Bola de Ouro de Messi
O argentino Lionel Messi ganhou na segunda-feira (30) sua oitava Bola de Ouro. Com exceção de 2020, por conta da pandemia da Covid, o prêmio é entregue anualmente pela revista France Football, desde 1956. De lá a 1994, apenas europeus concorriam. Numa revisão de 2015, foram atribuídas sete Bolas de Ouro a Pelé (1958, 1959, 1960, 1961, 1963, 1964 e 1970), uma a Garrincha (1962) e uma a Romário (1994). Como outras três a argentinos: uma a Mario Kempes (1978) e duas a Diego Maradona (1986 e 1990). Cujo aniversário de vida foi lembrado por Messi na segunda, ao se isolar como maior vencedor da Bola de Ouro na história do futebol.
O passado e os brasileiros
Além de 2023, Messi já havia levado a Bola de Ouro em 2009, 2010, 2011, 2012, 2015, 2019 e 2021. Atrás dele, o português Cristiano Ronaldo tem cinco Bolas de Ouro: 2008, 2013, 2014, 2016 e 2017. Quando o prêmio ainda era restrito à Europa, três jogadores o conquistaram três vezes: os holandeses Johan Cruyff (1971, 1973 e 1974) e Marco Van Basten (1988, 1989 e 1992), e o francês Michel Platini (1983, 1984 e 1985). De 1995 para cá, quando a disputa se internacionalizou, o brasileiro Ronaldo Fenômeno ganhou duas Bolas de Ouro: 1997 e 2002. Além dele, o Brasil levou com Rivaldo, em 1999; Ronaldinho Gaúcho, em 2005; e Kaká, em 2007.
Escrita de 21 anos do Brasil
Mais conceituado do que o prêmio de Melhor Jogador do Mundo da Fifa, que passou a ser entregue anualmente só a partir de 1991, a Bola de Ouro da France Football chegou a se fundir com ele entre 2010 e 2015. Os dois voltariam a ser entregues separadamente a partir de 2016. O último brasileiro a merecê-los foi Kaká, levando ambos em 2007. Em outras palavras, há 16 anos nenhum jogador do dito “melhor futebol do mundo” é eleito o melhor do mundo. Como, coletivamente, o Brasil não ganha de uma seleção europeia em jogo eliminatório de Copa do Mundo há 21 anos. Desde a final de 2002, quando foi pentacampeão nos 2 a 0 sobre a Alemanha.
Racismo e 6º lugar na bola
Por que o Brasil se impôs à Europa, há mais de duas décadas, para conquistar pela última vez o Mundial? Porque foi a última em que teve ao seu dispor quatro jogadores eleitos como melhor do mundo: Ronaldo, Rivaldo, Ronaldinho e Kaká. Não há coincidência na importância do brilho individual à conquista coletiva. Na oitava Bola de Ouro entregue a Messi na segunda, o brasileiro mais bem colocado ficou em 6º lugar: o atacante Vini Jr, do Real Madrid. Ele levou o Prêmio Sócrates (batizado em homenagem a um dos craques do inesquecível Brasil de 1982), por sua luta contra o racismo. Que é mais importante que o futebol, mas não bota bola na rede.
Haaland e Bellingham, jovens à vista
Em bola na rede, ninguém brilhou mais na temporada 2022/2023 do que o atacante norueguês Erling Haaland. Entre sua seleção e o clube inglês Manchester City, pelo qual foi campeão e artilheiro da Premier League e da Champions, fez 56 gols em 57 jogos. Que lhe valeram o Prêmio Gerd Müller. Com 23 anos, é o nome do futuro. Assim como o meia Jude Bellingham, 20 anos, vencedor do Prêmio Kopa de melhor jogador sub-21. Pelo que fez como revelação da Inglaterra na Copa do Mundo de 2022 e no clube alemão Borussia Dortmund. Nem contou seu fulgurante início de temporada 2023/2024 no Real Madrid, onde ostenta 13 gols em 13 jogos.
Mbappé repetiu dilema de CR7
Embora também ainda jovem, aos 24 anos, o atacante francês Kylian Mbappé não é mais só uma promessa. Desde o gol que marcou na decisão da Copa do Mundo de 2018, para selar a vitória de 4 a 2 da França sobre a Croácia. E, com 19 anos, ser o jogador mais jovem, depois do Pelé de 17 anos em 1958, a marcar numa final de Mundial. Quatro anos depois, já para a Bola de Ouro em que acabaria no 3º lugar, Mbappé saiu da Copa do Mundo de 2022 como artilheiro, com oito gols. Incluídos os três que marcou na final contra a Argentina. Seu único problema, como foi o de Cristiano Ronaldo em toda a carreira, é que tinha Messi do outro lado.
O bolo da cereja
Se a França tivesse vencido no Qatar, não importariam quantos gols Haaland pudesse ter feito, a Bola de Ouro seria de Mbappé. Mas, como se sabe, Messi marcou sete gols no Mundial, dois deles na final. Para, com toda a justiça, dar à Argentina seu terceiro Mundial, 36 anos após o anterior, de Maradona. Era o único título que faltava a um jogador que, aos 35, já tinha erguido pelo Barcelona 10 Campeonatos Espanhóis, oito Supercopas da Espanha, sete Copas do Rei, quatro Champions e três Copas do Mundo de Clube. Como venceu dois Campeonatos Franceses pelo PSG e uma Leagues Cup dos EUA pelo Inter Miami, ao qual se mudou em junho deste ano.
Maradona e Michelangelo
Embora já tivesse dado à Argentina a medalha de ouro olímpica de 2008 e a Copa América de 2021, só a Copa do Mundo poderia nivelar Messi a Maradona. E, pela maior longevidade no melhor futebol de clubes do seu tempo, superá-lo. Isso é o que há de objetivo na última Bola de Ouro. No subjetivo, fica não um dos sete gols de Messi no Mundial, mas o altruísmo das suas três assistências. Na semifinal contra a Croácia, ele disparou do meio de campo à ponta direita, driblou seis vezes o zagueiro Gvardiol — melhor da Copa, 15 cm mais alto e 15 anos mais novo — e passou para o atacante Álvarez fechar os 3 a 0. Se o futebol pudesse ser resumido num único lance, seria como a pintura pelo que Michelangelo legou no teto da Sistina.
Publicado hoje na Folha da Manhã.