No domingo passado, enquanto o país digeria a dolorosa derrota para a Bélgica na já finada Copa da Rússia de 2018, surgiu uma notícia com toda cara de fake news: Lula livre.
A partir da decisão de um desembargador plantonista que posteriormente se descobriria ser um antigo militante petista, a ordem de soltura do presidente foi despachada para que a Polícia Federal a cumprissem em caráter de urgência. Segundo o desembargador Rogério Favreto, havia um fato novo no pedido: a pré-candidatura de Lula. Até o momento, não foi respondida a pergunta sobre onde estaria o desembargador nos últimos dois anos, enquanto o ex-presidente anunciava a quem não perguntasse sua intenção de se candidatar ao Planalto.
Segundo o despacho, o preso mais ilustre e reverenciado do país deveria ser solto de imediato e estaria, inclusive, liberado do exame de corpo de delito — trâmite normal para qualquer movimentação de entrada e saída do sistema penitenciário.
Os autores do pedido de habeas corpus, os deputados Paulo Pimenta, Paulo Texeira e Wadih Damous, todos do PT, pareciam ter tirado a sorte danada: o pedido de soltura foi protocolado apenas meia hora após o início do plantão do desembargador Rogério Favreto. O desembargador, embora tivesse militado por 20 anos no partido dos deputados, tivesse sido nomeado nos governos Lula e Dilma em cargos de confiança e embora também tivesse sido alçado a desembargador pela ex-presidente, não se sentiu pressionado a declarar suspeição. Numa dessas coincidências que só acometem aos petistas, a chegada dos deputados Wadih Damous e Paulo Pimenta à carceragem da Polícia Federal de Curitiba se deu trinta e cinco minutos antes da publicação no site do TRF4 da esdrúxula decisão de soltar Lula. Obviamente, como coincidência não havia no fato do sítio atribuído a Lula possuir pedalinhos com nomes de seus netos, também nesse caso os pontos não foram dados sem nós.
Os deputados petistas executaram um plano ousado e com potencial explosivo no cenário político do país. Peticionar especificamente a um desembargador companheiro, durante o recesso forense, em meio à Copa do Mundo sugando as atenções gerais e, principalmente, durante as férias do incansável e antagonista juiz de primeira instância que havia conduzido o processo era um plano fenomenal. Conseguida a libertação de Lula, uma nova prisão demandaria um motivo muito forte e um desgaste ainda maior das autoridades, considerado todo o tumulto do primeiro encarceramento. Um Lula livre e capaz de articular alianças, gravar vídeos e entrevistas — ainda que em domicílio — subverteria totalmente a já confusa corrida eleitoral, abalaria os mercados e tornaria plausível a hipótese de uma chicana jurídica capaz de habilitá-lo à eleição — hipótese, hoje, tão desejada quanto difícil de ser executada com um ex-presidente preso.
Ecoando as palavras do colega de espaço Alexandre Buchaul, com quem o presente artigo dialoga, o mais esperto e maior político do país lançou uma jogada fulminante para subverter o cenário atual. O lance, porém, não contava, mais uma vez com a carta na manga do juiz Sérgio Moro. Mesmo de férias, o magistrado desafiou a ordem do desembargador Favreto e conseguiu retardar o cumprimento da ordem até que o relator do caso — desembargador Gebran Neto — se pronunciasse e obtivesse o respaldo do presidente do Tribunal.
A ousadia de Moro despertou a ira dos petistas que já comemoravam nas redes sociais e fez ruir o maquiavélico plano. A repercussão do imbróglio, embora possa favorecer politicamente o ex-presidente, jogou holofotes sobre a estratégia petista de escapar do caminho institucional tradicional para buscar a libertação do chefe — o que, em última instância (literalmente) — pode ter acabado por sepultar qualquer chance de uma reviravolta.
Se é possível dizer que Lula jamais enfrentou nas urnas um adversário que fizesse frente à sua habilidade política, é inegável reconhecer que, ao longo da Lava Jato, Sérgio Moro esteve sempre uma rodada à frente do petista.
Sorte do Brasil.
Meritíssimo juiz muito orgulho do Sr . Corajoso ao extremo.