Polemista, velho rockeiro analisa “domingo histórico” em defesa do governo Bolsonaro

 

Lobão em protesto pelo impeachment de Dilma na av. Paulista, em 2014 (Foto: Daniel Teixeira – Estadão Conteúdo)

 

Lobão é e sempre foi um polemista. Mas, ao lado de Cazuza (1958/1990) e Renato Russo (1960/1996), talvez seja o grande compositor do BRock, movimento que deu a trilha sonora dos hoje míticos anos 1980. Tão bom letrista quanto seus dois pares vítimas do HIV, sobreviveu a eles para se tornar um músico muito superior, capaz de tocar todos os instrumentos dos seus discos.

 

Amigos e parceiros eventuais, Cazuza e Lobão nos anos 1980

 

Autobiografia escrita a quatro mãos com o jornalista Cláudio Tognolli

Autodidata de grande erudição, nos últimos anos se revelou também um escritor de sucesso. Seu primeiro livro foi um imediato bestseller. A autobiografia “50 Anos a Mil”, lançado em 2010, é leitura prazerosa. E necessária para se compreender a década de 1980, transição da ditadura militar à Nova República, pelos olhos de quem à época era jovem e transgressor.

Seu segundo livro “Manifesto no Nada na Terra”, de 2013, é fruto de outra caraterística da personalidade multifacetada de Lobão: sua enorme pretensão. Busca desmontar não só o modernismo brasileiro a partir do manifesto de 1922, como tudo que veio de lá para cá na cultura do Brasil. E centra fogo nos ícones da MPB Caetano Veloso, Gilberto Gil e Chico Buarque, por quem o rockeiro desenvolveu uma obsessão edipiana, temperada por um nítido e justificado complexo de inferioridade.

Não li seu terceiro livro, “Em Busca do Rigor e da Misercórdia”, de 2015. E achei o quarto, “Guia Politicamente Incorreto dos Anos 80 Pelo Rock”, de 2017, uma colagem oportunista das suas duas primeiras obras literárias. Mas por músicas, livros e lives nas redes sociais, Lobão continua sendo referência a uma juventude de classe média do país, que só tinha vivido a partir dos governos do PT e, em reação, foi a primeira a aderir em peso à candidatura vitoriosa de Jair Bolsonaro (PSL) em 2018.

 

Nos anos 1980, íntimo de José Dirceu e Lula

 

Recentemente, Lobão rompeu com o dublê de astrólgo e filósofo Olavo de Carvalho, de quem se aproximara em sua migração de militante petista a antipetista ferrenho. Não sem razão, o músico classificou como “sórdido” o ataque do guru da família presidencial ao general Eduardo Villas Bôas. O ex-comandante do Exército Brasileiro, atual assessor do GSI no governo federal e portador de doença degenerativa foi chamado por Olavo de “doente preso a uma cadeira de rodas”.

 

 

Lobão advertiu que o governo Bolsonaro iria “ruir” se continuasse sob a tutela olavete. E rompeu ruidasamente com o próprio presidente: “não tem a menor capacidade intelectual e emocional para poder gerir o Brasil”. O músico se juntou à parte cada vez maior da direita brasileira que chega à mesma conclusão: o economista Delfim Neto, o filósofo Luiz Felipe Pondé, o historiador Marco Antonio Villa, o empresário Flávio Rocha e os jornalistas Reinaldo Azevedo, Diogo Mainardi, Rachel Sheherazade, Felipe Moura e Carlos Andreazza.

Como esses e alguns outros, Lobão foi severamente crítico às manifestações de ontem em defesa do governo Bolsonaro. Contra elas também se posisionaram Janaína Paschoal (PSL), autora do pedido de impeachment de Dilma e deputada estadual mais votada do Brasil, e o MBL do deputado federal Kim Kataguiri (DEM). E qualquer um que classificar algum desses como esquerdista, não passa no psicotécnico.

Sem papas na língua, Lobão analisou em vídeo o ovo de serpente que ajudou a chocar, eclodido nas manifestações de ontem contra o Congresso Nacional e o Supremo Tribunal Federal (STF). E o que elas, em seu entender, apontam ao amanhã. Mesmo a quem não gosta do velho rockeiro — pelos motivos certos e, sobretudo, pelos errados —, vale a pena conferir:

 

 

Brasil vai de novo às ruas entre as bandeiras da Educação e da defesa de Bolsonaro

 

Hoje, em frente ao Congresso, um típico tiozinho do WhatsApp se egoelava contra o STF ao lado de um banner que falava em três poderes: Exército, Marinha e Aeronáutica (Foto: O Antagonista)

 

Não foi um fiasco. Mas quem saiu hoje às ruas de 156 cidades brasileiras, em defesa do governo Jair Bolsonaro (PSL), ficou um pouco aquém dos 222 municípios do país que, no último dia 15, registraram manifestações em defesa da educação pública, ameaçada pelos cortes anunciados por um MEC comandado pelo olavista Abraham Weintraub.

Não é preciso ser bolsonarista para ser a favor de algumas pautas defendidas nos protestos de hoje. É o caso da demanda aritmética da reforma da Previdência, com a qual o presidente nunca se empenhou; ou a manutenção do Coaf no ministério da Justiça e Segurança, ao contrário do que a Câmara Federal recentemente decidiu.

Mas é estranho que quem saia às ruas contra a corrupção ignore os indícios de lavagem de dinheiro, fraude fiscal e “rachadinha” que pesam sobre o senador Flávio Bolsonaro (PSL), ou as ligações intestinas da sua famíla com as milícias cariocas. E que o arauto da honestidade vestido de verde e amarelo não fique vermelho diante da pergunta: como Fabrício Queiroz, ex-assessor do filho 01 do presidente, arrumou R$ 133,58 mil em dinheiro para pagar despesas médicas?

Mais inadmissível foi ver as faixas nas manifestações de hoje pregando o fechamento do Congresso Nacional e do Supremo Tribunal Federal (STF). Mesmo após Bolsonaro ter advertido publicamente que essas seriam pautas dos protestos em defesa do governo Nicolás Maduro na Venezuela, não do seu, a realidade revelou o mesmo espírito autoritário de ambos — independente das ideologias que se dizem opostas.

Congresso, STF e governo federal merecem críticas. No Brasil ou qualquer outro estado democrático de direito. Mas este deixa de existir quando um dos três poderes, insituídos desde o séc. XVIII por Montesquieu, acha que pode funcionar sem os limites impostos pelos outros dois. É o que se vive hoje tanto na Venezuela sob o regime esquerdista de Maduro, quanto na Hungria do direitista Viktor Orbán, com quem o deputado federal Eduardo Bolsonaro (PSL) se reuniu em abril.

No Brasil do último domingo de maio, os ataques ao Congresso e ao STF se limitaram a faixas e palavras de ordem. Diferente do que chegou a ser pregado nas redes sociais durante as convocações das manifestações, as duas instituições não tiveram suas sedes invadidas em Brasília. Caso contrário, na transição dos delírios virtuais ao mundo real, poderiam descobrir que o primeiro risco de quem quer bater é apanhar.

Ainda assim, sobre um dos trios elétricos hoje em frente ao Congresso, um manifestante se esgoelava ao microfone: “Abaixo o STF”. E o fazia ao lado de um banner onde se lia: “A favor dos três poderes: Exército, Marinha e Aeronáutica”. Apesar da afronta direta à democracia, o banner não foi tocado. Diferente do que os defensores de Bolsonaro fizeram em Curitiba, quando arrancaram sob aplausos uma faixa afixada à fachada do prédio histórico da Universidade Federal do Paraná (UFPR). Nela estava escrito: “Em defesa da Educação”.

Entre as duas bandeiras, não deveria ser difícil escolher.

 

Sob aplausos de quem se vestiu de verde e amarelo, bolsonaristas arrancam em Curitiba uma faixa em defesa da Educação, na fachada da Universidade Federal do Paraná  (Foto: Twitter de Ricardo Marcelo Fonseca, reitor da universidade)

 

Com Rafael e Wladimir, Igreja Católica nivela o debate político de Campos para 2020

 

 

Dom Roberto Ferrería Paz abriu e fechou o encontro com lideranças políticas de Campos na Igreja do Saco (Foto: Genilson Pessanha – Folha da Manhã)

 

Igreja nivela debate político

Se nas rodas de conversa, nas redes sociais e na imprensa, a eleição a prefeito de Campos em 2020 já começou, ontem foi um dia em que a Igreja Católica chamou para si a responsabilidade de nivelar o debate por cima. Como a coluna anunciou, várias lideranças políticas da região foram convidadas pelo bispo Dom Roberto Ferrería Paz para um encontro às 10h da manhã na Igreja Nossa Senhora do Rosário, a popular Igreja do Saco. Se nem todos puderam comparecer, os dois nomes que despontam como mais fortes candidatos ao governo da cidade estiveram presentes: o prefeito Rafael Diniz (PPS) e o deputado federal Wladimir Garotinho (PSD).

 

“Valores, não conchavos”

Primeiro a usar a palavra, Dom Roberto advertiu: “A política não pode se resumir ao poder pelo poder, mas tem que ser usada para servir à população”. Ele ressaltou a “importância da palavra de Deus, que deve se aproximar da cidade, reconhecendo sua pluralidade”. E disse que “a Constituição de 1988 é cidadã porque tem nela os valores cristãos do diálogo e da inclusão”. Sobre 2020, ressalvou que as discussões têm que se dar “entre valores, não conchavos”, criticando o que chamou de “publicidade do medo”, lançada na política do mundo por Steve Bannon, estrategista da campanha vitoriosa de Donald Trump a presidente dos EUA em 2016.

 

Rafael

Após Dom Roberto, Rafael Diniz fez uso da palavra. O prefeito admitiu que a cidade precisa avançar mais, mas falou do que seu governo já fez. Na educação, destacou “a primeira escola em tempo integral, cuidando dos filhos de Campos com quatro refeições diárias e qualidade no ensino, com reforço nas aulas de português e matemática”. E lembrou que as Fundações Municipais dos Esportes e da Criança atendem mais de 36 mil jovens. Ressaltou que o “momento da fartura (dos royalties do petróleo) já passou” e que “a cidade e a região não podem mais ser usados como trampolim, com objetivos eleitoreiros e irresponsáveis”.

 

Wladimir

Depois de Rafael, foi a vez de Wladimir. Se o uso da cidade como “trampolim eleitoreiro”, lembrado pelo prefeito, pareceu uma referência direta ao ex-governador Anthony Garotinho (sem partido), seu filho preferiu não vestir a carapuça. O deputado disse que o momento não era de discussão política, mas de união na luta contra a desigualdade social, cujo acirramento no país atribuiu ao desemprego: “O desenvolvimento econômico gera empregos. E hoje temos até engenheiros desempregados trabalhando como motoristas de Uber”. Conciso em sua fala, ele disse estar ali “mais para ouvir e aprender”.

 

Os demais    

Após Wladimir, quem falou foi o vice-prefeito de São João da Barra, Alexandre Rosa (PRB), representando a prefeita Carla Machado (PP). Ressaltou a importância do Porto do Açu para a economia da região e a mudança no comportamento do eleitor, demonstrado no pleito de 2018. Depois dele, falaram os vereadores Eduardo Crespo (PR) e Josiane Morumbi (PRP), o odontólogo Alexandre Buchaul, dois representantes do Partido Novo e, por último, outros dois, do movimento Direita Campos. Também presentes, os vereadores Jairinho É Show (PTC) e Fred Machado (PPS), presidente do Legislativo goitacá, não fizeram uso da palavra.

 

Pior analfabeto

Dom Roberto voltou a falar para encerrar o encontro. Clérigo considerado progressista, ele não deixou que a direita radical desse a última palavra na manhã de ontem. No que poderia servir de advertência a alguns dos presentes, como a todos aqueles que hoje planejam protestar pelo país em apoio ao governo Jair Bolsonaro (PSL), o bispo de Campos lembrou: “Há dois tipos de analfabetos, os políticos, dos quais nos fala (o dramaturgo alemão) Bertolt Bercht; e os religiosos, que muitas vezes usam o nome de Deus em vão. A união dos dois produz o pior tipo: o analfabeto político que pensa poder usar a religião”.

 

Pecados e virtude

O Estado é laico. Mas com todos os seus pecados ao longo da história, das Cruzadas à venda de indulgências que gerou o protestantismo, da omissão contra o nazifascismo na II Guerra aos recentes casos de pedofilia, a Igreja Católica mostra a importância dos seus 2 mil anos de tradição no debate político de Campos. Dom Roberto lembrou que se, entre os três pilares da Revolução Francesa, a igualdade é mais cara à esquerda, e a liberdade à direita, o maior valor do cristão é a fraternidade. Conservador que marcou a cidade em nove mandatos de vereador, cujo busto está diante da Igreja do Saco, o padre Antonio Ribeiro do Rosário (1909/2004) aprovaria.

 

Publicado hoje (26) na Folha da Manhã

 

George Coutinho — Campos tem o que comemorar com a retomada das obras da UFF

 

Cidade que há anos se transformou em polo universitário, Campos ontem teve um dia feliz. Cinco deputados federais — Wladimir Garotinho (PSD), Clarissa Garotinho (Pros), Hugo Leal (PSD), Chico D’Ângelo (PDT) e Talíria Petrone (Psol) —  se comprometeram (aqui) com a emenda de bancada que deve garantir R$ 50 milhões, no Orçamento da União de 2020, para que a UFF-Campos retome e conclua as obras abandonadas dos seus dois novos prédios, às margens da av. XV de Novembro.

Diretor da UFF-Campos, Roberto César Rosendo disse ontem acreditar que bastará para a conclusão das obras, paradas na metade, que devem ser retomadas já no segundo semestre de 2020. Quem também se manifestou foi outro professor da instituição federal de ensino superior, o sociólogo e cientista político George Gomes Coutinho. Abaixo, o que ele disse sobre o assunto ao blog, que toma a liberdade de fazer suas as palavras dele: “Campos tem definitivamente o que comemorar com essa excelente notícia”.

 

Prédios abandonados da UFF Campos, às margens da av. XV de Novembro (Foto: Folha da Manhã)

 

George Gomes Coutinho

Neste momento em que a educação brasileira no geral e, em particular, o ensino público superior federal encontram-se em destaque no debate público brasileiro na atual conjuntura mais por ataques de setores alinhados com uma perspectiva obscurantista e não tanto por seus avanços e contribuições (mesmo que ainda insuficientes), as notícias sobre o campus da UFF em Campos são, sem dúvida, uma bela injeção de ânimo para docentes, técnico-administrativos, alunos de pós-graduação e para os estudantes de graduação, algo em torno de 3.000 pessoas. Não obstante este “núcleo duro acadêmico”, ainda há o público frequentador dos projetos de extensão universitária em vigor no campus, vide por exemplo o longevo projeto da Uniti (Universidade da Terceira Idade), que atende pessoas oriundas da comunidade campista.

A finalização dos dois prédios da avenida XV de Novembro se traduz na instalação da vasta comunidade da UFF Campos em salas de aula modernas, gabinetes para pesquisadores-docentes (que possibilitam a acomodação que permite um melhor aproveitamento dos recursos humanos de alta qualificação que temos tendo espaço real para produção de conhecimento em tempo integral nas dependências da própria instituição), além da melhor acomodação de projetos sócio-culturais no galpão da antiga RFFSA a ser utilizado de maneira permanente com projetos de vanguarda e intervenções de interesse da população das regiões Norte e Noroeste Fluminenses.

Para além de projetos de pesquisa, projetos de extensão voltados para o público amplo, cursos de graduação e pós-graduação stricto sensu, os impactos nos arredores, onde efetivamente estão instalados os dois prédios, costumam gerar demanda por moradia estudantil, movimentação do comércio local, ampliação de equipamentos urbanos e demanda por melhoria de acessibilidade e transporte público. Em suma, os beneficiados vão para muito além do “núcleo duro acadêmico”. Os moradores dos arredores ganham, a cidade ganha e a região contará com uma instituição de ensino superior que se encontra na 6ª posição dentre as Universidades da América Latina segundo o Round University Ranking com melhores condições de infra-estrutura. Campos tem definitivamente o que comemorar com essa excelente notícia.

 

 

Emenda na Câmara Federal de R$ 50 milhões para concluir prédios da UFF em Campos

 

Prédios abandonados da UFF Campos, às margens da av. XV de Novembro (Foto: Folha da Manhã)

 

Principal pauta da UFF em Campos, a obra abandonada dos prédios da universidade às margens da av. XV de Novembro deu um passo importante em Brasília para sua retomada e conclusão. O deputado federal Wladimir Garotinho (PSD) informou ao blog que ele e mais quatro colegas da bancada fluminense estão comprometidos com uma emenda de bancada no valor de R$ 50 milhões para a conclusão dos dois novos prédios da UFF, programada para o Orçamento da União em 2020.

 

Deputados federais Wladimir, Clarissa, Hugo Leal, Chico D’Ângelo e Talíria Petrone já estariam comprometidos com emenda de bancada para a UFF-Campos (Montagem: Eliabe de Souza, o Cássio Jr.)

 

Além de Wladimir, já estariam fechados com a iniciativa os também deputados federais Clarissa Garotinho (Pros), Hugo Leal (PSD), Chico D’Ângelo (PDT) e Talíria Petrone (Psol). Esta última adiantou que conversaria com o colega de Campos sobre os prédios da UFF, em entrevista publicada na Folha (aqui) no útimo dia 11.  Para uma emenda de bancada é necessário o mínimo cinco assinaturas, que já estariam garantidas. E teria caráter impositivo sobre o Executivo, numa da muitas derrotas impostas ao governo Jair Bolsonaro (PSL) no Congressso Nacional.

 

Professor Roberto César Rosendo, diretor da UFF-Campos (Foto: Folha da Manhã)

 

Diretor da UFF em Campos, Roberto César Rosendo comemorou a iniciativa parlamentar. Se tudo correr como esperado, as obras dos prédios da universidade, paradas na metade, seriam retomadas no segundo semestre do próximo ano:

— Neste momento complicado de contingenciamento do MEC, mais a questão do impasse (aqui) dos contêineres lá da Uff, receber a notícia de que a apresentação da emenda impositiva teve um avanço é extraordinário. Com os R$ 50 milhões será possível concluir a obra, que já está 50% pronta. Se tudo der certo e o recurso for empenhado no ano que vem, as obras poderão ser retomadas no segundo semestre de 2020. Agora eles estão se articulando para buscar apoio de mais deputados da bancada do RJ para somar com as cinco assinaturas já conseguidas.

 

Confira a reportagem completa na edição deste sábado (25) da Folha da Manhã

 

Edmundo Siqueira — Na análise do governo Bolsonaro, a verdade fora da caverna

 

“O mundo não começou quando nascemos, como muitos teimam em acreditar”. Em tempos como os atuais, quando o obscurantismo ronda perigosamente na negação de fatos históricos, do heliocentrismo, da evolução das espécies, da importância das vacinas à saúde pública, da ida do homem à Lua e até da forma redonda da Terra, a afrmação é tão óbvia quanto necessária. E foi feita em artigo do campista Edmundo Siqueira, servidor do Banco do Brasil.

O texto chegou ao blog através do policial federal Roberto Uchoa, especialista em Segurança Pública e também blogueiro do Folha 1. O Edmundo pediu a ele que o enviasse pelo fato da sua análise dialogar diretamente com o artigo intitulado “Democracia com megafone”, escrito por mim e publicado no último domingo domingo, na Folha da Manhã e (aqui) neste blog.

Para analisar o governo Jair Bolsonaro (PSL), Edmundo recorreu à lembrança da guilhotina que cortou tantas cabeças no Período do Terror da Revolução Francesa do séc. XVIII, inclusive dos seus líderes. O texto termina com a referência sempre atual ao “mito da caverna”, presente na obra “A República” do filósofo Platão, aluno de Sócrates e professor de Aristóteles, na linha direta do pensamento que pariu a Civilização Ocidental.

Quando muitos buscam abrigo na sombra, um pouco de luz é sempre bem vinda:

 

 

Edmundo Siqueira, servidor federal

Verdade fora da caverna

Por Edmundo Siqueira

 

Outro dia desses estava absorto em pensamentos que viriam a fazer uma comparação entre as ágoras na Grécia do séc. VI a.C., que eram espaços abertos, praças, onde os gregos discutiam os assuntos relacionados a cada pólis (cidade-estado na Grécia Antiga) e o Facebook. Entendia que haveria semelhanças entre as duas plataformas, com as duas formas de comunicação e de diálogo e muitas vezes de discussões acaloradas. Seria possível traçar um paralelo entre elas, mesmo com o abismo histórico-temporal e com a diferença na complexidade das sociedades a que elas habitaram. Conceitualmente, seria possível.

Eis que me deparo com um editorial do principal jornal de minha cidade tratando do tema. Tratando exatamente sobre o fato de que as mídias sociais estariam cumprindo o papel de ser esse espaço de discussão da pólis. No artigo, o jornalista Aluysio Abreu Barbosa faz um levantamento histórico da democracia e seu modelo representativo, passando pelo Iluminismo, pela Revolução Francesa e chegando ao Brasil, trazendo esse resgate para analisar os dias atuais. Ora, é preciso saber de onde viemos e como construímos nosso pensamento para que possamos analisar o presente e planejarmos nosso futuro. O mundo não começou quando nascemos, como muitos teimam em acreditar. Existem determinismos históricos aos quais não podemos fugir.

Escrevi sobre o tema em uma dessas redes sociais, o Instagram, essa em verdade mais parecida com os ginásios da Grécia antiga, onde o culto à beleza era frequente. A usava para que eu pudesse tomar a distância necessária do objeto para observá-lo, uma vez que comparava a ágora com o Facebook, querendo que minhas ponderações tivessem algum cunho científico, mesmo restando essa hipótese impossível. Ao ler o artigo, porém, pude pensar em outra comparação, com outro fato histórico: os “tribunais do povo” instaurados na França revolucionária, no período de terror jacobino de Robespierre (1793-1794), onde os inimigos do “povo” e do estado eram julgados e sentenciados à guilhotina. O Facebook muitas vezes cumpre esse papel. Reputações são destruídas e mitos são criados por uma mídia social que se comporta como verdadeiros tribunais. E o pior: não aceitam recursos. Outra semelhança “jurídica” com os robespierianos. A histórica nos ensina e mostra que o próprio líder daquele período da Revolução Francesa foi sentenciado à mesma guilhotina que outrora instituía a tirania a seu mando, inclusive com a morte do rei Luís XVI. O mesmo tribunal criado pelo Robespierrre o sentenciou. Voltando aos paralelos, as mídias sociais parecem ter mesmo poder, não há guilhotinas, mas há sentenças que decepam vidas.

A história brasileira é repleta de ambivalências: país de maioria negra foi o último do Ocidente a abolir a escravidão, para dar apenas um exemplo. A formação de nossa identidade enquanto nação foi conturbada, guiada por grupos de interesses domésticos e estrangeiros. O exercício democrático foi sempre tardio, mais reativo que proativo. Passamos por um período militar que foi apoiado por uma parcela da sociedade, personificada pela “Marcha da Família com Deus pela Liberdade”, outro exemplo de ambivalência explícita. Não era representativa. O povo não teria participado do processo. Nossa democracia vem passando por maus bocados. Acusações de golpes, mortes de políticos sem explicação, uma ditadura, dois impeachments. O Brasil em pouco tempo, em comparação com países europeus e até americanos, precisou amadurecer suas instituições. Depois da ditadura ou regime militar como recentemente grupos de uma nova direita quiseram nomear através de uma narrativa própria, iniciou-se o processo de redemocratização que culminou no nascimento de dois filhos de políticos de uma mesma ideologia. Dois partidos coirmãos que se apresentaram como a saída de um regime ditatorial longo e violento. Tempos depois vieram a ser antagonistas no tabuleiro político, mas possuem a mesma base social democrata, progressista em alguns aspectos. PT e PSDB determinaram os rumos do país por décadas. Parecia que o país atravessara um período de paz e de dobradinhas ideológicas, a exemplo de democracias mais maduras como a americana, trazendo as figuras dos partidos democrata e republicano. Até que um fenômeno personificado na presidência e chamado Dilma Rousseff aparece. A presidente reunia incapacidade política administrativa e somava-se o desgaste do longo período de poder de seu partido. O resultado foram os movimentos de Junho de 2013 que resultaram com o impeachment.

A história nos mostra quem somos. Mas também deve servir para prever alguns movimentos, ou pelo menos poder analisar a conjuntura e a realidade cotidiana. O governo Bolsonaro é eleito justamente com o uso das mídias sociais. As ágoras gregas seriam um elemento da administração política da pólis. Bolsonaro parece ter aprendido, a despeito de sua visível limitação intelectual. Usa o Twitter para fazer interlocução com seus eleitores e até com o Congresso. Esquece-se que ocupa o posto mais alto da república e compartilha vídeo afrontoso no carnaval. Usa as mídias para impor uma agenda ligada a costumes e desprovida de ações concretas. Com a pecha de conservador nos costumes e liberal na economia, agradou grupos de direita e extrema direita que agora parecem ir para um arranjo de oposição ou pelo menos de desconforto. O tribunal do povo de Robespierre, com sua versão moderna no Facebook, pode levar o eleito Boslonaro à guilhotina.

O próximo dia 26 irá marcar, falando em previsões, um movimento pró governo que pode demarcar o território político em D+1, no day after. Os grupos conservadores irão se alinhar definitivamente ao governo? Os grupos liberais que acreditaram que Paulo Guedes, ministro da economia, pudesse impor ações de mesmo espectro ideológico, continuarão acreditando? As alas do governo passarão a se entender, mesmo com os ataques do guru e astrólogo Olavo de Carvalho ao setor militar, ou irão rachar de vez?

A nossa democracia vem passando por maus bocados. Ressurgem ataques ao congresso e ao judiciário. As mídias sociais ecoam esses ataques. Novas formas de governos são propostas. Parlamentarismo parece ser uma opção viável, apesar de todo descrédito do congresso. As pautas do Executivo não emplacam. Grupos opositores ganham força e corpo com os ataques à educação. Setores das igrejas neopentecostais parecem insatisfeitos. O exercício democrático é intenso e a elasticidade dessa forma de organização social é testada. Bem como o estado tripartite de Mostesquieu. Todo esse caldo tem muito de sofismo. A retórica é cada vez mais usada e aperfeiçoada. A filosofia explica, mais que a psicologia, talvez, embora se complemente. Os antigos pensadores moldam nossa vida, suas ponderações são cada vez mais presentes. Mesmo séculos depois ainda discutimos as mesmas inquietações. Resta saber quem saíra da caverna e verá a verdade. E mais ainda: quem acreditará nela.

 

Folha no Ar: RioAgro Coop de Frederico, Tito e Cunha na quarta, antes de Zé Paes na quinta

 

Governador Wilson Witzel e secretários estaduais Eduardo Lopes (Agricultura) e Ana Lúcia Santoro (Ambiente e Sustentabilidade) estarão em Campos nesta quinta para o RioAgro Coop (Montagem: Elaibe de Souza)

 

No início da manhã de hoje, pela primeira vez o Folha no Ar, programa da Folha FM 98,3, trouxe três entrevistados. Um em cada bloco, o presidente da Coagro, Frederico Paes, o presidente da Asflucan, Tito Inojosa, e o diretor da Fatore, Sérgio Cunha, falaram sobre o mesmo assunto central: o RioAgro Coop, que nesta quinta trará a Campos o governador Wilson Witzel (PSC), com os secretários estaduais de Agricultura, Eduardo Lopes; e de Ambiente e Sustentabilidade, Ana Lúcia Santoro.

 

Frederico Paes, Tito Inojosa e Sérgio Cunha foram os entrevistados desta quarta do Folha no Ar (Fotos: Isaias Fernandes – Folha da Manhã)

 

Variadas como as palestras que comporão o evento sobre cooperação na agropecuária de Campos e região, das 7h às 19h deste quinta, foram as três entrevistas. Nelas, foram debatidos temas como a dificuldade fincanceira dos produtores de cana em arcar com a colheita mecanizada imposta pela proibição das queimadas, o pleito de se passar a classificação climática da região ao semiárido, irrigação e a implantação de outras novas tecnologias no campo. Por ser jornalista e ex-secretário de Comunicação do governo municipal Rosinha Garotinho (hoje, Patri), a conversa com Sérgio Cunha também girou sobre a análise da eleição a prefeito de Campos em 2020.

 

Entrevistados do Folha no Ar, o prefeito Rafael Diniz e o deputado federal Wladimir Garotinho estarão nesta quinta no RioAgro Coop (Montagem: Eliabe de Souza, o Cássio Jr.)

 

Os dois nomes considerados hoje mais fortes ao pleito municipal do próximo ano também participarão da RioAgro Coop. O prefeito Rafael Diniz (PPS), na condição de presidente do Cidennf (Consórcio Público Intermunicipal de Desenvolvimento do Norte e Noroeste Fluminense). E o deputado federal Wladimir Garotinho (PSD) pelo trabalho em Brasília para aprovar seu projeto de classificação climática de semiárido à região.

 

Procurador-geral de Campos, José Paes Neto será o entrevistado desta quinta no Folha no Ar (Foto: Folha da Manhã)

 

Nesta quinta, o convidado do Folha no Ar, sempre a partir das 7h da manhã, de segunda a sexta, será o procurador-geral do município, José Paes Neto. Enquanto a nova edição do programa não chega, confira os quatro blocos do programa de hoje, com as entrevistas de Frederico Paes, Tito Inojosa e Sérgio Cunha:

 

 

 

 

 

Dom Rifan esclarece que encontro com Bolsonaro não significou apoio político

 

Da planície goitacá ao Planalto Central, Dom Rifan com o presidente Jair Bolsonaro (Foto: Divulgação)

 

Bispo católico da ala tradicionalista de Campos, Dom Fernando Rifan esteve ontem em Brasília com o presidente Jair Bolsonaro (PSL), como foi noticiado hoje (aqui) na capa da Folha da Manhã. Mas, a partir da repercussão, o clérico procurou o blog para esclarecer que sua presença “não significou apoio político ao presidente, nem a ninguém”.

Na verdade, Dom Rifan foi à capital federal como convidado da Frente Parlamentar Católica, para a realização do “Ato de Consagração do Brasil a Jesus Cristo por Meio do Imaculado Coração de Maria”, do qual Bolsonaro participou. Nas redes sociais, o bispo católico também lamentou (aqui) que o presidente evangélico não tenha consagrado o Brasil à Nossa Senhora, como era esperado:

 

Dom Rifan lamentou que o presidente evangélico não tenha consagrado o Brasil à Nossa Senhora (Foto: Reprodução)

 

— “Isso ele (Bolsonaro) não fez. Foi pena. Mas fizemos o nosso papel. Ele foi cordato em participar da homenagem. E o texto assinado foi entregue a ele. Depois, nós fizemos o ato de consagração.

Da planície goitacá ao Planalto Central, Dom Rifan expressou seu desejo: “Esperamos que Nossa Senhora aceite o nosso ato de consagração e proteja o nosso tão necessitado Brasil”.

 

Confira abaixo o vídeo do bispo de Campos no ato de consagração do maior país católico do mundo à santa mais importante do catolicismo: