Atacado nos atentados terroristas do grupo palestino Hamas no último dia 7, qual o objetivo de Israel nos bombardeios e cerco dos 10 dias seguintes à Faixa de Gaza? Se o direito internacional fosse a lei de talião, “olho por olho, dente por dente, mão por mão, pé por pé” (Êxodo 21:24), o objetivo já teria sido cumprido. Até o final da tarde de ontem (17), das 4,4 mil vidas humanas perdidas no conflito, 1,4 mil eram israelenses, outras 3 mil palestinas — mais que o dobro. Nos dois lados, a grande maioria civis. Incluídos os cerca de 500 palestinos mortos ontem no ataque ao Hospital Batista (cristão, ligado à Diocese Anglicana de Jerusalém) Al-Ahly Arab, na cidade de Gaza. O crime de guerra foi atribuído pelos islâmicos a Israel. E, por este, ao grupo terrorista Jihad Islâmica, também de origem palestina, que negou.
INVASÃO POR TERRA? — Se o objetivo de Israel, como assumiu seu primeiro-ministro, Benjamin Netanyahu, for destruir o Hamas, todos os especialistas militares dizem que isso não se dará sem uma invasão maciça por terra, além de ataques por ar e mar. Apesar da imensa superioridade das forças israelenses, com cerca de 500 mil soldados mobilizados, contra cerca de 20 a 40 mil militantes armados do Hamas, os especialistas também ressalvam que a guerra de guerrilha numa região densamente construída e habitada, como a Faixa de Gaza, favoreceria seus defensores. Que conhecem melhor o terreno, contam com 199 prisioneiros judeus e usam a própria população palestina como escudo humano. Israel não ocupa a Faixa de Gaza desde 2005, que passou a ser controlada pelo Hamas em 2006.
LULA QUER CORREDOR HUMANITÁRIO — Com empenho pessoal de Lula, que tem conversado com líderes de países islâmicos e seus aliados, o Brasil formulou proposta na condição de presidente provisório do Conselho de Segurança da ONU, para tentar abrir um corredor humanitário na Faixa de Gaza. Provavelmente, na sua fronteira sul do território com o Egito, pela passagem de Rafah.
BRASILEIROS EM GAZA — O avião presidencial do Brasil está desde o dia 13 em Roma, na Itália. Lá, espera a autorização egípcia e israelense para retirar os 26 brasileiros confinados sem entrada de comida, água, remédios ou energia elétrica, na Faixa de Gaza. Em meio a 2,3 milhões de palestinos empilhados por Israel num campo de concentração a céu aberto de 365 km2, 11 vezes menor que o município de Campos.
BIDEN COM NETANYAHU, ÁRABES CANCELAM — Aliados de Israel, os EUA pediram e conseguiram um adiamento de 24 horas na votação da proposta brasileira. Hoje, o próprio presidente Joe Biden chega a Tel Aviv, onde se reunirá com Netanyahu. Depois, tinha programado voar a Aman, capital da Jordânia, a leste de Israel. Lá, Biden se encontraria também com o rei da Jordânia, Abdullah II; o ditador do Egito, Abdul Fatah Khalil Al-Sisi; e o presidente da Autoridade Nacional Palestina (ANP), Mahmoud Abbas. Expulsa da Faixa de Gaza pelo Hamas, a ANP atua sobre o maior território da Palestina, a Cisjordânia, com 5.860 km2 e já ocupada militarmente por Israel. Mas, após o ataque ao hospital em Gaza, os três líderes de muçulmanos cancelaram o encontro com o presidente dos EUA.
HEZBOLLAH, LÍBANO E IRÃ — A outra possível frente de batalha mais temida por Israel é a sua fronteira norte com o Líbano, onde atua o Hezbollah, financiado pelo Irã. Grupo paramilitar de extremismo islâmico, como o Hamas, o Hezbollah é muito mais poderoso. Tem cerca de 100 mil homens armados, testados na Guerra Civil da Síria, e mais de 150 mil mísseis. Que são capazes de derrubar prédios em Tel Aviv como Israel tem feito em Gaza. Os enfrentamentos na região ainda são pontuais. Mas causaram no dia 13 a morte do cinegrafista Issam Abdallah, da agência britânica Reuters, por um míssil que teria sido lançado por um helicóptero israelense.
PARCEIROS DE OCASIÃO — Na divisão do mundo islâmico desde a Idade Média, o Hamas é sunita, enquanto o Hezbollah e seu patrocinador Irã são xiitas. Opositores no plano religioso, são parceiros geopolíticos de ocasião, unidos no não reconhecimento à existência de Israel. Que, se estender sua guerra ao Irã, dificilmente o faria sem o apoio dos EUA.
PARCEIROS DE PESO — Embora chegue hoje a Israel para tentar impedir uma escalada do conflito, Biden já embarcou ontem em Washington sabendo do cancelamento da reunião de hoje na Jordânia. Antes, ele já tinha deslocado dois porta-aviões estadunidenses às costas de Israel e da Faixa de Gaza, no Mar Mediterrâneo. Onde estão o USS Gerald Ford e o USS Dwight D. Eisenhower. Juntos, levam mísseis, mais de 10,5 mil homens e 165 caças de guerra.