Por que a pesquisa Paraná desapareceu?
Encomendada pelo jornal carioca o Dia, com registro no TSE e divulgação prevista para ontem (27), por que a nova pesquisa Paraná a prefeito de Campos desapareceu? Desde quarta (25), circulava nos bastidores que a Alerj pressionava, como grande cliente do jornal carioca, para que a pesquisa de Campos não fosse divulgada. Se é impossível afirmar, fato é que a pesquisa simplesmente desapareceu. Após a ducha de água fria na oposição com a Real Time Big Data de segunda (23), ter outro instituto de renome nacional projetando a reeleição do prefeito Wladimir Garotinho (PP) no 1º turno, a um dígito de dias da urna, seria visto como pá de cal.
“Sumiu, escafedeu-se”
Principais grupos políticos de Campos, Garotinhos e Bacellar só trabalham com pesquisas. Sobretudo de orientação interna, como a Quaest a prefeito de Campos feita pela oposição na terça (24). Como não foi registrada no TSE, seus números não podem ser divulgados. Mas não ter sido registrada e divulgada por quem a encomendou evidencia que o cenário encontrado foi bem próximo ao revelado pela Big Data de segunda, com 65% de intenção a Wladimir na consulta estimulada. Como, mais que provavelmente, foi pela Paraná de sexta. Que, por isso mesmo, como na letra da música “A dois passos do paraíso”, da Blitz: “sumiu, escafedeu-se”.
Multiplicação das intenções de voto?
Paraná, Big Data e Quaest são conceituados nacionalmente. Conceito que não tem a Prefab Future, com pesquisa a prefeito de Campos registrada no TSE para divulgação na segunda (30). Tampouco a Iguape, contratada em movimento coordenado ou estranha coincidência com o desaparecimento da nova pesquisa Paraná, registrada no TSE para divulgação na terça (1º). Seria para achar à 2ª colocada, Delegada Madeleine (União), algo próximo aos 30% de intenção de voto, cerca do dobro do que ela de fato tem em todas as pesquisas. Como o ex-prefeito Sérgio Mendes (Cidadania), aliado de Madeleine, projetou no Folha no Ar do dia 19.
Iguape ontem e hoje
Esse número entre 20% e 30% de intenção a Madeleine teria sido achado numa pesquisa interna, sem registro, de um instituto de pouca credibilidade. Escalado de última hora para tentar bisá-lo e criar uma guerra de narrativas na semana da eleição, o Iguape, ironicamente, é considerado o instituto que sepultou, em julho do ano passado, a pré-candidatura a prefeito até então cogitada do presidente da Câmara Municipal, vereador Marquinho Bacellar (União). Que teve 3,1% de intenção de voto na consulta estimulada a prefeito. Atrás dos 8,6% de Caio Vianna (hoje, MDB) e dos 55% de intenção que Wladimir já tinha há 14 meses.
Aprovação de gestão = intenção de voto
Naquela Iguape de julho de 2023, outra consulta determinou a decisão de terceirizar a candidatura a prefeito dos Bacellar em 2024. Há 14 meses, na pesquisa encomendada por seu principal grupo opositor, a gestão Wladimir já aparecia aprovada por 74,7% dos campistas, com 22% de reprovação. Ao passo que a Câmara Municipal, já presidida por Marquinho na maior vitória da oposição nos últimos 3 anos e 9 meses, foi reprovada pela maioria de 38,6% dos campistas, aprovada por 35,5%, com 26% que não souberam opinar. Ou seja, a aprovação popular do Legislativo com Marquinho foi menos da metade do Executivo com Wladimir.
Nova Brasmarket?
Paraná, Big Data e Quaest têm nome a zelar. Não se prestariam, nem a pedido do contratante, a achar um número de intenção de voto artificial a um candidato, muito além da margem de erro, do que de fato tem em todas as demais pesquisas. O que, se acontecer na Iguape de terça, fará com que o instituto cumpra o papel que a Brasmarket tentou fazer pelo então presidente Jair Bolsonaro (PL) em 2022. Provavelmente, com o mesmo resultado prático: ser desmascarado pela decisão soberana da urna. Mesmo com a derrama de “aspectos menos metodológicos”, na reta final da eleição, em subversão ao cientista político Renato Dolci.
Cego em tiroteio
Em 2023, desde a pesquisa GPP de março, passando pela Iguape de julho e a Prefab de agosto, Wladimir tinha intenção de voto para projetar a reeleição em 1º turno. Essa tendência foi confirmada pela Prefab de abril, as Big Data de agosto e setembro e a Paraná de agosto de 2024, antes da de setembro desaparecer. Enquanto a coordenação da oposição parece mais perdida que cego em tiroteio. No terraplanismo da negação das pesquisas e no malabarismo com a Paraná de agosto, antes do desaparecimento da pesquisa de setembro. Ou quando omitiu as Big Data de agosto e setembro, para lembrar que as duas existiram só… quatro dias depois da última.
Eleição de Campos sem paixão
Quem nega e sonega pesquisas, no compromisso político e doloso com a desinformação, agora pode ter achado uma Iguape para chamar de sua. Depois que a pesquisa Paraná de setembro “sumiu, escafedeu-se”. Como a urna é só daqui a oito dias, o suspense é como laticínio: tem validade curta. A ver. Mas como enxergar é sempre mais difícil pelos antolhos da paixão e/ou do interesse, vale a visão impessoal e de fora de um estrategista político experiente, como o carioca Orlando Thomé Cordeiro. Que ontem disse ao Folha no Ar: “a não ser uma hecatombe nessa última semana, o que não se vislumbra, não há hipótese de haver 2º turno em Campos”.
Publicado hoje na Folha da Manhã.