Governador Wilson Witzel e secretários estaduais Eduardo Lopes (Agricultura) e Ana Lúcia Santoro (Ambiente e Sustentabilidade) (Montagem: Elaibe de Souza)
Não é só Wilson Wizel (PSC) que vem participar do RioAgro Coop nesta quinta-feira, 23 de maio, na sede da Coagro em Campos. O governador virá acompanhado de dois dos seus secretários: Eduardo Lopes, da Agricultura, e Ana Lúcia Santoro, do Ambiente e Sustentabilidade.
Além dos titulares das pastas, o Witizel trará também dois subsecretários que irão participar de painéis e palestras: Adriano Lopes, adjunto de Agricultura Familiar; e Renata Bley, de Recursos Hídricos e Sustentabilidade do estado do Rio de Janeiro. Quem também participará do RioAgro Coop é o prefeito de Campos, Rafael Diniz (PPS), que preside o Cidennf ((Consórcio Público Intermunicipal de Desenvolvimento do Norte e Noroeste Fluminense)
A partir das 7h da manhã desta quarta (25), o RioAgro Coop do dia seguinte será a pauta principal do Folha no Ar, na Folha FM 98,3. Serão três entrevistados no programa, todos ligados ao evento, um em cada bloco: o jornalista Sérgio Cunha, da Fatore, que organiza o evento; o engenheiro agrônomo Fredrico Paes, presidente da Coagro; e o produtor rural Tito Inojosa, presidente da Asflucan (Associação Fluminense do Plantadores de Cana).
Sérgio Cunha, Frederico Paes e Tito Inojosa estarã nesta quarta no Folha no Ar (Montagem de Eliabe de Souza, o Cássio Jr.)
Confira abaixo a programação completa da RioAgro Coop desta quinta:
9h30 – Credenciamento e instalação do evento.
10h – Chegada do Governador Wilson Witzel e abertura da Safra Sucroalcooleira 2019-2020.
10h30 – Formação da mesa diretiva solene.
11h – Painel: “A integração entre Consórcio de Municípios, Estado e Produtores na retomada do Agronegócio Fluminense”. Participantes: Frederico Paes, presidente da cooperativa de produtores Coagro, Vinicius Vianna, secretário executivo do Cindennf (Consórcio Público Intermunicipal de Desenvolvimento do Norte e Noroeste Fluminense).
11h30 – Intervalo com coffe break.
12h – Palestra
“Programa Mais Cooperativismo: desafios e oportunidades”. Palestrante: Márcio Lopes de Freitas, presidente da Organização das Cooperativas Brasileiras (OCB).
12h30 – Palestra
“Agricultura familiar e a expansão da fronteira rural do Estado do Rio.” Palestrantes: Alberto Figueiredo, ex-secretário de Agricultura do Estado do Rio, diretor da Sociedade Nacional de Agricultura (SNA) e Adriano Lopes, subsecretário adjunto de Agricultura Familiar do estado do Rio de Janeiro.
13h30 – Intervalo para almoço
14h30 – Palestra
“Portal Cooperativas nas Compras Públicas: oportunidades para o Rio de Janeiro”. Palestrante: Leonardo Reis, analista de Relações Institucionais da OCB Brasil.
15h – Palestra
“Gargalos e soluções para a bacia leiteira fluminense”. Palestrante: Silvio Marini, presidente da Cooperativa Regional Agropecuária de Macuco.
15h30 – Palestra
“O semiárido como novo regime climático do Estado do Rio: marco legal e iniciativas”. Participantes: secretário Estadual de Agricultura, Eduardo Lopes, deputado federal Wladimir Garotinho, e professor José Carlos Mendonça, pesquisador e coordenador de Agrometeorologia da Universidade Estadual do Norte Fluminense.
16h – Palestra
“Riscos e oportunidades para o cooperativismo agro na economia 4.0”. Palestrante: Abdul Nasser, superintendente do SESCOOP/RJ.
16h30 – Palestra
“Uso racional de recursos hídricos na irrigação e benefícios ao agronegócio”. Palestrante: Renata Bley, subsecretária de Recursos Hídricos e Sustentabilidade do estado do Rio de Janeiro e professor João Siqueira, da Universidade Estadual de Norte Fluminense (UENF) e presidente do Comitê do Baixo Paraíba.
Em 1984, Niki Lauda cruza a linha de chegada do GP de Portugal para se sagrar tricampeão de F1
O austríaco Niki Lauda morreu hoje aos 70 anos. Já era campeão do mundo de Fórmula 1 em 1976, quando sofreu um acidente gravíssimo, que o deixou com cicatrizes por boa parte do corpo. E, mesmo agonizando, expulsou o padre que foi lhe dar extrema unção. Ultrapassou a morte para ser campeão mais duas vezes: em 1977 e 1984.
Apenas seis semanas após seu grave acidente em 1976, Lauda voltou a correr no GP da Itália
Lauda competiu com os três maiores pilotos que o Brasil teve na F1: Emerson Fittipalpi, Nelson Piquet e Ayrton Senna. E bateu os tês, assim como o francês Alain Prost, seu companheiro de McLaren no ano em que se tornaria tricampeão na grande competição automobilística do planeta.
Sua rivalidade no começo de carreira com outro grande piloto, o inglês James Hunt, gerou um bom filme: “Rush” (2013), de Ron Howard. Na vida real, Lauda foi ao lado de Senna e Prost o maior piloto que já vi, inclusive quando criança fascinada em Jacarepaguá. E foi um homem corajoso. Daqueles que Shakespeare escreveu só morrerem uma vez.
“Um orador sem megafone”. Para o filósofo Aristóteles, este era o limite da democracia. Fundado na Atenas do séc. VI a.C., o “governo do povo” (demos, povo + kratos, poder) era direto. Na ágora, espaço público aberto a todo cidadão, cada um deles tinha direito a voz e voto em qualquer decisão pública. E, a partir dela, todos poderiam se revezar entre as funções de governante, legislador, magistrado e comandante militar. Construído para gerir cidades-estado, não países, teve em seu auge entre 30 e 60 mil cidadãos. Daí seu limite oral traçado por Aristóteles — “cuja cabeça sustenta ainda hoje o Ocidente”, como cantou o Caetano.
Getúlio Vargas lançou as bases da industrialização do Brasil
A democracia representativa, como a conhecemos, é uma invenção iluminista do séc. XVIII. Não por acaso, nos servem até hoje de modelo as repúblicas formadas nas duas mais famosas revoluções do Iluminismo: a Americana de 1776, na independência dos EUA, e a Francesa de 1789. A ambas, na economia, se sobrepôs outra, anterior: a Revolução Liberal da Inglaterra entre 1640 e 1688. Ela seria consolidada pela Revolução Industrial iniciada também naquele país em 1760 e expandida a parte do mundo no século seguinte — que, no Brasil, só chegaria nos anos 1940, com a fundação da Companhia Siderúrgica Nacional (CSN) por Getúlio Vargas.
Obra de Montesquieu lançou as bases do estado moderno
Em termos do estado moderno, prevaleceu o desenho tripartite do filósofo Montesquieu em seu “Do Espírito das Leis”, publicado em 1748, com a divisão entre os poderes Executivo, Legislativo e Judiciário. Olhando ao que veio de seis séculos antes Cristo até nossos dias, os antigos gregos não chamariam nosso sistema de governo de democracia. A sua era direta, sem representantes. Vissem o Brasil de hoje, por exemplo, com seus governantes e legisladores eleitos de quatro em quatro anos, seus magistrados aprovados em concurso público, de segunda e terceira instâncias nomeadas pelo Executivo, classificariam nosso regime como oligarquia (“governo de poucos”).
Não é preciso se rebaixar ao “complexo de vira-latas” do presidente Jair Bolsonaro (PSL), batendo continência à bandeira dos EUA, para se constatar que aquele país é a referência mais sólida da democracia representativa. É o único no mundo que, desde o séc. XVIII, elege presidente e Congresso de quatro em quatro anos. Nem o fato de terem disputado uma fraticida Guerra Civil (1861/65) e sido protagonistas de duas Guerras Mundiais (1914/18 e 1939/45), afetaram seu compromisso entre eleitor e urna. De fato, lá até juízes, promotores e xerifes (equivalentes aos nossos comandantes de guarda municipal) são escolhidos pelo voto popular.
Sem a mesma solidez institucional, o Brasil padece com um governo federal que parece perigosamente próximo ao fim, antes mesmo de ter de fato começado. Há menos de cinco meses no poder, Bolsonaro foi eleito por um fenômeno que deu sua primeira demonstração no mundo com a Primavera Árabe de 2011. Tsunami sobre os países islâmicos do Oriente Médio, Norte da África e parte da Ásia, aquele foi o primeiro movimento de massas da humanidade que não nasceu em nenhum partido político, sindicato, quartel militar, revelação religiosa, ou catástrofe natural, mas através das redes sociais.
Primavera Árabe de 2011 no Egito
No Brasil, o fenômeno demorou menos a chegar que a Revolução Industrial. Em 2013, mobilizadas pelas redes sociais, as Jornadas de Junho balançaram o governo Dilma Rousseff. E deram fim ao monopólio de 21 anos que o PT exercia nas manifestações de rua do país, com suas filiais UNE, CUT e MST, desde que os “caras-pintadas” liderados pelo hoje petista Lindbergh Farias levaram em 1992 ao impeachment do ex-presidente Fernando Collor — ironicamente, depois companheiro de Lindbergh no Senado.
Jornadas de Junho de 2013 em Brasília
Nascida de uma pauta tão difusa quanto a Primavera Árabe, as Jornadas de Junho trouxeram às ruas as primeiras camisas amarelas da seleção de futebol, que dominariam os protestos no país de 2015 e 2016. A motivação se afunilara pela deposição de Dilma, que conduziu o país à maior recessão econômica da sua história. O Congresso Nacional se aliou aos protestos para “estancar a sangria” da Lava Jato, como o ex-senador Romero Jucá (MDB) foi flagrado em gravação, enquanto era um dos principais articuladores do impeachment da presidente.
Movimentação na av. paulista das 9h às 19h de 13 de março de 2016, no protesto pelo impeachment de Dilma
Em que pesem todas as denúncias de corrupção contra Michel Temer (MDB), que já lhe geraram duas prisões, o vice eleito por quem votou no PT em 2010 e 2014 assumiu a presidência e conseguiu entregar um país em situação econômica menos pior do que pegou. Não conseguiu fazer a reforma da Previdência por conta de outra gravação, feita pelo empresário Joesley Batista, que fez sua fortuna nos governos petistas e cujo advogado seria flagrado num bar de Brasília com o então procurador-geral da República, Rodrigo Janot.
Então procurador-geral da República, Rodrigo Janot escondido atrás de grades de cerveja em um bar de Brasília, com Pierpaolo Botitni, advogado de Joesley
Em outro áudio de conversa com Joesley, Aécio Neves foi flagrado pedindo dinheiro e falando em mandar matar como bandido reles. Após quase vencer a eleição presidencial de 2014, arrastou consigo um PSDB que já não vinha bem das pernas e, como o PT, não soube cortar na própria carne. Com Lula preso pela Lava Jato e impedido de concorrer em 2018, o fenômeno Bolsonaro foi o tsunami que varreu as urnas, com congêneres ainda mais surpreendentes, como Wilson Witzel (PSC) no Rio e Romeu Zema (Novo), nas Minas de Aécio. E todos foram eleitos a partir do discurso antiestablishment ecoado nas redes sociais.
Em áudio com Joesley, frase de Aécio que o nivelou a um bandido qualquer
Rodrigo Maia lidera o Congresso e, no vácuo do governo, as reformas do país
O Congresso, que julgou poder usar o governo Temer como teflon às investigações de corrupção, foi também solapado pelo voto. O Senado teve renovação de 85,19%, enquanto a Câmara Federal, de 52,54%. Ainda assim, diante da fraqueza de um presidente eleito com discurso de autoridade, mas que não consegue mandar nem nos próprios filhos, tem imposto sucessivas derrotas ao novo governo. E, de quebra, enfraquecido a Lava Jato, cujo principal símbolo, o ex-juiz federal Sérgio Moro, se deixou reduzir a “funcionário de Bolsonaro” — como o presidente da Câmara Rodrigo Maia (DEM) se referiu ao ministro da Justiça. Isso, antes de lhe desarmar do Coaf e mirar no decreto presidencial de flexibilização do porte de arma.
Sem articulação política, enfraquecida após o ministro da Casa Civil Gustavo Bebianno (PSL) ser exonerado por um simples vereador carioca, mas investido do poder imperial de filho do “rei”, tudo indica que Bolsonaro sangrará mais com as investigações do Ministério Público sobre outro rebento. Não há olhar desapaixonado sobre o senador Flávio (PSL) incapaz de ver os fortes indícios de lavagem de dinheiro, fraude fiscal, “rachadinha”, ou da relação intestina da sua família com as milícias fluminenses.
Laedeados por Fabrício Queiroz, Jair e Flávio Bolsonaro
É sobre um presidente acuado que o Congresso avança abertamente: tomará para si a reforma da Previdência e projeta fazer na sequência a reforma tributária, no que já está sendo chamado de implantação do “parlamentarismo branco” no Brasil. Em reação, os defensores do governo, em número menor a cada nova pesquisa, planejam manifestações para o próximo dia 26. Nas redes sociais, muitos já pregam a invasão do Congresso e do Supremo Tribunal Federal (STF). Inadmissível no estado democrático de direito, seria perigoso à sobrevivência de qualquer ditador cujos filhos e astrólogo atacassem diariamente sua cúpula militar.
As redes sociais parecem ter dado ao mundo o “megafone” aristotélico. A partir do seu eco, os limites da democracia representativa foram extrapolados numa nova ágora virtual, em que cada cidadão quer ter sua voz ouvida em tempo real, não mais só de quatro em quatro anos. No Brasil e no mundo, a direita teve a virtude de ter entendido antes o que o filósofo Umberto Eco chamou de “voz aos idiotas”. Afinal, se o jornalista William Bonner disse em passado recente que apresentava o Jornal Nacional ao Homer Simpson, com as redes sociais todo Homer Simpson passou a se achar um William Bonner.
Homer em episódio de “Os SImpsons” no Brasil
Ao colocar em xeque a democracia representativa, mas cujo mate ninguém ainda conhece, esse novo jogo mundial fez de Bolsonaro presidente. E foi nele que teve sua primeira derrota, nos protestos do dia 15 contra os cortes do governo na educação pública, que tomaram as ruas de todo o país. As hashtags #tsunamidaeducação e #TodosPelaEducação registraram mais de 400 mil compartilhamentos no Twitter. Já a hashtag oposta #BolsonaroTemRazão teve só 37 mil compartilhamentos.
Protesto contra cortes na educação no Boulevard de Campos e nas ruas de outras 200 cidades do Brasil (Foto: Isaias Fernandes – Folha da Manhã)
Chamar os manifestantes pela educação de “idiotas” e “imbecis” não altera a soma. Mas pode influenciar na subtração.
Na Esplanada dos Ministérios, em Brasília, o protesto contra os cortes da Educação pelo governo Bolsonaro (Foto: Dida Sampaio – Estadão Conteúdo)
“Idiotas úteis, uns imbecis que estão sendo usados como massa de manobra”. Em Dallas, no Texas, foi assim que o presidente Jair Bolsonaro se referiu aos milhares de brasileiros que saíram hoje às ruas de cerca de 150 cidades — incluindo Campos (aqui) — de todos os estados do país, para protestar contra os cortes federais de 28,84% nas verbas não obrigatórias da educação.
Do Planalto Central à planície goitacá, a manifestação contra cortes na educação pública no Boulevard (Foto: Isaias Fernandes – Folha da Manhã)
Bolsonaro alegou que os manifestantes não saberiam a fórmula da água ou multiplicar 7 x 8. E demonstrou desconhecer o inc. XVI do Art. 5 da Constituição: “todos podem reunir-se pacificamente, sem armas, em locais abertos ao público, independentemente de autorização, desde que não frustrem outra reunião anteriormente convocada para o mesmo local, sendo apenas exigido prévio aviso à autoridade competente”.
No exercício do seu direito de protesto, manifestantes fecharam a Alberto Lamego, em frente à Uenf, e impediram o direito de ir e vir (Foto: Divulgação)
Bem verdade que atos como a queima de pneus, feita pela manhã em frente à Uenf, fechando a avenida Alberto Lamego, afetou diretamente quem não tem nada a ver com a história. E tem que ter seu direito de ir e vir respeitado, tanto quanto o direito de protestar. Em Brasília, ato semelhante gerou ação das forças de segurança para liberar vias públicas. Mas, até o momento, felizmente não foram registrados enfrentamentos.
Quando classifica seus críticos como “idiotas úteis” ou “imbecis usados como massa manobra”, Bolsonaro endossa quem usa os mesmos termos ofensivos para classificar os milhões de brasileiros que apoiam seu governo — em número menor a cada nova pesquisa. Como definiu a deputada do PSL e autora do pedido de impeachment de Dilma, Janaína Paschoal, é uma reedição de “sinal trocado” do “nós contra eles” proposto em passado recente pelo PT. E nada indica que terá fim diferente.
Bolsonaro hoje em Dallas, cidade texana que foi palco do assassinato de John Kennedy
Na cidade texana famosa por ter sido o palco do tiro disparado contra a cabeça do presidente dos EUA John Kennedy, seu colega brasileiro pode ter dado mais um tiro no pé.
Charge do José Renato publicada hoje (08) na Folha
Vaquinha para Glaucenir
Para exemplificar a mudança de paradigmas no país, é comum lembrar que hoje o brasileiro não sabe mais a escalação da seleção masculina de futebol. Mas conhece de cor os ministros do Supremo Tribunal Federal (STF). Para a torcida que cobra reforço no ataque à corrupção, o ministro Gilmar Mendes é o “craque” do time adversário. Sobe ele, a resenha da segunda (06) se deu nos R$ 27 mil que ganhou (aqui) no Tribunal de Justiça do Estado do Rio (TJ-RJ), por danos morais, do juiz Glaucenir Oliveira. Na terça (07), a reação virou notícia nacional (aqui) no site O Antagonista: magistrados fizeram uma “vaquinha” para ajudar o colega de Campos a pagar.
Origem do caso
Para quem não se lembra da origem do caso, era 20 de dezembro de 2017 e Anthony Garotinho (hoje, sem partido) estava preso há 28 dias por decisão de Glaucenir. Foi por conta da operação Caixa d’Água, que investigava a cobrança de propina pelo ex-governador a empreiteiros na gestão Rosinha (hoje, Patri) em Campos. O habeas corpus de Garotinho foi concedido monocraticamente por Gilmar pelo Tribunal Superior Eleitoral (TSE), no dia seguinte ao plenário ter encerrado a pauta daquele ano. Em grupo de WhatsApp, o juiz de Campos declarou em áudio vazado: “segundo os comentários que eu ouvi (…) a mala foi grande”.
Deus e Gilmar
Na ocasião da soltura de Garotinho, Zuenir Ventura escreveu (aqui) em O Globo: “Na saída da cadeia, o ex-governador Garotinho e simpatizantes oraram agradecendo ao Senhor a liberdade sem tornozeleira. Clarissa, a filha, louvou: ‘Deus é fiel’. Deveria estender o gesto de gratidão e acrescentar: ‘Gilmar também’. Afinal, além de fiel, ele é monocrático — aquele que prefere decidir sozinho. Como o Senhor”. Mais sutil, mas não menos contundente que o juiz de Campos, o jornalista de O Globo não foi processado. Sobre a vaquinha dos colegas para ajudar o magistrado goitacá a pagar danos morais a Gilmar, a coluna ouviu alguns juristas da cidade.
Solidariedade
Alguns, como o advogado Andral Tavares Filho, ex-presidente da OAB-Campos foram breves ao analisar a vaquinha: “Um relevante sinal de apoio de seus pares”. Atual presidente da OAB na comarca, Cristiano Miller foi na mesma linha: “Sem entrar no mérito do julgamento, penso que a vaquinha é uma forma de tentar demonstrar a união dos juízes em relação à condenação imposta ao magistrado campista”. Promotor de Justiça, Victor Queiroz também disse algo parecido: “A se confirmar a vaquinha, parece cuidar-se de um ato simbólico e respeitoso de solidariedade. Sem ofensa a ninguém”.
Leitura política
Outro ex-presidente da OAB-Campos, o advogado Geraldo Machado ofereceu contraditório: “A vaquinha me sugere um confronto, algo de tom corporativo, que mais contribui para o crescente desprestígio do Judiciário. É indisfarçável ato de insurreição que deveria se ouvir em muita coisa mais que sucede, como no ‘contingenciamento’ de verbas das universidades”. O advogado criminal Felipe Drumond também analisou o ato politicamente: “além de se tratar de um gesto de solidariedade dos magistrados ao colega Glaucenir, o ato traz, em si, uma forte manifestação política de indignação e de repulsa à condenação indenizatória”.
Leitura constitucional
Advogada constitucionalista, Helen Carneiro analisou: “Podemos vislumbrar pelo menos dois direitos constitucionais potencialmente lesados: o da privacidade, em especial o direito à inviolabilidade do sigilo nas comunicações telefônicas, além da livre manifestação de pensamento”. Na mesma linha, foi o advogado Robson Maciel Júnior: “Os desembargadores discutiram a questão da privacidade da mensagem em grupo de WhatsApp tornada pública. A adesão de magistrados para ajudar a pagar a indenização demonstra que, para alguns, realmente se tratava de mensagem de cunho privado”.
Censura e adesão
Advogado do Grupo Folha, João Paulo Granja fez menção a polêmicas recentes: “Em tempos em que o fantasma da censura parece assombrar os corredores do STF, louvável a iniciativa dos magistrados”. Também advogado, Rafael Crespo lembrou o ineditismo do apoio a Glaucenir: “Nos últimos tempos, tomei conhecimento de vaquinhas para figuras proeminentes da política, mas confesso que nunca assisti à iniciativa semelhante a um membro da magistratura”. Promotor, Marcelo Lessa abriu a adesão para além dos juízes: “Pretendo procurar o pessoal e oferecer alguma contribuição. O Glaucenir tem enorme valor, um juiz essencial para Campos”.
O Órgão Especial do Tribunal de Justiça do Rio de Janeiro condenou (aqui) o juiz Glaucenir de Oliveira a pagar 27 mil reais de indenização por dano moral a Gilmar Mendes.
Glaucenir acusou Gilmar de corrupção por ter concedido habeas corpus a Anthony Garotinho.
Magistrados organizaram uma vaquinha para ajudar Glaucenir a pagar a indenização.
Na pele de Rosângela Queiros, a Macabéa de Clarice Lispector transposta ao teatro por Arlete Sendra (Foto: Jean Barreto)
Antes de assistir “Eu fui Macabéa”, na noite de hoje, no Teatro de Bolso, a autora da peça, professora Arlete Sendra, me pediu que escrevesse após minhas impressões. Tenho profundo respeito por ela como literata de primeira grandeza no plaino goitacá. E foi a partir dessa base sólida que testemunhei sua estreia como dramaturga.
A peça de hoje faz parte de uma trilogia de personagens femininas de peso na literatura brasileira, transpostas ao teatro por Arlete. Macabéa é a protagonisa de “A Hora da Estrela”, último romance de Clarice Lispector. As outras duas são a Capitu, de “Dom Casmurro”, de Machado de Assis, e a Diadorim de “Grande Sertão: Veredas”, de Guimarães Rosa.
Órfão de pai e mãe ainda pequena, Macabéa é uma alagoana que sai do sertão à capital Maceió. Ela é criada por uma tia rígida com fartura de cocurutos na cabeça e privação do seu único objeto de desejo: goiabada com queijo. Após se mudar ao Rio, faz curso de datilografia e arruma emprego como secretária em um escritório.
Ciosa da sua virgindade, ela tem uma único relação amorosa, com o metalúrgico Olímpico. Também retirante do Nordeste, de onde saiu após matar um homem, ele sonha em ser deputado no romance de Clarice. Na peça de Arlete, o sonho fica oportunamente mais ambicioso: o metalúrgico almeja ser presidente. A identificação óbvia com Lula é um dos momentos que arrancam risos da plateia.
Magra pela vida de privações e pouco dotada de atributos físicos, Macabéa acaba perdendo o namorado para a carioca Glória. Loura oxigenada de formas generosas, ela “incha” o púbis de Olímpico à primeira vista — em outro momento que o público responde com risos.
Se a vida de Macabéa já era prenhe de agruras e desencantos, ela ganha contorno mais dramático com o diagnóstico de tuberculose — doença que, por ingenuidade, não dá a dimensão devida. Com consciência pesada por ter lhe roubado o namorado, Glória convida a nordestina para um lanche, na qual ela come tanto que passa mal. Mas não vomita por considerar desperdício de comida um “luxo de rico”.
É também Glória quem paga e recomenda uma consulta de Macabéa a uma cartomante: Madama Carlota. Como no verso de um fado, ela incute na sofrida nordestina a “saudade do futuro”, onde lhe esperaria o amor verdadeiro com um estrangeiro louro e rico chamado Hanz. Mas, na verdade, acaba por aproximá-la do desfecho trágico e solitário.
Como no romance de Clarice, o Nordeste da peça não foge do lugar comum. Mas a grande virtude das duas obras é humanizar Macabéa em seus conflitos internos e com o mundo que a cerca: do sertão, a Maceió, ao Rio. E como no romance “O Leitor”, de Bernhard Schlink, transformado pelo diretor Stephen Daldry no belo filme homônimo, o aprendizado da palavra escrita é fundamental nesse processo de humanização.
A ideia de partir de obras prévias não diminui o trabalho de Arlete. Desde o séc. XVI, Shakespeare era conhecido por escrever suas peças em cima de histórias já existentes. Assim como Sófocles, Ésquilo e Eurípedes fundamentaram o teatro na história e mitologia gregas das obras de Homero e Hesíodo. É pela dramaturga campista, não pela romancista ucraniana e naturalizada brasileira, que a chuva do encontro de Macabéa com Olímpico é comparada ao “esperma que fecunda a terra”.
Com justiça mais conhecido pelo talento na cenografia, do que por seu trabalho com atores, Fernando Rossi tem a virtude na direção de deixar a atriz Rosângela Queiroz à vontade para encarar o monólogo de Arlete. E a intérprete dá conta do recado com pungência. Que venham agora a Capitu de Katiana Rodrigues e a Diadorim de Adriana Medeiros.
Encerrada ontem, a semana do Folha no Ar 1ª edição, na Folha FM 98,3, de 7 às 8h45 de segunda a sexta, a rodada foi produtiva e diversa.
Na última segunda (29), o deputado estadual Gil Vianna (PSL) refirmou (aqui) sua pré-candidatura a prefeito de Campos; na terça (30) o presidente do IMTT, Felipe Quintanilha, detalhou (aqui) o novo modelo do transporte público da cidade; na quarta (01), o veternao garçom do gabinete do prefeito, Seu Zé, contou (aqui) um pouco dos bastidores do poder nos últimos 30 anos; na quinta (02), a prefeita de Quissamã, Fátima Pacheco (Pode), lançou (aqui) sua candidatura à reeleição; e, na sexta (03), o jornalista Ricardo André Vasnconcelos analisou (aqui) as perspectivas ao pleito municipal de 2020 e deu dicas de melhor aproveitamento político na comunicação do governo Rafael Diniz (PPS).
Bruno Dauaire, Fernando da Silveira, Rafael Crespo Machado, Cristina Lima, Murillo Dieguez e Roberto Uchoa (Montagem: Eliabe de Souza, o Cássio Jr.)
A próxima semana do Folha no Ar promete ser igulamente diversificada. Nesta segunda (06), o o deputado estadual Bruno Dauaire (PSC) será o entrevistado do programa. A semana segue na terça (07) com dois convidados, os advogados e professores Fernando da Silveira e Rafael Crespo Machado. Na quarta (08), será a vez da presidente da Fundação Cultural Jornalista Oswaldo Lima, Cristina Lima; com o empresário e colunista da Folha Murillo Dieguez na quinta (09); e o policial federal e especialista em segurança pública Roberto Uchoa na sexta (10).
O ouvinte que quiser participar diretamente com perguntas pode fazê-lo aqui, na página da Folha FM no Facebbok, com comentários nas lives do programa. Até lá.