Campos vive a segunda onda da Covid-19, como alertaram ontem (confira aqui) o diretor-clínico da Santa Casa, Cléber Glória, e uma fonte do Hospital Dr. Beda, que preferiu não se identificar? E a cidade poderá ter que voltar adotar o lockdown parcial para conter o novo avanço da doença, como o médico infectologista Nélio Artiles também disse ontem ser “inevitável”? Segundo a infectologista e chefe da Vigilância em Saúde, Andreya Moreira, só os números da doença na próxima semana dirão. Nas estatísticas que ela fechou hoje com Eduardo Shimoda, professor da Universidade Candido Mendes, que analisa dados como taxa de mortalidade, ocupação de leitos clínicos e de UTI nas redes privada e pública, além dos casos novos ativos, a escore semanal de Campos foi 9,8. Foi maior que os 9,5 da semana anterior. Só se passar de 10, Campos sairia da atual fase Verde para voltar à Amarela.
Comandante do enfrentamento do município contra o novo coronavírus, Andreya ressaltou que o pior cenário, com a fase Vermelha, só se daria com 90% de ocupação dos leitos do município para a doença. Ela detalhou os números atuais. Como o aumento de casos estaria sendo registrado na rede privada da cidade, hoje a taxa de ocupação dos seus leitos clínicos, para pacientes menos graves, estaria em 33,3%. Caiu em relação à média semanal anterior, registrada em 11 de novembro, quando chegou a 42,3%. Já a ocupação os leitos de UTI da rede privada, destinados aos pacientes mais graves, foi contabilizada hoje em 36,1%. Como subiu bem dos 19,4% da média semanal anterior, indica o aumento na gravidade dos casos.
Em relação ao Sistema Único de Saúde (SUS) reservados à Covid no município, tanto na rede pública, quanto nos hospitais conveniados, a taxa de ocupação dos leitos clínicos foi fechada hoje em 37%. E aumentou um pouco em relação à média semanal anterior, de 35,2%. Já nos leitos de UTI reservados para a pandemia no SUS, a ocupação hoje está em 50%, com queda em relação à média aos 57,1% da semana anterior.
— Pelos dados estatísticos, que fechamos hoje com o professor Eduardo Shimoda, é possível afirmar que Campos não está vivendo a segunda onda da doença. E que não há, pelo menos por enquanto, a necessidade de mudança de fase ou de se voltar a adotar o lockdown. Mas acredito que são os dados da semana que vem, fechados na quarta, que vão nos dar essa certeza. As pessoas, infelizmente, relaxaram nas medidas de proteção, o que foi agravado também pelos feriados, com reuniões e festas em residências, e os comícios, caminhadas e corpo a corpo da eleição municipal. Nós tivemos vários candidatos infectados nesse período, o que também aconteceu com militantes e eleitores. Mas é muito difícil falar em segunda onda no Brasil, onde ocorre uma oscilação, sobe, desce e sobe de novo, mas sem alcançar um platô. E é o que acontece em Campos. Se subir mais, vamos tomar as medidas necessárias — garantiu Andreya.
Após noticiar ontem o aumento de casos de Covid, o blog pediu uma posição também ao Sindicato dos Médicos de Campos (Simec). Seu presidente, o médico Hélio da Nóbrega Novais, acha que “talvez seja precoce falar em ‘segunda onda’ da infecção em um momento que a primeira sequer foi superada”. No entanto, ele também disse ser “necessário ainda repensar a atual fase de flexibilização”. Confira abaixo a íntegra da nota do Simec:
O Sindicato dos Médicos de Campos (Simec) informa que, desde o início da pandemia, mantem- se atento às medidas de enfrentamento à Covid-19 no município. Campos encontra-se em um cenário, em relação à doença, parecido aos diversos outros pontos do país. Talvez seja precoce falar em “segunda onda” da infecção em um momento que a primeira sequer foi superada. Entretanto, faz-se imprescindível nos mantermos devidamente alertas ao risco concreto de retomada da curva de contágio pelo novo coronavírus no município, o que nos levaria a um novo evento crítico de adoecimento e mortes.
O Simec, como entidade representativa da classe médica do município, observa que, a partir das experiências adquiridas nos primeiros meses da pandemia, é preciso investir em melhores condições de trabalho para os profissionais da saúde, estocar medicamentos, equipamentos de proteção e aumentar a testagem da população para fins de minimizar a subnotificação de casos. Faz-se necessário ainda repensar a atual fase de flexibilização, e ampliar o investimento em conscientização da população, para melhorar a adesão das principais medidas preventivas com a finalidade de evitar a transmissão da doença e suas consequências terríveis.
Considerando o atual cenário e o possível segundo influxo de casos no município, o Simec solicitou ao prefeito Rafael Diniz, em reunião realizada no último dia 04, a revogação do decreto 322/2020, publicado em edição suplementar no dia 23 de outubro, que determinou o retorno as atividades presenciais dos profissionais da secretaria de Saúde e da Fundação Municipal de Saúde (FMS), com idade entre 60 e 65 anos, que não possuam comorbidades.
Reiteramos publicamente que condenamos e nos posicionamos totalmente contrários à determinação municipal, a qual desvaloriza a vida dos profissionais de forma irresponsável e fere as recomendações do Simec que, após análise criteriosa do atual cenário epidemiológico do município, indica que trabalhadores pertencentes ao grupo de risco, com 60 anos ou mais ou que apresentem condições clínicas de risco para o desenvolvimento de complicações da Covid-19, devem receber atenção especial, priorizando-se sua permanência na residência em teletrabalho ou trabalho remoto
Atenciosamente,
Dr. Hélio da Nóbrega Novais, presidente do Sindicato dos Médicos de Campos