Pesquisas acertam Lula, Castro e Romário
Na última quarta (28), a quatro dias das urnas de 2 de outubro, esta coluna escreveu: “Como fez em várias outras eleições, a Folha tentou retratar esta da maneira objetiva: pelos números das pesquisas. Que não são infalíveis, mas apontam tendências. Baseado nelas, não na torcida, é possível afirmar que o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), o governador Cláudio Castro (PL) e o senador Romário (PL) chegam na final como franco-favoritos em suas disputas”. Essas três projeções se cumpriram no voto na urna. Castro, no 1º turno, e Romário se se reelegeram. E Lula ficou a apenas 1,5 ponto de definir a eleição em turno único.
Pesquisas erram Bolsonaro
Na véspera da eleição, a pesquisa Datafolha deu Bolsonaro com 36% de intenções dos votos válidos, 37% na Ipec (antigo Ibope). Como o presidente passaria ao 2º turno com 43,20% dos votos válidos, entre 6 e 7 pontos a mais do que o projetado nas duas pesquisas, estas passaram a sofrer ataques do presidente e seus eleitores. Que já sofriam antes da urna, por projetarem a liderança confirmada de Lula. Assim como de Castro e Romário. Segundo os responsáveis por Datafolha e Ipec, como de todos os outros institutos de pesquisa do país, o que houve foi a migração do “voto útil” nas últimas 24h a Bolsonaro.
O erro do “voto útil”
Diretor do instituto Quaest Pesquisa e Consultoria, o cientista político Felipe Nunes afirmou na quarta (28), quatro dias antes do pleito de domingo, que o “voto útil” ainda não tinha sido registrado pelas pesquisas. E que, se tivesse que acontecer, seria nas 48h ou 24h antes da urna. Como de fato ocorreu. Só que, no lugar de ir para Lula, como queria a campanha petista pelo “voto útil”, foi para Bolsonaro. Como Lula confirmou na urna a mesma liderança das pesquisas, de onde saíram os votos de última hora ao capitão? É só buscar quem mais desidratou entre pesquisas e urnas para saber: saíram do ex-ministro Ciro Gomes (PDT).
“A maior burrada eleitoral”
As pesquisas erraram a projeção dos votos de Bolsonaro. E acertaram a liderança de Lula, Castro e Romário. Três acertos são mais que um erro. Justificado pela mesma diferença entre pesquisa e votos de Ciro. Quem criticava antes as pesquisas, só pela torcida contrariada pela liderança de Lula confirmada na urna, ganhou com ela números mais favoráveis a Bolsonaro para justificar seus questionamentos. Como o PT deveria questionar o tiro pela culatra que foi sua pregação pelo “voto útil”. Como escreveu na segunda (3) a jornalista Madeleine Lacsko, em artigo no UOL: “campanha pelo voto útil em Lula é a maior burrada eleitoral que já vimos”.
Após urnas, Paulista com… Dilma
Atacar Ciro e seus eleitores, como fazem os lulopetistas que deles precisam mais que nunca, reflete a arrogância de quem não nada aprendeu com o impeachment do desastroso governo Dilma Rousseff em 2016. Ou com a prisão de Lula por corrupção em 2018. Em 2022, a soberba petista endossa os eleitores que, nas 24h antes da urna, saíram de Ciro a Bolsonaro. Após a apuração, ainda na noite de domingo, pressionado por não concluir a eleição no 1º turno, como pela curta vantagem de 5 pontos (48,43% dos votos válidos a 43,20% de Bolsonaro) que levou ao 2º turno, Lula discursou na avenida Paulista. E, quem foi para ouvi-lo, ouviu… Dilma.
Romeu Zema
Em contraste com Lula, um Bolsonaro aliviado também falou na noite de domingo. Em Brasília, atacou o Datafolha, como o voto na urna lhe deu direito de fazer. E acenou com compreensão nele incomum com o eleitor pobre que deu confirmou na urna a liderança de Lula mostrada nas pesquisas. Acenou também ao governador mineiro Romeu Zema (Novo), reeleito em 1º turno. Que respondeu já na tarde de segunda, quando em entrevista ao vivo declarou seu apoio ao capitão. E, como empresário, narrou o que qualquer outro empreendedor do Brasil lembra bem: a dor que foi ser obrigado a demitir funcionários pela recessão do governo Dilma.
MG, RJ e SP x Ciro
Ontem, na terça, Bolsonaro saiu bem na foto ao receber formalmente o apoio de Zema e Castro, favoritos nas pesquisas confirmados pela urna. E do atual governador paulista Rodrigo Garcia (PSDB). Que, como também mostraram as pesquisas, ficou fora do 2º turno entre o bolsonarista Tarcísio de Freitas (Republicanos), a quem apoiará, e o petista Fernando Haddad. Se o ex-governador tucano Geraldo Alckmin, hoje no PSB e vice de Lula, não fizer milagre no interior paulista, a tampa do caixão do Sudeste, com 42% do eleitorado do país, pode pesar sobre o PT. E Ciro? Com os 3,04% dos votos que lhe restaram na urna, declarou apoio a Lula.
Publicado hoje na Folha da Manhã.