Aeroporto de Macaé, outubro de 1994, tarde chuvosa de domingo. Há horas imprensa e militantes do PDT aguardam o pouso do avião trazendo o ex-governador Leonel Brizola. Ele deixara o governo do Rio de Janeiro para se candidatar mais uma vez à Presidência da República. Naquele dia cumpriria agenda no município do norte fluminense para uma carreata. A previsão de chegada do presidenciável não se confirma, ele está muito atrasado. Paciência. É Brizola.
Estamos sem almoço, sem poder ir ao banheiro, sem poder sair do local. Vai que o homem aterrissa, vai embora e a gente perde as imagens da chegada e a entrevista coletiva que só poderia ser ali mesmo, na pista do aeroporto! Jornalista sofre, está no contrato. Eu só tinha certeza de uma coisa: estávamos ali para captar as imagens de Brizola, gravar um depoimento e correr pela BR-101 em direção a Campos, sede da emissora afiliada à Rede Globo onde eu trabalhava, pois a visita de Leonel à Macaé era para ser exibida no Fantásticono quadro Agenda dos Candidatos.
Naquela campanha, Leonel Brizola estava bem mal nas pesquisas, muito longe dos mais bem colocados Fernando Henrique Cardoso e Luiz Inácio Lula da Silva. Eu não tinha muito interesse na entrevista, pois tinha certeza que não iria ao ar, pois o quadro do Fantástico dava 10 ou 15 segundos para cada candidato aparecer sem direito a fala. A não ser que acontecesse algo extraordinário. Eu, querendo fazer história, fiquei matutando como arrancar algo de Brizola que pudesse ser relevante e repercutir, quem sabe, na mídia nacional, em todo os cantões do Brasil.
Decidi então o que perguntar. Assim que o avião pousou e ele desceu as escadas da aeronave acenando e cumprimentando seus correligionários apaixonados, chegou a vez dos repórteres, fotógrafos e cinegrafistas cercarem o homem. Alguns colegas, me perdoem, faziam perguntas tipo nada a ver, como por exemplo, “o que o senhor acha de Macaé?”; “o que o senhor pretende fazer por Macaé se for eleito?”. Eu achava o governador Brizola um velho chato e irritante. Aproveitando desse sentimento, fiz minha pergunta:
– O senhor está mal nas pesquisas que apontam FHC e Lula no segundo turno. Qual deles o senhor pretende apoiar?
Como sempre, Brizola nem moveu a sobrancelha ou um músculo do rosto. Falava pelos cotovelos somente o que bem queria, sem dar a menor pelota para repórter provinciano e petulante. Perguntei uma, duas, três, quatro vezes a mesma questão, até que ele se irritou e decidiu responder. “Pesquisas? Que pesquisas? Desde quando se pode confiar em pesquisas no Brasil? Eu tenho certeza que serei eleito e o Brasil será transformado, blá, blá, blá…”. E lá se foi Brizola para sua carreata, e em seguida, fomos nós para Campos, pois enviar imagens para a TV Globo só mesmo pelo satélite e canal aberto pela Embratel. A Internet ainda era ficção científica nos anos 1990.
Depois de 1994, Brizola só colecionou derrotas. Em 1998 foi candidato a vice-presidente na chapa de Lula; em 2000 foi candidato a prefeito do Rio de Janeiro e perdeu para Cesar Maia (eleito), Benedita da Silva e Luiz Paulo Conde. Já em 2002, eu estava mais tolerante com Sr.Leonel. Foi quando ele se candidatou ao Senado Federal. Decidi votar nele, pois para a função era o melhor candidato que o Rio de Janeiro poderia ter. Apesar de mais de 1,2 milhão de votos, Brizola perdeu. Em 2004, veio a derrota final, aquela dita cuja que ninguém escapa: a morte. A então governadora Rosinha chorou amargamente, cuidou de seu funeral como Chefe de Estado. Ela e seu marido haviam rompido com Brizola, este que fazia questão de desmoralizar seu antigo pupilo, o ex-governador Anthony Garotinho, onde pudesse existir câmeras e microfones.
Confesso que fiquei triste com o declínio de Brizola. Era um homem velho, aguerrido, fez e foi História do Brasil. Se eu não gostava de Brizola, por que votei nele para senador? Passei a vê-lo com mais humor e com olhos mais cordiais quando ele virou garoto-propaganda da marca de sapatos Vulcabrás. Pensei: se ele pode fazer publicidade e ganhar cachê, também pode ser melhor e mais divertido no Senado Federal, que cá entre nós, adora uma propaganda gratuita, um circo midiático e sapatos impecáveis.
Foi um marte que fez mais pelo Estado do Rio de Janeiro.Muito mais do que qualquer outros Governadores que governaram o RJ.O velho cadilho junto com o grande Darci Ribeiro escreveram uma historia.É melhor construir uma escola hoje, do que dez presidios amanhã.