Lula da Silva, Jair Bolsonaro, Sergio Moro ou Ciro Gomes?

 

É possível se debater em alto nível, com argumentos no lugar das ofensas, a renhida eleição presidencial do Brasil de 2022? Na manhã de ontem, ao vivo e durante duas horas, o sociólogo José Luis Vianna da Cruz, o odontólogo Alexandre Buchaul, o advogado Cristiano Sampaio e o sociólogo Roberto Dutra provaram que sim. Eles defenderam, respectivamente, suas simpatias pelos presidenciáveis Lula (PT), Jair Bolsonaro (sem partido), Sergio Moro (Podemos) e Ciro Gomes (PDT), mais bem colocados nas últimas pesquisas. No programa Folha no Ar, na Folha FM 98,3, os quatro justificaram o voto nos nomes das suas preferências, falaram sobre as propostas que cada um tem à grave crise econômica do país e teceram prós e contras que enxergam nas demais pré-candidaturas ao Palácio do Planalto. Com algumas palavras fortes, mas sobretudo com respeito à diversidade de pensamento com a qual se constrói a democracia. Presidente do Brasil que marcou época, e alvo até hoje de paixões favoráveis e contrárias, a Getúlio Vargas é atribuída a frase: “Campos é o espelho do Brasil”. Pelo que o lulista, o bolsonarista, o morista e o cirista campistas demonstraram, seria uma boa pedida. Independentemente do resultado das urnas de daqui a 11 meses.

 

José Luis Vianna da Cruz, Alexandre Buchaul, Cristiano Sampaio e Roberto Dutra, simpatizantes, respetivamente, dos presidenciáveis Lula, Jair Bolsonaro, Sergio Moro e Roberto Dutra (Montagem: Eliabe de Souza, o Cássio Jr.)

 

Folha – Por que votar no seu pré-candidato a presidente da República em 2022?

José Luis Vianna da Cruz – A minha intenção de votar em Lula, primeiro, é porque é o candidato que se coloca no campo do anticonservadorismo, não do conservadorismo no sentido ideológico, válido, mas sim da sua distorção. Que atenta contra a democracia no neofascismo com o qual estamos convivendo. O Brasil é conservador, sempre tive convicção disso. Faltavam liderança, partido e organização que expressassem isso politicamente de forma mais consistente. E isso aconteceu com o Bolsonaro, um personagem de ocasião. E o Lula continua representando o campo que pode se aglutinar, para poder ser capaz de superar essa onda reacionária do ponto de vista econômico e político, recuperando a ideia dos direitos. Neste sentido, o Lula, quando foi feita justiça com relação à ausência de provas capazes de condená-lo, voltou a imagem daquele que fez um excelente governo, foi o melhor presidente da história do Brasil. É o que foi mais longe na distribuição de renda e no enfrentamento das desigualdades.

Alexandre Buchaul – O Brasil é um país conservador, como bem disse o professor José Luis, e o conservador, por definição, é alguém que reage. Não é alguém que promove revoluções, mas reage quando sente seus valores subvertidos. Essa sensação de agressão fez com que essa direita se organizasse; esse conservador que ainda precisa amadurecer muito, precisa estudar muito. A figura que se encontrou como representante nesse momento era o Bolsonaro, que precisava existir para essa direita conservadora rompesse as amarras que até então existiam num discurso que foi praticamente banido. A partir da eleição de Bolsonaro, você tem pessoas que começam a assumir esse discurso com mais ou menos qualidade, como é em qualquer campo. Nossa situação econômica se deve muito à situação econômica mundial. Isso precisa amadurecer, vai acontecer numa eventual reeleição de Bolsonaro, para que nós tenhamos o avanço desse perfil conservador, o avanço do debate, da discussão conservadora.

Cristiano Sampaio – Sequer posso afirmar que Moro será candidato. A gente tem essa perspectiva. Eu sou simpatizante dele quando se iniciou a operação Lava Jato. E embora alguns críticos digam que ele foi tendencioso, quando você olha, na boa técnica, não há essa inclinação. Bolsonaro foi muito inteligente no momento em que ele puxou o Moro para si. Acredito que Moro talvez venha, mas ele tem que vir com a cabeça mais política. O Bolsonaro vendeu aquela imagem de uma pessoa fora da política, o que ele nunca foi. Quem colocou Moro no páreo foram os próprios políticos. Quando se discutiu um projeto de emenda à Constituição que falava da quarentena para juízes, promotores, que não logrou êxito, o que se pretendia era tirar Moro, Deltan, todos eles do páreo. Só queria discordar um pouco do professor Luiz Vianna quando ele diz que Lula, agora, nessas reavaliações do Supremo, não houve provas. Houve provas, sim, provas robustas. O que o STF simplesmente entendeu é que Moro seria suspeito.

Roberto Dutra – Como o Cristiano falou, política é um jogo complexo. Ontem (quinta), por exemplo, nesse gesto arriscado, que a gente não sabe que resultado vai ter, o Ciro deu um recado para a sociedade que, por exemplo, o Moro não deu. Eu coloco na mesa o meu capital político em nome de uma ideia (votar contra a PEC dos Precatórios): eu risco uma linha no chão. Se for para ser pré-candidato, tem que ter o mínimo de coerência. Eu gostaria muito que os outros pré-candidatos, da chamada terceira via, e o Moro está aí bem nas pesquisas, mas não se posicionou. E é um tema delicadíssimo, envolve o principal tema da candidatura Moro, que é a questão da corrupção. O PT foi uma decepção. Eu vou discordar do meu amigo José Luis Vianna. Lula foi um bom presidente, sim, mas piorou muito no fim. A tragédia Dilma não pode ser esquecida, um governo fracassado economicamente. Nós precisamos de um presidente que assuma os riscos. A população, em 2018, votou em Bolsonaro pelo risco.

 

Folha – Quais são as propostas do seu candidato à grave crise econômica do país?

José Luis – A questão econômica demonstra também a falência desse governo. Eu lamento que o Alexandre ainda defenda o Bolsonaro, quando no campo da direita você tem pessoas menos contundentes na pregação de uma necropolítica. Nós somos um país periférico e dependente. A questão da América Latina, da Ásia e da África é romper com essa dependência na economia. Isso implica em investir em ciência e tecnologia, o que foi zerado no governo atual. E preservar os setores da economia que garantem a soberania, como a cadeia do petróleo. Hoje, nós nos tornamos exportadores de petróleo. Como a gente importa os produtos beneficiados do petróleo? O nosso agronegócio é negativo, por incrível que pareça. Os insumos são importados. Não adianta você exportar produto primário, se os bens industriais são importados. O que justifica você aumentar a pobreza, jogar os pobres na vala comum dos mortos por inanição, quando a direita considera o Bolsa Família uma ameaça porque “alimenta vagabundo”?

Buchaul – Vivemos o fenômeno de inflação mundial pela pandemia; uma fuga do capital internacional em direção ao dólar para se proteger. A Petrobras importa combustível, porque a autossuficiência de petróleo foi uma mentira. Nós produzimos em extração, mas compramos gasolina, diesel, gás. E tudo vendido em dólar. A opção é subsidiar, só que isso tem custo muito alto, leva a Petrobras à quebradeira. A nossa infraestrutura precisa de muita melhoria. O ministro Tarcísio está conseguindo avançar, mas nós estamos aqui, em Campos, que é um entroncamento. A gente tem uma BR 101 passando agora por um processo de relicitação, porque na primeira não se cumpriu o contrato. Era para a gente já ter a BR 101 duplicada, o contorno de Campos, e ainda não conseguiu. A gente precisa que a EF 118, que é o projeto de ferrovia que vem do Espírito Santo, passa por Campos e vai para Rio, São Paulo e Mato Grosso, avance. O Bolsa Família ou o Auxílio Brasil é essencial. É um grande movimentador da economia.

Cristiano – Sequer se cogitava o nome de Moro como candidato, então não existe um plano. Acredito que ele escolherá um bom nome para conduzir a economia. E não é demérito não conhecer de economia. Lula não conhecia, Fernando Henrique não conhecia. O Guedes não conseguiu implementar suas ideias, quedou-se para o Centrão e virou um fantoche. A verdade é essa, e o mercado não respeita. A nossa inflação já alcançou dois dígitos, que a gente só teve no primeiro ano do Plano Real. E muito responsável pelo dólar alto é o presidente, com o dom da palavra para derrubar as bolsas, trazer instabilidade. Lula, por muito tempo resistiu ao mercado, mas depois se curvou. O professor José Luiz coloca o Bolsa Família. Eu sou de direita, conservador, mas vejo, sim, que é um projeto importante. A gente tem que socorrer o nosso irmão. É ser cristão. Só que Bolsonaro só viu agora como o viés político de reeleição. Há um desastre em curso. Bolsonaro, com essa PEC fura teto, fragiliza ainda mais a economia.

Roberto – Economia é a área onde eu acho que o Ciro mais tem buscado oferecer um projeto há muito tempo, desde quando era do PSDB e ajudou a implementar o Plano Real. O Brasil, cada vez mais, é um país que consome produtos que não produz e de cujas cadeias produtivas não participa. A gente vende soja e quer comprar um celular de última geração. Isso foi possível durante um período do populismo cambial. Mas não é mais. O que sustentava o populismo cambial era o boom de commodities. Faz diferença se um país produz chips ou se um país produz soja apenas. Não estou nada contra a soja, o agronegócio é o único setor da economia brasileira que aumentou a produtividade. Mas não é um sucesso de complexidade. Como o professor José Luiz falou, a gente importa os insumos, as sementes, os remédios, as máquinas. E complexidade é você reindustrializar o país a partir do que já tem. E aí, o Ciro vem propondo quatro áreas desde a campanha de 2018, que com essa pandemia se tornaram ainda mais atuais.

 

Página 2 da edição de hoje da Folha da Manhã

 

Folha – Quais são os prós e contras das demais pré-candidaturas a presidente?

Roberto Dutra – O movimento que Bolsonaro representa, tem um mérito: deu voz, sim, a uma direita brasileira. Outro mérito é que, sem querer, Bolsonaro representa algo que está na alma do povo: a força. Ele distorce isso, coloca a força como violência. Mas tem a ver com a nossa capacidade de ser um povo batalhador. E Bolsonaro vocalizou isso. Negativamente, tudo. Mas resumiria na incapacidade de separar palanque de governo. Sobre Moro, a Lava Jato desnudou uma relação promíscua entre dinheiro e poder, que todo mundo sabia que existia, mas ninguém tinha visto ainda de um modo tão claro. Negativamente, Moro não tem projeto, não diz nada sobre como vai recuperar a economia brasileira. A grande obra de Lula foi ter possibilitado o povo brasileiro se identificar consigo mesmo. O lado negativo de Lula é, infelizmente, o desperdício do que poderia ter sido. Ele poderia, sim, ter sido o maior presidente da história desse país. Com 85% de aprovação, não fez uma mudança estrutural. Lula não acredita em ideias.

Cristiano – A crítica que faço, já de antemão pedindo desculpa ao José Luis, mas o Lula é um corrupto. Nada vai tirar isso da biografia dele. Foram milhões que a Odebrecht devolveu aos cofres públicos, confessando. Em caso do segundo turno entre Lula e Bolsonaro, com todos os defeitos, vou com o Bolsonaro. Lula foi um cara que tinha tudo, como Roberto colocou, para ser o maior dos líderes. Só que o cara virou um ladrão. Desculpa a expressão, não tem aqui como falar de uma forma mais suave, tem que falar o popular que o povo entende. A crítica que eu faço a Bolsonaro é que ele abandonou o bolsonarismo. A corrente armamentista não é feita de cristãos. Ele pegou aquele nicho cristão, que se sentia muito atingido por uma política de ideologia de gênero, que eu não concordo. E o Ciro, por sua vez, eu fiquei impressionado com a imaturidade dele diante dessa decisão que houve de colocar seu nome, retirar, suspender. Eu nunca vi uma suspensão de pré-candidatura, entendeu?

Buchaul – O Ciro tem uma experiência política que acho importante, mas tem o problema do destempero emocional. O Sergio Moro devia continuar sendo juiz. Acho que foi um erro o Bolsonaro tê-lo nomeado ministro, e foi um erro do Moro ter aceitado. Já o Lula deveria seguir o exemplo dos ex-presidentes americanos e manter-se fora da política eleitoral. Você não tem um governo violento só pela violência física, mas também pela violência financeira. E o PT acaba fazendo um pouco das duas coisas: a ameaça que é o MST, as invasões de prédios públicos, e também a violência financeira, quando compra adversários, outros partidos e impede a efervescência política, algo que nós vimos também aqui em Campos. Apesar de o Lula ter tido um mandato com alguns benefícios, eu os coloco muito mais na conta do bom momento internacional e uma herança que ele recebeu do governo Fernando Henrique, de reformas que iriam no contrário do que o Lula dizia que ia fazer e que por sorte não fez.

José Luis – Sobre o Bolsonaro, eu me sinto contemplado, particularmente, com o que o Roberto e o Cristiano falaram. Só reforçar que a questão pior sobre o Bolsonaro é que ele trouxe o protagonismo do que há de pior em termo de caráter e de comportamento, de conduta e de valores na sociedade brasileira. Não vejo nada positivo, a não ser o que o Roberto falou e eu falei também: ele deu voz e institucionalidade ao conservadorismo que existia no Brasil. Só que aí está misturado, tem que separar. O Moro, eu lamento dizer, Cristiano, mas acho, como talvez até você tenha colocado de uma forma mais branda, como figura política, eu acho ele é amorfo, inodoro e incolor. O Ciro é do campo da esquerda, do antifascismo, tem boas ideias na economia. O Ciro faz parte do campo que tem que se juntar para enfrentar o fascismo. O Ciro é um campo ombro. Mas, eu acho que foi bom para a democracia e a história brasileira o Bolsonaro ter sido eleito, como o Roberto falou, porque agora nós sabemos a nossa cara.

 

Confira abaixo, em vídeo, os três blocos do Folha no Ar da manhã de ontem com o debate presidencial entre José Luis Vianna da Cruz, Alexandre Buchaul, Cristiano Sampaio e Roberto Dutra na manhã de ontem (05), nas Folha FM 98,3:

 

 

 

 

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Este post tem 2 comentários

  1. Cesar Peixot

    Se realmente são verdadeiras essas pesquisas que a mídia diz que Lula vence Bolsonaro na disputa a presidência da república. Eu como cidadão não acredito que o povo brasileiro vote em um corrupto de novo.

  2. César Peixoto

    Não da pra acreditar em politicos em nosso país ,sejam eles de esquerda ou de direita,são todos eles farinha do mesmo saco.

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