Campos e a Arte da Reeleição: entre o passado e o futuro
Por Edmundo Siqueira
Se há algo que a política municipal ensina com precisão é que prefeitos, quando tentam a reeleição, jogam com a máquina a seu favor. E se bem utilizados, os benefícios do poder incumbente transformam-se em vantagens eleitorais que os oponentes dificilmente conseguem superar. As estatísticas não mentem: incumbentes, ou seja, aqueles que já estão no cargo, têm altas probabilidades de sucesso quando decidem concorrer novamente. Mas, como disse o cientista político Vitor Peixoto, não são os números que definem as eleições — é a forma como interpretamos esses números.
Em Campos dos Goytacazes, no coração do Norte Fluminense, o cenário não é diferente. A cidade, que viveu momentos de profunda crise financeira nos últimos anos, especialmente com o colapso das receitas do petróleo, agora assiste à tentativa de reeleição de Wladimir Garotinho, herdeiro de uma dinastia política local. Em meio a um contexto econômico mais favorável e com o rescaldo das dificuldades do governo Rafael Diniz ainda frescas na memória dos eleitores, a campanha de Wladimir ganha fôlego. Não se trata apenas de números ou obras visíveis. É sobre como os eleitores enxergam o progresso em relação ao caos pré-existente.
Esse mesmo cenário se repete em outros municípios da região, como São João da Barra, onde a prefeita Carla Caputi também busca um novo mandato. Em ambos os casos, a pergunta-chave é: o que eles fizeram com o que tinham em mãos? E, mais importante, será que essa gestão convenceu o eleitorado?
Foi justamente sobre esses temas tratados com o cientista político Vitor Peixoto, cientista político e professor da Universidade Estadual do Norte Fluminense (Uenf), em uma entrevista na Folha FM 98,3 nesta quinta (26), que navegou pelas intricadas águas das eleições municipais de 2024.
A seguir, um trecho dessa conversa:
Reeleição do incumbente
Vitor Peixoto — “Prefeitos que tentam a reeleição, eles têm uma nova chance de se reeleger, certo? Os dados dizem isso [incumbentes que tentam a reeleição têm alta probabilidade de reeleição], mas a forma de interpretar é que muda.Trazendo para Campos, e para os municípios da região, que tem prefeitos e prefeitos que estão tentando a reeleição, como é o caso de São João da Barra, por exemplo, onde uma prefeita [Carla Caputi] que tenta a reeleição, eles têm mais chance que seus oponentes, isso é claro. Até pelo fato de manterem a máquina e, obviamente, por estarem no governo, em um contexto econômico muito propício, para a realização de obras, prestação de serviço público, quando a gente é quando faz sobre um município específico, a gente tende a iniciar comparando o que aquela gestão fez diante daquilo que ela pegou”.
“Se você for analisar Campos, você tem que se perguntar: como Vladimir pegou a Prefeitura e como ele entregou exatamente. Eu acho que a primeira avaliação que as pessoas fazem é avaliar com aquilo que o prefeito encontrou quando começou a governar. Wladimir em Campos tem uma vantagem eleitoral muito grande, devido a penumbra que se encontrou no governo Rafael Diniz e aquilo que ele fez no município nos últimos anos”.
“Não é nada absolutamente extraordinário, mas diante de um cenário, que era de completo caos econômico e administrativo como o que Campos viveu com a crise do petróleo em 2016, etc. e o que foi o governo Rafael. Mas o fato é, Wladimir pegou a Prefeitura em completo caos econômico e administrativo e ele colocou aquilo para rodar. Então são esses dados, de 70% de aprovação, [refletem] esse quadro de avaliação que o eleitor faz da da administração Wladimir”.
O teto de Wladimir e as campanhas de oposição?
Vitor Peixoto — “Eu não gosto de falar de teto, o teto nos remete muito a uma questão fixa, que normalmente é a aprovação [de governo]. Então qual o teto, os 74% da aprovação? Isso pode aumentar e pode diminuir. Então você qual é o teto? O capital eleitoral dele é o teto da aprovação, obviamente, mas a aprovação pode aumentar ou diminuir de acordo com a avaliação das campanhas. As campanhas existem por isso. Ou vocês acham mesmo que os oponentes, Madeleine, Jefferson, Buchaul [completam o cenário Fabrício Lírio, Fabrício Lírio e Thuin], estão saindo de casa todos os dias acreditando, eles têm que acreditar que podem mudar. Para o candidato à reeleição, é hora de defender o governo, defender seus feitos e prometer novos feitos para frente”.
“Então você tem uma avaliação retrospectiva, que avalia o passado e tem, obviamente, as promessas, que é aquilo que o eleitor vai avaliar, como prospectivo. No caso das campanhas [de oposição], é tentar mudar isso, dizer que não foi tão bom assim que Wladimir pegou o governo que não é, que não fez o que deveria fazer com as condições que tiveram”.
Publicado hoje na Folha da Manhã.