Uma organização criminosa
“Uma organização criminosa contra o Estado Democrático de Direito no Brasil”. Assim o procurador-geral de Justiça de São Paulo, Mario Sarrubbo, classificou ontem os caminhoneiros bolsonaristas com dor de corno pela derrota no 2º turno da eleição presidencial de domingo (30). E que, no lugar de chorar no quente da cama, se acharam no direito de chifrar o direito de ir e vir das pessoas e mercadorias, doentes, remédios e bens perecíveis, na interdição desde domingo das estradas do país. Essa organização criminosa tem seus tentáculos também em Campos e região. Que deve ser investigada e seus integrantes punidos com o rigor da lei.
“Para com essa palhaçada!”
Em Campos, a BR 101 foi fechada no km 70, na altura da Tapera, assim como no km 75, próximo ao trevo da Estrada dos Ceramistas. Na BR 356, no trecho Campos/SJB, os bolsonaristas fecharam a estrada no trecho de Barcelos. Em Itaperuna, a BR 356 foi fechada na altura do km 50. Em São Fidélis, cortada pela RJ 158 que liga o Norte ao Noroeste Fluminense e à Região Serrana, uma interdição no bairro Vila dos Coroados, na saída da cidade, foi aberta na marra por populares. Um deles, no vídeo da ação, expressou a reação mais óbvia à ação criminosa bolsonarista nas estradas do país: “Para com essa palhaçada!”
Todos contra
Desde segunda (31), o ministro Alexandre Moraes, do Supremo Tribunal Federal (STF), determinou que a Polícia Rodoviária Federal (PRF) desobstruísse os 227 bloqueios bolsonaristas nas estradas do país. Atendeu ao pedido da Confederação Nacional dos Transportes (CNT) e do vice-procurador-geral eleitoral. Mas vários vídeos flagraram agentes da PRF, no lugar de desobstruir, orientando os manifestantes. O que fez Moraes estender a ação também às PMs dos estados. A interdição foi condenada até por governadores bolsonaristas, como Cláudio Castro (PL), do RJ; Romeu Zema (Novo), de MG; e Rodrigo Garcia (PSDB), de SP.
PRF como milícia política
Mais bolsonarista das Forças de Segurança Pública, sobretudo após ter Silvinei Vasques como diretor-geral, a PRF já tinha se portado no domingo da eleição como milícia política. Promoveu várias blitzen no país, sobretudo no Nordeste, onde Lula tem sua maior vantagem eleitoral, para dificultar a locomoção de eleitores. Seja em transporte público ou particular, aqueles identificados como simpatizantes do PT, usando adesivos da sua chapa presidencial ou camisas vermelhas, viraram alvos preferenciais. Moraes agiu rápido e intimou Silvinei no curso do pleito, determinando que ele suspendesse a ação. A resposta do povo veio com a abstenção eleitoral só de 20,58% no 2º turno, pela primeira vez menor do que a do 1º turno (20,95%).
Quem é o diretor da PRF?
Na coletiva de ontem da PRF sobre a interdição bolsonatista das estradas, o diretor Silvinei Vasques não deu as caras. E quem é ele? Em 1997, foi acusado de cobrar propina para permitir que uma empresa de guincho atuasse em Santa Catarina. Consta no inquérito, que ameaçou matar um dos chantageados “com um tiro na testa”. O caso se arrastou até a prescrição. Já foi condenado em primeira instância por agressão e respondeu a oito sindicâncias internas. Sobre cada um dos casos, o governo Bolsonaro decretou 100 anos de sigilo, após Silvinei ter assumido a PRF em 2021, por indicação do senador Flávio Bolsonaro (PL).
Bolsonaro “reconhece” derrota
Em silêncio desde a sua derrota eleitoral no domingo e pressionado pelos aliados políticos, por conta da péssima repercussão do fechamento das estradas, Bolsonaro se pronunciou ontem. Mas pediu que antes os ministros do STF fossem ao seu encontro. E foi respondido que só seria atendido após assumir que perdeu nas urnas. Isolado, fez um discurso relâmpago de apenas dois minutos. Que começou agradecendo aos 58 milhões de votos que recebeu, admitindo de soslaio a vitória de Lula, que teve 60 milhões de votos. E falou da manifestação dos seus militantes, condenando “o cerceamento do direito de ir e vir”.
Do nazifascismo à transição democrática
Ao final da sua curta fala, Bolsonaro repetiu o lema “deus (na minúscula), pátria e família”. Repetido orgulhosamente por seus militantes, é possível que a maioria ignore que se trata do mesmo lema do integralismo, por sua vez uma cópia brasileira do nazifascismo nos anos 1930. Na hora de falar um pouco mais sério, Bolsonaro deixou o microfone para o seu ministro da Casa Civil, Ciro Nogueira. Ele garantiu que a lei será cumprida na transição ao governo Lula, que já escolheu o vice-presidente eleito Geraldo Alckmin (PSB) como seu coordenador do processo. Só depois os ministros do STF aceitaram receber o ainda presidente da República.
De uma jovem campista
Campos deu a Bolsonaro 63,14% dos seus votos válidos no 2º turno. Desta cidade, uma estudante de 17 anos enviou um artigo sobre a eleição, que teve receio de publicar e assinar. Do texto, a coluna extrai o trecho: “Para aqueles que estão de luto pelo país porque um homem ignorante e arrogante perdeu, democraticamente, uma eleição (…) triste ver que essa comoção não foi prestada em luto aos mais de 680 mil brasileiros que morreram na pandemia (…) Bolsonaro deveria ter vergonha de usar o nome de Deus, ele é o oposto de tudo que Jesus nos ensinou (…) o Brasil é muito maior que o Bolsonaro, o amor é muito maior que o ódio”.
Publicado hoje na Folha da Manhã.
Infelizmente aconteceu o pior do que se esperava, deixaram um ex- condenado em segunda estância se candidatar ao maior cargo de uma nação e olha o resultado. Eu como cidadão brasileiro a partir de primeiro de janeiro, se me perguntarem quem é o presidente, eu terei orgulho de dizer Bolsonaro, porque eu como cidadão honesto Lula não me representa
Caro Cesar Peixoto,
Aconteceu o que todas as pesquisas sérias disseram que iria acontecer desde janeiro. E vc, por fanatismo político, fingiu ignorar. Se, na decisão soberana da democracia, pouco ou nada importou antes o que vc achava, pouco ou nada continuará importando a partir de 1º de janeiro de 2023.
Grato pela chance de constatar o óbvio!
Aluysio