Para além das oito décadas de história
Por Ronaldo Junior
Ao longo de cinco dias do mês de junho, a Academia Campista de Letras (ACL) abriu suas portas para celebrar seus 85 anos de fundação. Foram dias para refletir sobre o patrimônio cultural campista, o que aconteceu por meio da valorização de nossas instituições históricas.
No dia 8, a professora DSc. Maria Catharina Reis Queiroz Prata fez uma palestra que marcou a abertura da exposição de ilustrações do Grupo Urban Sketchers Campos — coordenado pelo arquiteto Ronaldo Araújo. A palestrante, que falou sobre “A cidade no espelho”, provocou os presentes a refletir sobre a valorização dos prédios históricos de Campos, assim como a pensar como nos relacionamos com nossa memória. As ilustrações do Grupo USk Campos, por sua vez, apresentaram diferentes visões artísticas de três prédios: a Academia Campista de Letras, a Lira de Apolo e a Livraria Ao Livro Verde.
Uma mesa redonda — composta pela professora Valéria Crespo e pelos acadêmicos Genilson Soares e Sylvia Paes — trouxe à tona memórias da Livraria Ao Livro Verde no dia 13 de junho, quando a Livraria completou 180 anos de fundação num delicado momento de sua história, marcado pela resistência para garantir sua continuidade. Pensando nisso, na mesma noite do dia 13, foi fundada a Associação de Amigos de Ao Livro Verde (Asalve), como resultado da Campanha SOS Ao Livro Verde, tendo o jornalista Adelfran Lacerda à frente desse importante movimento.
A ACL abriu as portas, também, para receber sua coirmã, a Associação de Imprensa Campista (AIC), entidade que completou 95 anos de fundação no dia 17 de junho. Seu presidente, o jornalista Wellington Cordeiro, organizou uma conferência ministrada pelo jornalista Herbson Freitas, também acadêmico da ACL, para relembrar a rica história da instituição. Além disso, foram entregues certificados de reconhecimento para aqueles que auxiliaram a escrever mais de nove décadas de história.
No dia da fundação da Academia Campista de Letras — 21 de junho —, o público pôde ouvir um relato histórico da jovem historiadora Ana Tereza Viana, que estudou nossa instituição em seu trabalho de conclusão de curso. Assim como os presentes acompanharam a cerimônia de entrega da Comenda da ACL, em homenagem aos atuais acadêmicos e acadêmicas que compõem os quadros da instituição. E, por fim, uma apresentação da Sociedade Musical Lira de Apolo foi o ápice da celebração. Na ocasião, também, foi apresentado o site oficial da ACL, espaço de preservação da memória da instituição (academiacampista.org.br).
Para encerrar, no último sábado (29), as portas de nossa sede histórica foram abertas para receber um dos maiores intelectuais brasileiros, referência internacional nos estudos de antropologia, o professor Roberto DaMatta. Ele participou de um bate-papo com o acadêmico e segundo vice-presidente da ACL, Carlos Augusto Souto de Alencar. Os presentes puderam ouvir e aplaudir o entusiasmado palestrante, que, do alto de seus 87 anos, passeou por tópicos de sua obra e propôs pertinentes reflexões sobre o Brasil.
Ao longo do mês, portanto, a ACL demonstrou que seus 85 anos de história podem ser contados sob recortes muito diversos. Mas todos eles passam pela valorização das instituições que caminham em prol da preservação da memória campista. Demonstramos, com isso, que, em mais de oito décadas, a ACL estabeleceu seu papel na história cultural de Campos, mas não esteve solitária.
Para citar apenas as instituições celebradas nesse mês de junho, é possível ressaltar que muitos dos acadêmicos fundadores da ACL, que estiveram no Café Club em 21 de junho de 1939, eram membros da Associação de Imprensa Campista. O atual prédio-sede da ACL foi inaugurado, segundo relatos, com uma apresentação da Banda Lira de Apolo no ano de 1916 — que marcou a abertura da Escola Wenceslau Brás. Além disso, quantas histórias de nossos acadêmicos a Livraria Ao Livro Verde poderia contar?
Isso quer dizer, portanto, que nossas instituições possuem histórias que se complementam em diversos pontos de contato na linha do tempo, pois estão interligadas na complexa trama a que chamamos Cultura Campista.
A você que nos lê, deixamos o convite para conhecer a Academia Campista de Letras e participar desse movimento em prol de nossa cultura.