarela
Do veludo de minha voz
Umas calças pretas mandarei fazer.
Farei uma blusa amarela
De três metros de entardecer.
E numa Nevsky mundial com passo pachola
Todo dia irei flanar qual D. Juan frajola.
Deixai a Terra gritar amolengada de sono:
“Vais violar as primaveras verdejantes!”
Rio-me, petulante, e desafio o Sol!
“Gosto de me pavonear pelo asfalto brilhante!”
Talvez porque o céu está tão celestial
E a Terra engalanada tornou-se minha amante
Que lhes ofereço versos alegres como um carnaval
Agudos e necessários como um estilete pros dentes.
Mulheres que amais minha carcaça gigante
E tu, que fraternalmente me olhas, donzela.
Atirai vossos sorrisos ao poeta
Que, como flores, eu os coserei
À minha blusa amarela.
(1913)
Eu sou, me declaro de antemão, suspeito, meu querido Aluysio Abreu Barbosa, para comentar o seu post, pois entendo ser Maiakóvski um Poeta Maior, se não o Maior, eu simplesmente sou apaixonado pela sua Poesia, engajada, precisa, cortante como uma navalha afiada. Curta as suas merecidas férias, pois Atafona, o Moinho dos Ventos, é realmente um lugar mágico que renova as energias, nos rejuvenesce e se renovar é sempre bom… É necessário.