
Depois de “Era Uma Vez em.. Hollywood” (confira sua resenha aqui), de Quentin Tarantino, e “Coringa”, de Todd Phillips, dois outros fortes candidatos ao Oscar de 2020 estão sendo exibidos no cinema de Campos. São o o sul-coreano “Parasita”, de Bong Joon-ho, ganhador da Palma de Ouro em Cannes, que estreou desde quinta (16); e a produção britânica “1917”, de Sam Mendes, que teve sua pré-estreia no sábado (18) e domingo (19), voltando para ficar nesta quinta (23).
Como sempre acontece com o cinema de qualidade na planície goitacá, ambos estão em cartaz no Kinoplex Avenida, no Shopping 28. Não no Cine Araújo do Shopping Boulevard, restrito a blockbusters comerciais. E quase sempre dublados, na pressuposição de que seu público seja composto de analfabetos — de fato ou funcionais.

“1917” é uma história de dois cabos do Exército Britânico no penúltimo ano da sangrenta I Guerra Mundial (1914/1918) — e também da Revolução Russa, que não é tratada no filme. Em um tempo sem comunicação em tempo real, os dois soldados recebem como missão levar uma mensagem do alto-comando para impedir um ataque contra os alemães, que recuaram para montar uma armadilha aos seus inimigos nas trincheiras da França. Entre outras armadilhas deixadas pelos germânicos e o confronto direto contra estes, serão muitos os percalços enfrentados pelos mensageiros.



Sem spoiler, o final de “1917” é sensível e revelador. No que lembra o epílogo de um dos maiores filmes de guerra já feitos: “Glória Feita de Sangue” (1957), baseado em fatos reais da mesma I Guerra Mundial e dirigido pelo mestre estadunidense Stanley Kubrick. Que nele imortalizou no cinema um dito do pensador inglês Samuel Johnson, tão pertinente ao Brasil e ao mundo de hoje: “O patriotismo é o último refúgio dos canalhas”.

Mas a grande novidade entre os indicados a melhor filme é mesmo “Parasita”. Nas desigualdades sociais inevitáveis do sistema capitalista, mesmo em um país tido como um seu exemplo positivo, como a Coréia do Sul, é difícil saber quem melhor batiza o título do filme. Seria a família pobre de embusteiros — ao melhor estilo do clássico “Feios, Sujos e Malvados” (1977), do mestre italiano Ettore Scola, morto ontem (aqui) há exatos quatro anos? Ou a família rica, fútil e elitista que a primeira inveja e engana para servir? Na dúvida, a crítica mordaz ao capitalismo não peca por maniqueísmo, já que o regime comunista e oligárquico da vizinha Coréia do Norte também é exposto ao ridículo devido.



Igualmente sem spoiler, talvez ainda mais que “1917” o(s) final(is) de “Parasita” não precisa de código Morse para entregar sua mensagem. No filme sul-coreano e universal, o “inimigo” é visceralmente humano. Como quem está sentado na poltrona do cinema.
“1917” é um filme sobre honra e altruísmo. “Parasita” é sobre falta de honra e ambição. Faces da mesma humanidade, não por coincidência ambos são também sobre família. E sobrevivência.
Entre comédia e tragédia, o parasita real do filme da Coréia do Sul é revelado em outro dito, de outro pensador inglês. Que serve também aos campos de batalha reais de 1917. Como sentenciou Thomas Hobbes em seu clássico “Leviatã”: “O homem é o lobo do homem”.
Confira abaixo os trailers dos dois filmes candidatos ao Oscar em cartaz no Kinoplex Avenida: