Thiago Virgílio encerra a semana do Folha no Ar nesta sexta

 

(Arte: Eliabe de Souza, o Cássio Jr.)

 

Presidente da Companhia de Desenvolvimento do Município de Campos (Codemca), ex-vereador e pré-candidato a deputado estadual, Thiago Virgílio (Podemos) é o convidado para encerrar a semana do Folha no Ar nesta sexta (19), ao vivo, a partir das 7h da manhã, na Folha FM 98,3.

Ele fará um balanço dos seus 100 dias à frente da Codemca, assim como dos primeiros 8 meses e meio do governo Wladimir 2. Da perspectiva de personagem, Thiago também analisará o tabuleiro político de Campos e região nas pré-candidaturas (confira aqui) a deputado federal e estadual em 2026.

Por fim, com base nas pesquisas mais recentes, Thiago tentará projetar as eleições a presidente (confira aqui e aqui), governador (confira aqui, aqui e aqui) e senador (confira aqui e aqui) em 4 de outubro de 2026, daqui a pouco mais de um ano.

Quem quiser participar do Folha no Ar desta sexta poderá fazê-lo com comentários em tempo real, no streaming do programa. Seu link será disponibilizado alguns minutos antes do início, nos domínios da Folha FM 98,3 no Facebook e no YouTube.

 

Entre 41% e 61% dos brasileiros contra anistia a Bolsonaro

 

(Infográfico: Eliabe de Souza, o Cássio Jr.)

 

Condenado a 27 anos e 3 meses de prisão (confira aqui) por tentativa de golpe de Estado no último dia 11, por 4 votos a 1, na 1ª Turma do Supremo Tribunal Federal (STF), o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) deveria ou não ser anistiado? Segundo duas pesquisas nacionais de setembro, a maioria dos brasileiros é contra. Na Datafolha, 61% são contra a anistia aos responsáveis pela invasão à Praça do Três Poderes em 8 de janeiro de 2023 (com 33% a favor). Na Quaest, 41% são contra a anistia ao ex-presidente (com 36% a favor).

Entre as pesquisas que mais acertaram em 2022 — A nova pesquisa Datafolha foi feita de 8 a 9 de setembro, com 2.005 eleitores e margem de erro de 2 pontos para mais ou menos. A nova pesquisa Quaest foi feita de 12 a 14 de setembro, com 2.004 eleitores e a mesma margem de erro de 2 pontos. Com metodologias diferentes, os dois institutos estiveram (confira aqui) entre os quatro do país que mais acertaram o resultado do apertado 2º turno presidencial de 2022.

Contra ou a favor da anistia? — Na Quaest, além dos 41% contra a anistia e dos 36% a favor para todos, incluindo Bolsonaro, houve outros 10% favoráveis à anistia apenas aos invasores do 8 de janeiro, com outros 13% que não souberam responder. Na Datafolha, além dos 61% contra a anistia aos responsáveis pela invasão e dos 33% favoráveis, outros 5% não souberam responder, com 1% indiferente.

Cresce a opinião contra anistia — Mas, diferente da Quaest, que só trouxe os resultados de setembro, a Datafolha comparou a opinião contra e a favor à anistia colhida em pesquisas anteriores. De julho a setembro, os brasileiros contrários à anistia cresceram 6 pontos: de 55% aos atuais 61%. Enquanto, no mesmo período, os favoráveis à anistia oscilaram 2 pontos para baixo: dos 35% de julho aos 33% de setembro.

 

(Infográfico: Eliabe de Souza, o Cássio Jr.)

 

Metade dos brasileiros acha que Bolsonaro deveria ser preso — A Datafolha trouxe também outras perguntas sobre a condenação de Bolsonaro. São 50% (2 pontos a mais que os 48% de julho) os que acham que o ex-presidente deveria ser preso, “considerando o que foi revelado pelas investigações sobre a tentativa de golpe”. Embora minoria, relevantes 43% (queda de 3 pontos em relação aos 46% de julho) acham que Bolsonaro não deveria ser preso, com 7% que não souberam opinar.

 

(Infográfico: Eliabe de Souza, o Cássio Jr.)

 

Cresce a opinião pela prisão de Bolsonaro — A Datafolha também perguntou diretamente: “E na sua opinião, Jair Bolsonaro vai ou não ser preso?” Ao que 50% (10 pontos a mais que os 40% de julho) responderam em setembro: “Sim, vai ser preso”. Outros 40% responderam: “Não vai ser preso”. Ainda é uma parcela relevante, mas são igualmente relevantes 11 pontos a menos do que os 51% que não acreditavam na prisão do ex-presidente em julho. Em setembro, outros 10% não souberam responder.

 

(Infográfico: Eliabe de Souza, o Cássio Jr.)

 

Houve tentativa de golpe para 55% — Feita após Bolsonaro ser condenado em 11 de setembro, a Quaest fez outros levantamentos pertinentes. A maioria de 55% dos brasileiros acha que houve tentativa de golpe no país, crescimento de 5 pontos sobre os 50% de dezembro de 2024. Os que acham que não houve eram e se mantiveram em 38% no mesmo período, enquanto os que não souberam responder caíram 5 pontos dos 12% de dezembro de 2024 aos 7% em setembro de 2025.

 

(Infográfico: Eliabe de Souza, o Cássio Jr.)

 

Para 54%, Bolsonaro participou — Num período mais curto, entre agosto e setembro na série Quaest, os que acham que Bolsonaro participou da tentativa de golpe oscilaram 2 pontos para cima, de 52% aos atuais 54% dos brasileiros. Os que acham que Bolsonaro não participou oscilaram 2 pontos para baixo: dos 36% de agosto aos 34% de setembro. No mesmo período, eram e se mantiveram em 10% os que não souberam responder.

 

(Infográfico: Eliabe de Souza, o Cássio Jr.)

 

Perseguição do STF contra Bolsonaro para 47% — Também entre agosto e setembro, a Quaest perguntou “O processo judicial contra Bolsonaro foi imparcial ou teve perseguição política?” Os que responderam que “teve perseguição” ainda são a maioria, mas caíram 5 pontos no último mês: de 52% aos atuais 47%. Em contrapartida, os que acham que o julgamento do STF foi imparcial cresceram 6 pontos: dos 36% de agosto aos 42% de setembro. Os que não souberam responder passaram de 12% aos atuais 11%.

 

(Infográfico: Eliabe de Souza, o Cássio Jr.)

 

Pena de 27 anos e 3 meses é exagerada para 49% — Sobre a questão da dosimetria, a maioria de 49% dos brasileiros acha exagerada a pena a Bolsonaro de prisão por 27 anos e 3 meses. Outros 35% acham que a pena é adequada, com 12% que acham insuficiente e 4% que não souberam responder.

 

(Infográfico: Eliabe de Souza, o Cássio Jr.)

 

Maioria pela tornozeleira, inelegibilidade e prisão domiciliar — Há, contudo, também maioria nos 48% dos brasileiros que acham adequado o uso de tornozeleira eletrônica por Bolsonaro (contra 35% que acham exagerado). Como nos 47% que acham adequada a condenação à inelegibilidade em 2026 (contra 35% que acham exagerada) e nos 51% que acham a prisão domiciliar adequada (contra 28% que acham exagerada).

Despenca apoio ao impeachment de Moraes — Considerado o principal inimigo do bolsonarismo, Alexandre de Moraes também esteve nas consultas Quaest. Há maioria nos 52% dos brasileiros contrários ao impeachment do ministro do STF em setembro, crescimento considerável de 9 pontos sobre os 43% que eram contrários em agosto. No mesmo período de apenas um mês, os favoráveis ao impeachment de Moraes despencaram 10 pontos: de 46% aos atuais 36%. Os que não souberam responder passaram de 11% a 12% no mesmo período.

 

(Infográfico: Eliabe de Souza, o Cássio Jr.)

 

William Passos, geógrafo com especialização doutoral em estatística no IBGE

Análise do especialista — “Quaest e Datafolha avaliaram a opinião pública sobre a possibilidade de anistia. Ambas têm margem de erro de 2 pontos, mas as pesquisas têm formas diferentes de fazer perguntas, o que exige cautela na comparação dos resultados. Para a Quaest, 41% dos brasileiros são contra a anistia, 36% são a favor da anistia para todos os envolvidos, incluindo Bolsonaro, e 10% são a favor da anistia apenas para os manifestantes do 8 de janeiro. Já a Datafolha fez apenas uma pergunta generalizada, indagando a população se ela é a favor ou contra uma anistia que livre de punição os responsáveis pela invasão e depredação dos prédios do STF, do Congresso Nacional e do Palácio do Planalto no dia 8 de janeiro de 2023. Em setembro, 61% dos entrevistados se posicionaram contra”, resumiu William Passos, geógrafo com especialização doutoral em estatística no IBGE.

 

Xadrez político da região a deputado federal e estadual em 2026

 

Presidente da Alerj, Rodrigo Bacellar, e Wladimir Garotinho, Welberth Rezende e Yara Cinthia, prefeitos, respectivamente, de Campos, Macaé e São Francisco de Itabapoana (Montagem: Eliabe de Souza, o Cássio Jr.)

 

 

Grupos esperam Rodrigo e Wladimir

Em Campos, os dois maiores nomes atuais da política — o presidente da Alerj, Rodrigo Bacellar (União), e o prefeito Wladimir Garotinho (PP) — ainda não definiram seus destinos à urna de 4 de outubro de 2026, daqui a pouco mais de um ano. E das decisões deles, até de 4 abril, derivarão as decisões dos seus grupos políticos a deputado federal e estadual.

 

Com Bacellar a governador

Se Rodrigo vier a governador, terá que naturalmente espraiar seu apoio entre as candidaturas à Alerj. Não só a nomes locais, como os já deputados Carla Machado (PT) e Thiago Rangel (Avante), além da Delegada Madeleine (União), ex-candidata a prefeita de Campos em 2024, mas também entre candidaturas do Grande Rio e de outras regiões fluminenses.

 

Com Bacellar no TCE

Se Rodrigo decidir ser conselheiro de Tribunal de Contas do Estado do Rio de Janeiro (TCE-RJ), os nomes preferenciais do seu grupo a deputado estadual seriam seu irmão, o vereador Marquinho Bacellar (União); e o campista Márcio Bruno (União), chefe de gabinete do presidente da Alerj. Só se este viesse a governador, Marquinho não se candidataria em 2026.

 

Com Wladimir a vice

Já Wladimir, se vier a vice-governador em chapa encabeçada pelo prefeito carioca Eduardo Paes (PSD) ou pelo ex-prefeito de Duque de Caxias Washington Reis (MDB), deve ter a esposa, Tassiana (PL), como candidata a deputada federal. E apoiará à Alerj a reeleição de Bruno Dauiare (União), Caio Vianna (PSD) e o presidente da Codemca, Thiago Virgílio (Podemos).

 

Com Wladimir a federal

Mesmo se Wladimir não compuser chapa ao Palácio Guanabara, deve sair da Prefeitura até 4 de abril para vir a deputado federal. O que não mudaria seus apoios a deputado estadual. Embora os vereadores governistas Kassiano Tavares, o mais votado em Campos em 2024, e Marquinho do Transporte, ambos do PP, também tentem se viabilizar a deputado estadual.

 

Welberth também com força no jogo

Também sondado por Paes como candidato a vice na sua chapa a governador, o prefeito reeleito de Macaé, Welberth Rezende (Cidadania), chegou a pensar em também renunciar para ser candidato a deputado federal. Mas decidiu ficar na Prefeitura da cidade que mais cresce na região e optar por seu irmão, Márcio Rezende (Cidadania), à Câmara dos Deputados.

 

Os quatro do prefeito de Macaé à Alerj

À Alerj, Welberth deve apoiar quatro pré-candidatos: o presidente da Câmara Municipal, Alan Mansur (Cidadania); o também vereador Cesinha (Cidadania), o secretário municipal de Saúde Dr. Lucas (Cidadania) e a secretária de Ensino Superior de Macaé, a ex-vereadora Iza Vicente (Rede). Alan, além de si próprio, tem o apoio de 14 dos 17 vereadores a deputado estadual.

 

Demais nomes de Macaé

Macaé já tem o deputado estadual Chico Machado (SD), candidato natural à reeleição. Que terá o apoio do irmão e vereador Filipe Machado (Cidanania). Como o ex-deputado federal Felício Laterça (PP) pode tentar voltar ao cargo. Para ampliar o apoio ao seu irmão a deputado federal na região, o prefeito Welberth tem conversado com políticos de outros municípios.

 

Em SJB, novidade é Danilo a federal

Candidata natural à reeleição na Alerj, a deputada Carla Machado, com ou sem Bacellar, terá o apoio da prefeita Carla Caputi (União) em São João da Barra. Além dela e de Bruno Dauaire a estadual, Danilo Barreto (Novo), ex-candidato a prefeito em 2024, deve tentar uma vaga a deputado federal em 2026. Numa possível dobrada com Thiago Rangel a estadual em SJB.

 

Yara libera base a Thiago, Bruno e Carla

Já em São Francisco de Itabapoana, a prefeita Yara Cinthia (SD) deve dividir sua base de 12 dos 13 vereadores entre três pré-candidatos à Alerj: oito com Thiago Rangel, três com Bruno Dauaire e um com Carla Machado. Também pré-candidata a deputada estadual, a ex-prefeita Francimara Barbosa Lemos (SD), hoje, teria o apoio de apenas um edil.

 

Publicado hoje na Folha da Manhã.

 

Aprovação: no mesmo período, Lula 3 atrás de Itamar, FHC 1, Lula 2 e Dilma 1

 

(Infográfico: Eliabe de Souza, o Cássio Jr.)

 

O Governo Lula (PT) chega a setembro, a pouco mais de um ano da urna de 4 de outubro de 2026, com 33% de ótimo e bom na avaliação popular. É menos do que os 38% que o classificam como ruim e péssimo, com 28% de regular. Mas as tendências favorecem a situação. Dos 29% de julho, o ótimo e bom do Lula 3 cresceu 4 pontos aos 33% de setembro, enquanto o ruim e péssimo oscilou 2 pontos para baixo no mesmo período: de 40% a 38%. Os números de setembro de 2025 são os melhores à situação desde dezembro de 2024.

Nova pesquisa Datafolha — Os dados foram apresentados pela nova pesquisa Datafolha, feita entre 8 e 9 de setembro com 2.005 eleitores brasileiros de 113 municípios, e margem de erro de 2 pontos para mais ou menos. Como a Datafolha faz pesquisas no Brasil desde os anos 1980, é possível comparar os números atuais de aprovação do Lula 3, com períodos próximos de gestão de todos os presidentes do Brasil desde José Sarney (1985/1990).

Só Itamar, FHC 1, Lula 2 e Dilma 1 melhores que o Lula 3 — Os números atuais do Lula 3, com 2 anos e 9 meses de governo, só são superados na série histórica Datafolha pelos alcançados, em períodos semelhantes, por Itamar Franco (41% de ótimo e bom, 48% de regular e 8% de ruim e péssimo, com 2 anos e 2 meses de governo, em dezembro de 1994), FHC 1 (43% de ótimo e bom, 41% de regular e 15% de ruim e péssimo, com 2 anos e 4 meses de mandato, em setembro de 1997), Lula 2 (67% de ótimo e bom, 25% de regular e 8% de ruim e péssimo, com 2 anos e 8 meses de mandato, em agosto de 2009) e Dilma 1 (36% de ótimo e bom, 42% de regular e 22% de ruim e péssimo, com 2 anos e 8 meses de mandato, em agosto de 2013).

 

(Infográfico: Eliabe de Souza, o Cássio Jr.)

 

Pior que Lula hoje, Temer não tentou reeleição, Bolsonaro tentou e perdeu — Todos os presidentes do Brasil, nos últimos 40 anos, que tiveram números de aprovação de governo pela Datafolha melhores que os do Lula 3 de hoje, se reelegeram ou elegeram seus sucessores. Com números piores, o governo Michel Temer (4% de ótimo e bom, 21% de regular e 71% de ruim e péssimo, com 2 anos e 3 meses de mandato, em agosto de 2018) sequer tentou a reeleição. Enquanto o de Jair Bolsonaro (22% de ótimo e bom, 24% de regular e 53% de ruim e péssimo, com 2 anos e 9 meses de mandato, em setembro de 2021) tentou se reeleger em outubro de 2022 e acabou derrotado.

 

(Infográfico: Eliabe de Souza, o Cássio Jr.)

 

Empate exato entre aprovação e reprovação — Em outra métrica mais simples, a Datafolha de setembro também perguntou ao eleitor: “Você aprova ou desaprova o trabalho de Lula como presidente?” Houve um empate exato de 48% para cada lado da resposta, com 4% que não souberam opinar. Mas as tendências, novamente, parecem favoráveis ao Lula 3: em julho, os 50% que desaprovavam oscilaram 2 pontos para baixo nos 48% de setembro, enquanto os 46% que aprovavam oscilaram para cima os mesmos 2 pontos no mesmo período, aos atuais 48%. 

 

(Infográfico: Eliabe de Souza, o Cássio Jr.)

 

William Passos, geógrafo com especialização doutoral em estatística no IBGE

Análise do especialista — “A Datafolha de setembro de 2025 fez uma avaliação dos 2 anos e 9 meses do presidente Lula. Após ter atingido a mínima histórica de 24% de aprovação em fevereiro de 2025, com 2 anos e 2 meses do terceiro mandato, a avaliação de ótimo ou bom segue em recuperação, alcançando 33%. Na história da redemocratização, este percentual só ficou abaixo dos 41% de Itamar Franco, com 2 anos e 2 meses de governo. Dos 43% de FHC com 2 anos e 4 meses do primeiro mandato. Dos 36% de Dilma, com 2 anos e 8 meses do primeiro mandato. E dos imbatíveis 67% do segundo mandato do próprio Lula, com 2 anos e 8 meses de governo. Sob perspectiva histórica, a avaliação do Lula 3, neste momento, não é ruim. Estes números também explicam o empate numérico em 48% tanto na aprovação quanto na reprovação do trabalho de Lula como presidente”, avaliou William Passos, geógrafo com especialização doutoral em estatística no IBGE.

 

Edmundo Siqueira — Julgamento entre garantistas, punitivistas e contradições

 

Arte postada há três dias no Instagram por Deltan Dallagnol, ex-procurador da República e ex-deputado federal, retomando a definição reservada do ministro do STF Luiz Fux pelo então juiz federal Sergio Moro, durante a operação Lava Jato, em conversas de Telegram reveladas pelo site de esquerda Intercept

 

 

Edmundo Siqueira, servidor federal, jornalista e blogueiro hospedado no Folha1

Um julgamento entre garantistas, punitivistas e contradições

Por Edmundo Siqueira

 

“In Fux We Trust”. A expressão em inglês foi alardeada a quatro ventos em 2019, após reportagem do The Intercept. Era uma senha de confiança: Sergio Moro disse a Deltan Dallagnol que podiam contar com o ministro Luiz Fux para segurar a Lava Jato e, se preciso, os seus excessos. Em tradução simples — “nós confiamos em Fux” — era dizer que havia um juiz no Supremo pronto para ser mais acusador que garantista.

Corta para 2025. No julgamento da chamada “trama golpista”, eis que Fux já não é o mesmo. O punitivista virou garantista. O ministro que servia de escudo à Lava Jato agora ergue o “in dubio pro reo” como dogma e, em mais de 12 horas de voto, inocentou a maioria dos acusados. Mais: livrou Jair Bolsonaro de todas as acusações, e para isso esticou o entendimento do crime de formação de quadrilha e classificou os ataques de 8 de janeiro como uma mera “turba desordenada”, sem agenda golpista. Acampamentos pedindo golpe militar? Para Fux, exercício de liberdade. Intervenção militar e AI-5 perdidos nas manifestações? Folclore de quartel.

Mudança de entendimento não é pecado. Direito não é dogma, é processo. Mas o problema não é mudar:  é adaptar seus entendimentos no ponto exato em que a história exige firmeza. Também não há nenhum impedimento nas divergências entre os membros de um colegiado, entre ministros de uma corte que deve mesmo ser plural e permitir opiniões contrárias. Porém, como o próprio Fux disse em seu voto, “uma coisa é uma coisa, outra coisa é outra coisa”.

Fux brigou até com ele mesmo para sustentar suas teses. Começou afirmando a incompetência do STF para julgar — como se a corte, guardiã da Constituição, não devesse se pronunciar sobre um ataque direto a ela. Enquanto Fux dava um giro de 180º, a ministra Carmén Lúcia avançava. Seu voto foi mais que jurídico: foi uma advertência. Citando o escritor francês Victor Hugo, disse que o “o mal feito para o bem”, na visão de quem propunha golpe, “continua sendo mal”, e quando tem sucesso “se torna um exemplo e vai se repetir”.

Carmem Lúcia e Zanin votaram afastando a narrativa de “manifestação popular” e reconheceram a conspiração. Deixaram um recado claro: não era o povo, era o golpismo.

 

Fux também acertou?

 

Ao alegar incompetência do Supremo, Fux questionou o fato do julgamento estar acontecendo na primeira turma da Corte, e não no Plenário. Nesse ponto, o ministro parece ter acertado no alvo. Se o entendimento é de que um ataque direto à Constituição deve ser julgado pelo STF, cabe ao Plenário, ou seja, a todos os ministros, a análise do caso. Cabe ao colegiado decidir sobre um crime dessa natureza, pois trata-se não de um crime comum, mas um encadeamento de fatos que pretendia abolir o Estado Democrático de Direito.

O julgamento é necessário, pedagógico e histórico. Não apenas por julgar um ex-presidente que — a partir do entendimento da maioria da 1º turma do Supremo (4×1) — agiu para permanecer no poder através de um golpe, mas também por colocar no banco dos réus militares de alta patente pelos mesmos crimes, fato inédito no Brasil.

Mas revela a contradição de sempre: a mesma Justiça que por anos titubeou diante das ameaças agora se apresenta como muralha. É justo perguntar se apresentar como proteção de forma imparcial e desnudada de interesses políticos, alheia às vaidades trazidas pelos holofotes, ou comete excessos para agir em vingança e não em justiça. E se não há, nos votos longos e nos latinismos garantistas, um esforço de apagar o passado com a tinta fresca do presente.

Penalizar os militares em um país que conta em sua história com pelo menos nove golpes de Estado, com participação das Forças Armadas, e na história recente (1964) viveu mais de duas décadas de ditadura, parece ser necessário, para a história não se repetir, como alertou Cármen Lúcia.

Mas a decisão da Primeira Turma também expõe uma fragilidade política da Corte. O julgamento de um ex-presidente e de generais de quatro estrelas, por sua natureza, não deveria ser fatiado em turmas, mas exposto à luz completa do Plenário.

Ao deixar o destino da democracia nas mãos de cinco ministros, o Supremo passa a imagem de um poder que, ao mesmo tempo em que se agiganta no discurso, encolhe na prática. É como se a muralha erguida contra o golpismo tivesse sido construída apenas até a metade, ou pelo menos com pedras passíveis de ruína.

Discutir se a turba era “organizada” ou “desordenada” soa quase como um preciosismo, quando o que se atacava era a própria democracia. Ao dourar a pílula com filigranas jurídicas, o risco é o de que a toga se torne um biombo, escondendo a gravidade dos fatos atrás da retórica.

É preciso cuidado com excessos punitivistas e garantistas. Porque, afinal, uma coisa é uma coisa. Outra coisa é outra coisa.

 

Condenação de Bolsonaro entre os votos de Fux e Cármen

 

Luix Fux, Jair Bolsonaro e Cármen Lúcia (Montagem: Eliabe de Souza, o Cássio Jr.)

 

 

Projeção de março

Quase seis meses atrás, a coluna projetou (relembre aqui) em 19 de março: “O ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) será condenado por tentativa de golpe de Estado pelo STF. Possivelmente, em setembro, com pena que pode chegar a 40 anos de prisão. Provavelmente, pela unanimidade dos cinco ministros da 1ª Turma do STF. Talvez com o contraditório do ministro Luiz Fux na dosimetria”.

 

Bolsonaro, generais e almirante condenados

Em 11 de setembro, a condenação de Bolsonaro se confirmou (confira aqui) no STF, a 27 anos e três meses de prisão. Como foram condenados os outros sete réus do “núcleo crucial” da trama golpista. Entre eles, três generais do Exército: Walter Braga Netto (26 anos), Augusto Heleno (21 anos) e Paulo Sérgio Nogueira (19 anos). E um almirante da Marinha: Almir Garnier (24 anos).

 

Inédito na História do Brasil

A República foi parida no Brasil em um golpe militar de Estado, em 1889. E de lá aos outros seis golpes consumados e outras 16 tentativas nos mais de 130 anos depois, contado o 8 de janeiro de 2023, foi a primeira vez na História do Brasil que um ex-presidente, três generais e um almirante foram julgados. E condenados à prisão por atentarem contra a democracia.

 

Sem unanimidade, por 4 a 1

Diferente do previsto, a condenação de Bolsonaro não se deu por unanimidade da 1ª Turma do STF, mas por 4 votos a 1. O contraditório de Fux foi muito além da dosimetria. Ele votou pela absolvição de Bolsonaro, Heleno, Paulo Sérgio, Garnier, do deputado federal Alexandre Ramagem (pena de 16 anos 1 um mês) e do ex-ministro da Justiça Anderson Torres (24 anos).

 

A contradição de Fux

Fux só considerou culpados Braga Netto e o ex-ajudante de ordens de Bolsonaro, o tenente-coronel Mauro Cid, com pena reduzida a 2 anos na condição de colaborador. Ao votar pela absolvição dos outros seis réus, o ministro foi contraditório com toda sua postura punitivista no STF, da operação Lava Jato aos invasores da Praça dos Três Poderes no 8 de janeiro.

 

O contraditório de Fux

Se foi contraditório como juiz, Fux ofereceu contraditório à relevante parcela dos brasileiros que acham que Bolsonaro foi submetido a um julgamento político. Em seu voto longo e bem sustentado, o ministro divergente ofertou caminhos jurídicos à reversão da condenação no futuro: de lacunas da acusação à própria competência do STF para julgar o caso.

 

Fachin com Lula

Não é preciso ser jurista para lembrar: foi por incompetência de foro que outro ministro do STF, Edson Fachin, anulou em 8 de janeiro de 2021 a condenação de Lula pela Lava Jato. O que devolveu os direitos políticos ao líder petista para voltar a concorrer a presidente. E vencer Bolsonaro no 2º turno de 2022, por apenas 1,8 ponto dos votos válidos.

 

O Fachin de Bolsonaro?

Se Fux será o Fachin de Bolsonaro, o tempo dirá. Ao que parece, o voto pela absolvição foi tão político quanto o da condenação pelos ministros Alexandre de Moraes, singular exemplo de juiz relator de um caso em que se planejou seu homicídio, Flávio Dino e Cristiano Zanin. Os dois últimos, respectivamente, ex-ministro da Justiça e ex-advogado pessoal de Lula.

 

Heróis e vilões à direita e à esquerda

Na bipolaridade política brasileira, Fux se tornou herói à direita e vilão à esquerda. Como foi na Lava Jato o hoje senador Sergio Moro. Ou o substituto deste, em mão ideológica invertida, como novo “herói” jurídico do Brasil: Xandão. Que sempre foi politicamente conservador e punitivista. E, como tal, foi indicado ao STF pelo presidente “golpista” Michel Temer (MDB).

 

Aposta em Tarcísio em 2026?

Da esquizofrenia ao pragmatismo político: o voto pela absolvição de Bolsonaro pode ter sido uma aposta de Fux, que se aposenta do STF em abril em 2028. Mas aposta em quê? A eventual eleição do governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas (REP), a presidente em 2026, mesmo que Lula seja hoje (confira aqui) favorito nas pesquisas, talvez não pagasse muito em nenhuma bet.

 

Carmén Lúcia de 2018 a 2025

Diferente de Fux, Moraes, Dino e Zanin, o único voto que pareceu despido de caráter político foi da ministra Cármen Lúcia. Que, tão logo fechou a tampa do caixão de Bolsonaro com base nos autos, foi alçada a “heroína” pela mesma esquerda que atacou sua residência (relembre aqui) em abril de 2018. Quando deu o voto de Minerva no STF que negou, por 6 a 5, o habeas corpus a Lula.

 

Publicado hoje na Folha da Manhã.

 

Cleber Tinoco — STF: Guardião da Constituição ou Arquiteto da Divisão?

 

Supremo Tribunal Federal (STF)

 

 

Cleber Tinoco, advogado

STF: Guardião da Constituição ou Arquiteto da Divisão?

Por Cleber Tinoco

 

Com a Ação Penal 2668, que leva o ex-presidente Jair Bolsonaro e outros sete réus ao banco dos réus do Supremo Tribunal Federal, o Brasil fica ainda mais polarizado. Como a instituição concebida para ser a guardiã da Constituição tornou-se protagonista central na polarização que fratura a sociedade?

Essa reflexão começa na Constituição de 1988. Nascida das cinzas da ditadura militar (1964/1985), ela prometeu não apenas um Estado de Direito, mas um Estado Democrático de Direito. No antigo modelo, surgido para conter o poder absoluto dos reis, o juiz era apenas a “boca da lei”, um aplicador autômato de regras. A II Guerra Mundial (1939/1945), no entanto, mostrou que a lei pode ser utilizada para “legitimar” tirania, como revelaram as atrocidades nazistas cometidas sob normas aparentemente válidas.

Foi inspirada nisso que a “Constituição Cidadã” colocou a dignidade humana e a legitimidade popular como fundamentos do Direito. O juiz deixou de ser um mero autômato e passou a ser intérprete dos valores constitucionais. Ao STF coube a missão de zelar pelo novo pacto social, assumindo o papel de guardião máximo da democracia.

Contudo, a tradição crítica do Direito adverte que a lei é também a expressão do poder. Desde Trasímaco (personagem de Platão em diálogo com Sócrates em “A República”), na Antiguidade, até (o jurista alemão Rudolf von) Jhering, no século 19, ecoa a ideia de que quem vence a disputa política impõe sua vontade como norma geral. Essa visão encontra paralelo no processo constituinte brasileiro, quando todos os lobbies estavam representados — banqueiros, militares, mídia —, menos o povo.

E essa influência não se limita à gênese da Carta Magna. Ela persiste ao longo da história republicana, manifestando-se tanto na escolha dos próximos ministros do Supremo, fruto de complexas articulações políticas, quanto na própria orientação de decisões judiciais, muitas vezes permeadas por pressões externas, conjunturas eleitorais ou interesses de grupos políticos. Assim, a tensão entre Direito e Poder, longe de ser episódica, constitui uma marca estrutural do nosso constitucionalismo.

Esse pano de fundo ajuda a compreender a ascensão do STF como superpoder. A própria Constituição de 1988, excessivamente detalhista e atribuidora de múltiplas funções, fez do Supremo o árbitro final de praticamente todas as disputas políticas. A Corte, de guardiã, converteu-se em verdadeiro “Poder Moderador” (destinado ao imperador no Brasil Império, acima do Executivo, Legislativo e Judiciário), muitas vezes legislando para cobrir o vácuo deixado pelo Congresso.

O Supremo, por diversas vezes, fragmentou-se em “onze ilhas” de vontades individuais, mergulhando o país em insegurança jurídica e na percepção de desigualdade diante da lei. Diversas decisões monocráticas, que a imprensa divulgou, foram concedidas para livrar políticos e empresários da prisão, invalidando provas e processos inteiros, a fim de sepultar qualquer tentativa de renovação persecutória.

Essa ambiguidade ficou evidente em decisões contrastantes. Como lembra o saudoso jurista Luiz Flávio Gomes, o STF ganhou aplausos ao condenar réus do Mensalão e validar a prisão em segunda instância, mas também foi acusado de proteger o establishment ao preservar Renan Calheiros na presidência do Senado ou blindar políticos com foro privilegiado. Entre o papel de justiceiro e o de guardião do status quo, a imagem pública da Corte se tornou errática.

O Inquérito das fake news acentuou a crise de confiança. Ao instaurar, de ofício, um procedimento no qual atuava simultaneamente como vítima, investigadora e julgadora, o STF transmitiu a impressão de que concentrava todas as funções do processo. A crítica da então procuradora-geral Raquel Dodge foi direta: juiz não investiga. Para grande parte da sociedade, a imparcialidade — pilar do sistema de justiça — pareceu desmoronar.

Assim, o Supremo continua envolto em decisões polêmicas. Ao tentar responder aos impasses de um país marcado pela corrupção sistêmica, assumiu um protagonismo que corroeu sua própria legitimidade. Hoje, a polarização não enxerga mais o Tribunal como mediador isento. Para uns, é o último bastião da democracia contra o autoritarismo; para outros, um poder tirânico que persegue adversários. Ambas as visões — defendidas ora por setores da direita, ora por segmentos da esquerda, a depender da conjuntura — convergem em um ponto essencial: o STF tornou-se um tribunal excessivamente poderoso, marcado pela imprevisibilidade de seus posicionamentos e pela contaminação política de suas decisões.

Engana-se, porém, quem pensa que todo o problema se resume ao STF. Lembremo-nos de que a Lava Jato foi tolerada até 2018 pelos donos do poder, enquanto a operação era instrumentalizada pelas oligarquias dominantes, para atuar seletivamente contra alguns empresários e políticos, preservando outros. Concluída a fase de expulsão do PT do poder (impeachment da Dilma, em 2016) e consumada a exclusão do Lula das eleições de 2018, os donos do poder alcançados ou ameaçados concretamente pela Lava Jato e operações congêneres iniciariam a reação (leia-se, a batalha pelo seu encerramento). Alguns descarados chegaram a dizer que, com a prisão do Lula, já bastava.

O julgamento de Bolsonaro, portanto, não é um episódio isolado, porém mais um capítulo de uma longa trajetória de tensões entre Direito e Poder. Qualquer que seja o desfecho do julgamento, a sociedade continuará polarizada. O guardião da Constituição, por não inspirar a necessária confiança que se espera de uma Corte Constitucional, acabou se convertendo em catalisador da divisão.

A tarefa de reconstruir a credibilidade do STF pertence a toda a sociedade, não apenas aos seus juízes. Internamente, o desafio é encontrar um novo equilíbrio: superar o juiz-autômato sem cair no juiz-legislador, resgatando a previsibilidade das decisões para que a igualdade perante a lei deixe de ser uma promessa vazia. Externamente, porém, a responsabilidade é de toda a sociedade. Um Judiciário sobrecarregado é, muitas vezes, sintoma de um Legislativo ruim e omisso. A vitalidade do Supremo depende de um Congresso forte e comprometido com o país, não apenas com o controle do orçamento e interesses paroquiais. O obstáculo é imenso, especialmente com a inserção do crime organizado na política, tornando a disputa eleitoral inviável e perigosa para cidadãos sérios e comprometidos com o bem comum.

Apesar de tudo, o STF é um pilar essencial da democracia. Clamores por seu fechamento são um convite ao abismo, pois, como a história demonstra dolorosamente, a pior democracia ainda é infinitamente superior à melhor das ditaduras.

 

Publicado hoje na Folha da Manhã.

 

A 1 ano da urna, Paes favorito a governador e Flávio a senador

 

(Arte: Eliabe de Souza, o Cássio Jr.)

 

 

Vencido agosto com três pesquisas eleitorais no estado do Rio de Janeiro (RJ), de institutos conceituados, chega-se a setembro de 2025 com pouco mais de 12 meses à urna de 4 de outubro de 2026. Quando os fluminenses votarão para eleger governador e dois senadores. Mas como interpretar essas pesquisas, com dois favoritos: o prefeito carioca Eduardo Paes (PSD) e o senador Flávio Bolsonaro (PL)? Ou o papel estadual que dois campistas terão em 2026: o presidente da Alerj, Rodrigo Bacellar (União), e o prefeito Wladimir Garotinho (PP)?

Para tentar responder, a Folha ouviu quatro especialistas. Dois em pesquisas: o geógrafo William Passos, com especialização doutoral em estatística no IBGE; e o empresário Murillo Dieguez, diretor do instituto Pro-4, que antecipou a eleição de Rafael Diniz (Cidadania) a prefeito de Campos em 2016. E dois especialistas da ciência política: George Gomes Coutinho e Hamilton Garcia, professores, respectivamente, da UFF-Campos e da Uenf.

Baseado nos números das disputas majoritárias a governador e duas cadeiras de senador pelo RJ, aferidos pelas pesquisas Quaest (confira aqui: feita de 13 a 17 de agosto, com 1.404 eleitores e margem de erro de 3 pontos para mais ou menos), Paraná (confira aqui e aqui: feita de 24 a 27 de agosto, com 2.000 eleitores e margem de erro de 2,2 pontos) e Atlas (confira aqui e aqui: feita de 25 a 29 de agosto, com 2.001 eleitores e margem de erro de 2 pontos), pergunta-se:

 

Folha da Manhã – Com intenções de voto nas consultas estimuladas (com a apresentação dos nomes dos possíveis candidatos ao eleitor) das pesquisas de agosto que variam de 35% (Quaest), a 54,8%, 56,8% e 50% (nos três cenários Paraná); a 40% e 43,9% (nos dois cenários Atlas), o prefeito carioca Eduardo Paes chega a 12 meses da urna favorito a governador?

William Passos – Sim. Eduardo Paes já disputou o Palácio Guanabara, tendo chegado ao segundo turno em 2018. Está no quarto mandato como prefeito do Rio e, ainda assim, mantém alta popularidade. Este dado é importante porque sabemos que, quanto mais tempo uma figura política se mantém na cena pública, mais exposta ela permanece a uma possível rejeição. Eduardo, portanto, vem superando o teste da rejeição. E, dos nomes colocados ao eleitorado fluminense nas pesquisas, ele está entre os mais conhecidos. Além disso, é visto como um político de centro, o que considero uma vantagem. Políticos de centro têm maior facilidade para capturar eleitores à direita e à esquerda do espectro ideológico.

George Gomes Coutinho – Sem dúvida, Eduardo Paes é, neste setembro de 2025, o líder isolado das intenções de voto para a disputa ao Governo do Estado. Isto se dá por um conjunto de atributos conquistados pelo atual prefeito da capital. Destaco uma gestão da prefeitura que conta com aprovação e popularidade; o recall do nome do prefeito, que é um dos políticos na disputa para o Governo do Estado mais experientes e com mais tempo de estrada; ou sua habilidosa gestão de suas redes sociais. Eduardo Paes sabe se comunicar nas características exigidas por nossos tempos. A soma desses atributos torna Eduardo um adversário poderoso na disputa para o Palácio Guanabara em 2026.

Murillo Dieguez – Considerando que pesquisa é retrato do momento, sem dúvida, Eduardo Paes é favorito no atual cenário. Embora eu desconheça duas taxas importantíssimas à análise: a de conhecimento e de rejeição. Outro fator que me chamou atenção é que numa dessas pesquisas, 30% afirmaram não votar em nenhum candidato.

Hamilton Garcia – Sim, Paes é o favorito, mas o ambiente político, extremamente polarizado e em vias de radicalização por conta das sanções estadunidenses e da prisão de Bolsonaro, pode volatizar esta preferência esmagadora que agora se apresenta. Sendo ele um político de centro com perspectiva liberal progressista, é de se esperar que sofra perdas eleitorais num cenário como esse. Que potencializa a nacionalização e, até mesmo, a internacionalização da política regional.

 

(Infográfico: Eliabe de Souza, o Cássio Jr.)

 

 

Folha – Paes também era favorito em todas as pesquisas a governador em 2018, até a véspera do primeiro turno vencido naquele ano por Wilson Witzel (hoje, PSDB). Que confirmaria sua eleição sobre Paes no segundo turno. Aquela foi a exceção que confirma a regra, em um tempo em que as pesquisas ainda não tinham se adaptado à velocidade das redes sociais? Ou poderia acontecer de novo em 2026? Por quê?

William – A eleição de 2018 foi um ponto fora da curva, mas ao mesmo tempo um ponto de virada para as pesquisas. Foi um ponto fora da curva porque a velocidade das redes sociais adicionou um elemento novo e as projeções, com metodologias ajustadas a cenários anteriores da nossa história, tiveram dificuldade de capturar o resultado das urnas. Mas é importante destacar que as pesquisas são o retrato do momento em que elas entrevistam o eleitorado e não um cálculo de probabilidade do resultado eleitoral. Se a decisão do voto acontecer no dia anterior, ou mesmo no dia da eleição, as pesquisas acabam tendo muita dificuldade de captar. Mas é importante que se considere que os institutos aprendem com a experiência de uma eleição e, dessa forma, acabam ajustando suas metodologias exatamente para diminuir a possibilidade de dificuldade de captação da decisão do voto do eleitorado. Quanto a 2026, acredito que resultados imponderáveis, como aqueles de 2018, serão mais difíceis de acontecer, mas não serão impossíveis. Contudo, creio que não teremos grande surpresa quando as próximas urnas abrirem.

George – A eleição de 2018 no estado do Rio foi um raio em dia de céu azul. O fenômeno em si não é impossível. Todavia é fenômeno raro, improvável em condições normais de temperatura e pressão. As eleições de 2018 são explicadas pela conjuntura pós-lavajatismo da prisão do presidente Lula; foi a eleição dos outsiders. Em outros termos, foi uma eleição ocorrida em alta temperatura onde o eleitor demonstrou em suas opções o seu humor do momento. A lógica do contra tudo que está aí foi hegemônica, foi uma eleição disruptiva, antissistema. Não me parece ser o caso nas eleições para o Governo do Estado do Rio em 2026. As eleições do próximo ano me parecem ser “normais” em âmbito estadual, não obstante ainda termos grupos radicalizados quantitativamente relevantes. Inclusive, o grupo que está no Palácio Guanabara é o dos outsiders de 2018. Os outsiders de outrora se tornaram o status quo e neste momento quem deseja a mudança terá em Eduardo Paes uma das opções possíveis. E Eduardo é um político que atua nas regras do Estado Democrático de Direito.

Murillo – Falta muito tempo para as eleições de 2026. Só como exemplo, estamos vivendo nesta semana, o julgamento de Bolsonaro, que poderá trazer desdobramentos imprevisíveis. Penso que o momento político de 2018 é diferente do atual. Naquela época havia um sentimento a favor de uma ruptura com a política tradicional, o que possibilitou o surgimento de outsider. É bom lembrar que mesmo Eduardo Paes liderando, à época, sua rejeição era altíssima. A meu ver, esta eleição passa pela polarização que estamos vivendo intensamente no nosso país. Mas, considerando as pré-candidaturas postas, Paes tem maior densidade, capilaridade e serviços prestados.

Hamilton – Sim, pode acontecer, por conta da volatilização já indicada entre nacionalização e internacionalização. Mas, agora, é de se esperar que as pesquisas estejam mais preparadas para ler essa realidade e apresentar números dessa possível progressão.

 

Folha – Sem medição pela Quaest de agosto, mas com intenções de voto que variam de 33,4% e 35,6% (nos dois cenários da pesquisa Paraná), a 22,6% e 23,6% (nos dois cenários Atlas), Flávio Bolsonaro (PL) chega a 12 meses da urna como favorito à reeleição na primeira das duas cadeiras que o RJ elegerá a senador? Por quê?

 

(Infográfico: Eliabe de Souza, o Cássio Jr.)

 

William – Flávio já é senador. É um Bolsonaro e, dentro da família do ex-presidente, tem um perfil mais agregador. Além disso, estamos no Estado do Rio de Janeiro, que é o berço do bolsonarismo. O RJ tem um eleitorado evangélico muito forte e um voto muito conservador. Ao mesmo tempo, o sobrenome Bolsonaro sempre remete à pauta da Segurança Pública, um dos maiores problemas fluminenses. Tudo isso favorece o aparecimento do nome do Flávio na liderança da disputa ao Senado e, consequentemente, o cacifa à reeleição, caso o filho do ex-presidente concorra a uma das duas cadeiras.

George – Sim, o Senado Federal, embora seja Poder Legislativo, tem uma eleição nas regras de uma disputa majoritária, ainda que sem a possibilidade de dois turnos. Com essa característica, sim, Flávio Bolsonaro, tudo mais constante, terá uma das cadeiras em disputa no estado do Rio de Janeiro. Vale dizer que se há uma discussão neste momento que apontaria para o início da retração do bolsonarismo, o nome, a grife Bolsonaro, não se esvaziará de uma hora para outra. Gostaria de ressaltar que, especialmente na pesquisa Paraná, o quantitativo detectado de intenção de votos em Flávio Bolsonaro coincide com o que seria na média o quantitativo de eleitores fiéis ao bolsonarismo no Brasil. É esta configuração das preferências do eleitorado que pode garantir votos suficientes para angariar cadeiras para o Senado também em outros estados da Federação.

Murillo – Esses resultados confirmam a polarização e consequentemente a força representativa do bolsonarismo no RJ.

Hamilton – Isso se explica pela política de polarização levada a cabo pelo Governo Lula e o PT, que visava manter Bolsonaro e sua visão autoritária da política vivos o suficiente para tê-los como espantalhos plausíveis para reeditar a frente ampla de ocasião eleitoral. Ocorre que tal frente, promovida na campanha de 2022 com êxito, esteve ausente de todo seu atual governo. E o STF extrapolou todos os parâmetros da normalidade jurídica para sufocar a direita radical. Assim, os bolsonaristas, desmoralizados depois do 8 de janeiro, parecem agora se beneficiar da irresponsabilidade das lideranças institucionais dos Poderes Executivo e Judiciário. Que, agora, é explorada também pela ultradireita internacional em busca de conter o declínio do Ocidente cristão em face da ascensão asiática confuciana (filosofia chinesa).

 

Página 2 da edição de hoje da Folha da Manhã

 

 

Folha – Favorito ao Senado, Flávio também aparece em 2º lugar destacado a governador, sempre que teve o nome listado nessa disputa. Na qual não entrou na Quaest, mas teve 30,5% de intenção de voto a governador (contra 50,6% de Paes, 20,1 pontos acima) em uma das consultas Paraná e 32,8% (contra 40% de Paes, 7,2 pontos acima) em uma das consultas Atlas. Hoje, Flávio é o nome mais competitivo contra Paes pelo Palácio Guanabara?

William – Acredito que sim, pelos mesmos motivos que o fazem o nome mais competitivo ao Senado da República. Flávio já é senador, já é conhecido pelo eleitorado fluminense, é um Bolsonaro e, dentro da família do ex-presidente, tem perfil mais agregador. Por tudo isso, penso não apenas que Flávio é o nome mais competitivo contra Eduardo Paes, mas um dos poucos nomes que podem apertar a diferença contra o prefeito do Rio a ponto de levar o pleito do Palácio Guanabara para uma disputada eleição de segundo turno. Todos estes ingredientes complexificam a decisão de Flávio e mexem com as disputas ao Governo do Estado e ao Senado da República, na medida em que uma delas contará com a ausência dele.

George – Eis a questão… pelos dados fornecidos em pesquisa podemos afirmar que neste setembro de 2025, sim, o Flávio Bolsonaro é o nome mais competitivo, o nome com potencial de maior capital eleitoral para competir com Paes. Todavia é importante ressaltar que vivemos em uma conjuntura de grande complexidade que pode trazer mudanças no cenário, especialmente no caso de Flávio que representa aí o clã Bolsonaro que está envolvido em tramas diversas, algo que também pode se traduzir na reversão de expectativas na disputa para o Senado. Além disso ainda há a vindoura campanha propriamente, com todos os movimentos que lhe são naturais, cujo objetivo é interferir na preferência dos eleitores. Mas, com os dados de hoje, Flávio Bolsonaro pode causar danos ao favoritismo de Eduardo Paes.

Murillo – Essa indagação robustece a análise feita na terceira pergunta: a força do bolsonarismo no estado. E ninguém melhor do que Flávio para encarnar esse sentimento. Se isso será o suficiente para vencer as eleições a governador, são outros quinhentos.

Hamilton – Sim, pois a ultradireita tem uma expressão forte no Estado do Rio em função da crise profunda que este atravessa, inclusive de liderança. O governo Castro e sua coalizão com a Alerj, não obstante o potencial eleitoral do fisiologismo político que representam, podem ser prejudicados pela força de Paes na capital, tornando a disputa potencialmente competitiva diante do agravamento da crise política.

 

Folha – Campos tem um nome entre os pré-candidatos a governador em 2026: o presidente da Alerj, Rodrigo Bacellar (União). Nas consultas sem Flávio, Bacellar ficou em 2º lugar a governador, com 9% de intenção de voto na Quaest (contra 35% de Paes, 26 pontos acima) e 12,4% na Atlas (contra 43,9% de Paes, 31,5 pontos acima). E em 3º lugar, com 7,8% na Paraná (atrás dos 54,8% de Paes e dos 10,6% de Washington Reis). Como você projeta?

William – Projeto potencial de crescimento da intenção de voto do deputado campista, caso Rodrigo Bacellar venha candidato com o apoio da família Bolsonaro e com Flávio Bolsonaro disputando o Senado. O fato de ser presidente da Alerj neste momento e a possibilidade de disputar a eleição de outubro de 2026 já como governador do Estado, em função de uma eventual saída de Cláudio Castro (PL) para a disputa de outro cargo eletivo, configuram uma vantagem adicional em favor de Rodrigo. No entanto, entendo que um possível crescimento da intenção de Rodrigo seria determinado pelo apoio ou não do bolsonarismo. Tendo apoio da família Bolsonaro, Rodrigo pode ser tornar um candidato muito competitivo.

George – Rodrigo Bacellar segue sendo um político exitoso em seus projetos e um dos homens mais poderosos da política fluminense na atual conjuntura. Contudo, diferente de nomes como Eduardo Paes e Flávio Bolsonaro, neste momento ele carece de um trunfo muito importante em uma disputa para o Governo do Estado: a popularidade. Bacellar, neste momento, tem capital eleitoral suficiente para ser vitorioso em disputas para uma cadeira na Alerj, penso que também para a Câmara dos Deputados. Mas, para o Palácio Guanabara, tendo adversários como os citados, ele, por agora, não se apresenta ungido pelo favoritismo. Claro que há o “Sobrenatural de Almeida”, como dizia Nelson Rodrigues. Justamente por conta do imponderável, Bacellar pode insistir em uma candidatura nas condições dadas. Todavia, voltando a raios em dia de céu azul, a prudência recomenda não contar com esse desfecho.

Murillo – Acho que Bacellar tem dois problemas a serem enfrentados. O primeiro é sua baixa taxa de conhecimento, sobretudo na capital. O segundo é sua ligação umbilical com o governador Cláudio Castro, cujo governo é mal avaliado pela população.

Hamilton – Bacellar é um nome da política regional que só ganhará tração mais próximo à eleição em função das relações fisiológicas que representa, que se avolumam perto dos pleitos pelo “toma lá, dá cá”. Todavia, a polarização político-ideológica pode interferir nessa ascensão, assim como no favoritismo de Paes, dada a propensão dela a catapultar líderes com discursos radicais de mudança do sistema, mesmo que desacompanhados de propostas efetivas para tal objetivo e sem nenhum histórico consistente para respaldar tal atitude.

 

Folha – Especulado como candidato a vice-governador numa chapa encabeçada por Paes ou por Reis, o prefeito de Campos, Wladimir Garotinho (PP), também chegou a ser listado como candidato a governador numa pesquisa Prefab, feita de 12 a 16 de agosto e que (confira aqui) majorou o percentual de evangélicos em 41,8% dos 1.001 entrevistados em relação aos 32% que o IBGE aponta na população fluminense. A despeito do vício metodológico numa pesquisa de baixa credibilidade, como vê o papel de Wladimir no cenário estadual de 2026?

William – Wladimir desponta como uma importante liderança regional, projetada não apenas pela condição de prefeito de Campos, o maior colégio eleitoral do interior fluminense e berço do garotismo, que já deu dois governadores ao Estado, mas também, neste momento, pela condição de autor do projeto de lei do semiárido, o PL 1440/2019, que defendeu a inclusão dos 22 municípios do Norte e do Noroeste Fluminense no reconhecimento de uma nova classificação climática. Com o veto ao PL, penso que o potencial de liderança de Wladimir aumentou, expandindo para o conjunto destes 22 municípios. Embora a maior parte do eleitorado fluminense esteja localizado na Região Metropolitana, o interior também é muito importante para a eleição. Nesse sentido, o apoio de Wladimir tem potencial estratégico e, por isso, no meu ponto de vista, o nome dele para vice foi ventilado em duas candidaturas.

George – Por enquanto, Wladimir parece que segue se aproximando muito de agentes fiéis ao bolsonarismo, vide (o deputado federal do PL) Altineu Côrtes, aquele que ameaçou fazer a sociedade brasileira engolir o projeto da impunidade, ou da anistia, assim que Hugo Motta se ausentar do país. Há também Washington Reis, nome ejetado por Rodrigo Bacellar do Palácio Guanabara a despeito das súplicas do clã Bolsonaro por sua permanência. Por isso, caso essa proximidade com o bolsonarismo se consolide, a opção de ser vice de Paes parece dinamitada. Ainda seguindo nesta trajetória, Wladimir pode estar se contentando em assumir uma posição subalterna em projeto de poder alheio no curto prazo. Precisamos ver se no futuro próximo esta trajetória será sustentada ou se Wladimir tentará se aliar a outros grupos políticos em atuação na política fluminense. Por enquanto, vejo o prefeito se acomodando em ser correia de transmissão de um projeto que pode alienar seu próprio potencial de crescimento político. Neste cenário, a participação de Wladimir para a disputa de 2026 ao Governo do Estado será a de coadjuvante ou de pura e simplesmente estrela regional a emprestar palanque, prestígio e capital político a agentes vindos da capital.

Murillo – Penso que Wladimir deveria cuidar mais do seu governo, que, a meu ver, vive um momento nada bom. Concordo com a avaliação do seu pai, quando este afirma que foi precipitado o desejo do filho de abandonar, com tanta antecedência, o mandato que o povo lhe conferiu com tamanha expressividade na sua reeleição em 2024. Neste momento, não o vejo como um player determinante para compor a chapa majoritária ao Governo do Estado. Em resumo: ele pode até estar no ônibus da sucessão, mas não sentado na janela.

Hamilton – Sem dúvida, Wladimir é um político fortalecido pela reeleição a prefeito. Ele projeta uma imagem de conservadorismo pragmático que o aproxima de Paes. E pode se habilitar para o jogo de trocas da política fluminense, o aproximando de Reis. Mas que pode também, daí a dúvida, ser forçado a um posicionamento político-ideológico mais incisivo em função do provável agravamento da crise política. Neste caso, a dobradinha com Paes pode lhe custar um alto preço.

 

Página 3 da edição de hoje da Folha da Manhã