Acabou de acabar o jogo Flamengo 1 x 0 Botafogo, gol de Adriano, aos 31 minutos do 1º tempo. Excetuadas a manutenção de uma humilhante escrita em favor do time da Gávea, que se estende já por três decisões consecutivas do Campeonato Estadual, e a constatação óbvia da ampla superioridade atual, técnica e tática, sobre a equipe da estrela solitária, a pergunta que fica é: qual será o Flamengo que disputará as sete rodadas restantes do Campeonato Brasileiro?
Se for o time insinuante do primeiro tempo, o Fla tem chances, sobretudo com a volta de Williams à meia-direita, no lugar de Fierro, que ontem perdeu dois gols incríveis. Mas se for aquele time que se acovardou, recuando acintosamente para garantir uma vitória magra de 1 a 0, conquistada em jogada individual, diante de um adversário visivelmente inferior, que briga para não cair outra vez à Segundona, é melhor se contentar com uma vaguinha no G-4.
Como, apesar dos pesares, a diferença encolheu na ponta da tabela — Palmeiras com 54 pontos, Atlético MG com 53, Inter e São Paulo com 52, e o Fla com 51 — e não há time nenhum convencendo, vejamos o que a noite da próxima quarta-feira, dia 28, a partir das 21h50, reserva ao Rubro-negro, contra o modesto Barueri. E dessa vez sem Petkovic, cumprindo suspensão pelo terceiro cartão amarelo levado hoje, quando foi novamente o melhor em campo, ao lado do jovem zagueiro Fabrício.
Sei que estou devendo uma nota prévia à 104ª edição do Ultimate Fighting Championship (UFC), disputado na madrugada de hoje, no Staples Center, em Los Angeles, sobretudo pelo combate entre os brasileiros Lyoto Machida e Maurício Shogum, na disputa do cinturão dos meio-pesados no maior evento de MMA (Mixed Martial Arts), em poder do primeiro. Todavia, se tivesse cumprido minha obrigação de blogueiro antes da luta, diria não ter muita dúvida de que Mashida venceria.
Embora considerasse Shogum um lutador de exceção, com um boxe muay thay do mais alto nível e um jiu-jítsu eficiente, a forma revolucionária de lutar de Mashida, resgatando o caratê do limbo das artes-marciais, e seu devastador nocaute sobre o ex-campeão Rashad Evans, não apontavam para nenhum prognóstico diferente. Ademais, por ser Shogum um lutador agressivo, isso o faria, em tese, um adversário perfeito para um mestre do contragolpe como Lyoto.
Bem, não posso dizer que meu prognóstico não foi cumprido. Após cinco rounds — no MMA, as lutas por título têm cinco assaltos, com três para as que não valem cinturão, durando cada um cinco minutos, dois a mais do que os rounds do boxe —, o campeão manteve não só sua invencibilidade, como o título pela unanimidade dos três juízes e pela mesma pontuação: 48 a 47. Quem assistir friamente à luta, poderá constatar que, mesmo por margem apertada, foi isso mesmo: Mashida venceu os três primeiros por 10 a 9 e Shogum os dois últimos, por diferença igualmente mínima.
Todavia, como foi uma das lutas mais técnicas e estratégicas da história do MMA, a interpretação tática também é permitida. Ao refrear seu ímpeto ofensivo, para não oferecer a Mashida o contragolpe, Shogum trabalhou uma das principais armas do muay thay: o chute baixo, circular, na perna do adversário — cujos danos são contundentes, mas sentidos geralmente a médio prazo. Minado pela repetição dos golpes, Lyoto começou a acusar os efeitos justamente a partir do 4º assalto, chegando a passar por dificuldades para se sustentar com as próprias pernas no último round. Agora, certamente, não deve estar nem conseguindo andar.
Além de provar estar completamente recuperado das duas operações que fez no joelho, Shogum conseguiu três coisas extremamente importantes:
1) O direito a uma revanche, cobrada após a luta pelo locutor oficial, pelo público — com direito a Demi Moore de tiete — e aceita pelo próprio Mashida;
2) Com a manifestação favorável do público após a luta, mesmo público que gritava o nome de Mashida antes do combate, Shogum aparentemente começou a pavimentar nos EUA a mesma empatia popular que conquistou no Japão, quando era a estrela mais brilhante do Pride — evento japonês de MMA, que chegou a rivalizar e mesmo ultrapassar o UFC;
3) Além de contundentes joelhadas no tronco — outro recurso típico do muay thay — e alguns socos que castigaram o rosto de Mashida, no último assalto, quando este já havia perdido sua mobilidade, foram os golpes que caçaram esta a primeira demonstração de como o campeão pode ser enfrentado e, quem sabe, derrotado: os chutes baixos, rodados, na perna. Lutador com menor percentual de golpes sofridos na história do UFC, a grande inovação de Lyoto é a base aberta do caratê, que deixa sua cabeça distante do alcance do adversário. Mas para isso, expõe a perna da frente — que ele troca, eventualmente, com a excelência técnica de todo ambidestro —, brecha encontrada pelo curitibano Shogum para mostrar que o filho de japonês, nascido em Salvador e criado em Belém do Pará, quem diria, é humano.
Num tempo em que os noticiários policias evidenciam cada vez mais a participação de jovens de classe média no crime, uma leitora enviou o flagrante de vandalismo na rua Alvarenga Pinto, paralela à av. Pelinca. No último dia 17, três jovens aparentemente de classe média, são flagrados destruindo dois porteiros eletrônicos nos fundos de uma clínica médica.
Pelo horário, às 5h45 da manhã, é fácil saber o que eles tinham na cabeça…
Depois de ser cobrado publicamente pelo professor Arthur Soffiati, sobre sua qualificação técnica para ocupar a secretaria de Defesa Civil, e responder que não tem satisfações a dar, o atual titular da pasta, Marco Soares vai ser obrigado, sim, a prestar satisfações. Como adiantou o blog do Bastos (aqui), após a ameaça do vereador Rogério Mattoso (PPS) de obrigar o secretário a dar satisfações oficialmente, o líder do governo Jorge Magal (PMDB) se apressou em costurar um acordo para levar o secretário, “por bem”, ao Legislativo.
Com as estação das chuvas de verão se aproximando e a cidade despreparada para recebê-las, como já admitiu à Folha a própria prefeita Rosinha, é bom o secretário de Defesa sair da posição de ataque e aprender que tem, sim, muitas satisfações a dar. Se gosta ou não disso, azar!
O espaço do Folha no Ar, por exemplo, em que se deram os questionamentos de Soffiati, continua aberto e esperando a resposta da boca de Soares…
Acabou agora há pouco o Folha no Ar. Entrevistado pelos jornalistas e blogueiros Rodrigo Gonçalves (aqui) e Alexandre Bastos (aqui), o líder do governo na Câmara, vereador Jorge Magal disse que foi eleito presidente municipal do PMDB dentro da legalidade. Sobre a intervenção, que teria conferido a Alexandre Delvaux o comando do partido em Campos, Magal declarou só saber pelos jornais e que espera um comunicado oficial. Mesmo que ele venha, ressalvou, no entanto, que permanecerá no partido, assim como a prefeita Rosinha Garotinho.
O saudoso jornalista Paulo Francis (1930/1997) certa vez classificou Cesar Maia de “o burro instruído”. Homem de grande erudição, Francis tinha um certo desdém pelo técnico sem grande estofo cultural, que enxergava no ex-prefeito carioca. E olhe que, tanto em termos de excelência técnica, quanto culturais, Maia está anos luz além de muito perfil semelhante de burrice instruída desta terra de planície. Isso sem falar, para completar a distante analogia Rio/Campos, em número votos enquanto político e no poder da atuação como blogueiro.
Pois foi nesta última função, a de blogueiro (ou melhor, de ex-blogueiro) que o ex-menino prodígio do ex-governador Leonel Brizola (1922/2004), ofereceu hoje (cadastre-se aqui) uma elucidativa visão, dividida em 12 pontos, sobre a política de Segurança Pública do Estado do Rio, cujos reflexos são sentidos tanto na guerra civil da capital, quanto nas residências regularmente invadidas por bandidos em Campos. Vamos a ela:
POR QUE A POLÍTICA DE SEGURANÇA DO BELTRAME FRACASSOU!
1. A avaliação das políticas públicas deve ser feita sem fixação nos personagens, a menos que estes, por razões de comportamento ou técnica, os desqualifiquem preliminarmente. Não é esse o caso de Beltrame, até porque, a autonomia conseguida na nomeação de comandantes de BPM e delegados nas DP é uma prova disso.
2. Beltrame é delegado da Polícia Federal e veio da área de “inteligência policial (IP)”. A IP é o inverso da “investigação/inquérito (II)”. Explicando. A II é um processo que começa com um fato conhecido, um roubo, homicídio, estupro, etc. A partir deste fato, se realiza os levantamentos de local, de atores e se investiga em inquérito aberto. A IP atua sobre o “fato negado”, ou seja, sobre um fato não “localizado”. Nesse caso, a investigação procura encontrar os fatos e seus atores e envolvimento.
3. Exemplo: a derrubada do helicóptero abre uma II sobre arma usada, local atingido, autores e circunstâncias. Mas se a polícia quer saber quem são os fornecedores das armas, a ação é de IP. O elemento básico na IP é a infiltração. Não é o único. Varreduras, grampos, etc; são outros. Mas é a infiltração que permite maximizar a eficácia da IP. A informação é o vetor da investigação. A contra-informação é o vetor da IP.
4. Beltrame aplicou no Rio os conceitos de IP. Fixou-se na identificação de paióis (guarda de armas dos traficantes), depósitos de drogas e eliminação dos traficantes. Mas o varejo de cocaína em comunidades há muito não usa depósitos, sendo a guarda da arma, individual, por ocultamento, desde enterrar em plástico, como faziam os angolanos na Maré, até usar casas em rodízio. A busca de paióis é infrutífera e a quantidade de armas pesadas apreendidas tem sido sempre apenas proporcional aos presos e eliminados (armas apreendidas 12 mil/ano, prisões+autos de resistência 15 mil/ano).
5. Da mesma forma, os depósitos de cocaína. O narcovarejo não opera com estoque. A droga entra e sai. O tempo que fica em áreas básicas (atacado do varejo), como Maré e Rocinha, é o menor possível. Outro dia, Beltrame disse que havia encontrado um laboratório de refino na Rocinha. Impossível. O que ele encontrou foi uma área de “endolação”, ou seja, de batismo da cocaína com outro material branco para enganar o consumidor, e envelopamento. Nas comunidades menores a cocaína já chega envelopada.
6. Uma questão central é que o narcovarejo em favelas não admite infiltração. Usam dedos-duros ou X-9s, cuja informação é de baixa qualidade para IP. O resultado nestes 2 anos e 10 meses foi medíocre. Há muito tempo que não se assiste a incineração de cocaína, e o volume de armas pesadas apreendidas é insignificante pelo volume existente. Além disso, nos dois casos, a oferta é elástica, e no máximo afeta-se conjunturalmente o preço e não o volume.
7. A eliminação dos traficantes (3% dos traficantes), inevitável na maioria das vezes, não afeta o quantitativo do tráfico. A substituição é automática e, em geral, os menos experientes que entram, são mais violentos. Aplicar no varejo, em favelas (armas, drogas e delinquentes), a estratégia e métodos que são aplicados no atacado internacional pela PF, DEA, FBI, não poderia ter resultado outra coisa: a política de segurança pública do atual governo fracassou.
8. Tem razão Beltrame, e levou muito tempo para chegar a esta conclusão, que não haverá sucesso sem uma integração operacional com a esfera federal e sob a hegemonia dessa, num crime sem fronteiras. Esfera federal, leia-se cocaína e armas, polícia federal e exército.
9. Talvez o equívoco maior tenha sido um certo desprezo do secretário pelos “crimes de rua”, assaltos a pedestres, roubos e furtos, que ficaram entregues ao esforço dos BPMs sem a prática de usar as informações georeferenciadas do ISP e sem articulação com as DPs, de forma a identificar a dinâmica das manchas do crime e atuar preventivamente.
10. São 300 mil roubos e furtos -registrados- por ano. São 75 mil lesões corporais dolosas -registradas- por ano. São 65 mil ameaças -registradas- por ano. No total -registrados- são 440 mil ocorrências, que apavoram a população. Registrados…, já que as ocorrências não registradas estima-se pelo menos numa mesma quantidade, dobrando o número. A atenção para o patrulhamento deveria ter igual prioridade que o narcovarejo e os 6 mil homicídios dolosos que ocupam as estatísticas publicadas.
11. Sempre é hora de começar de novo. Se os JJOO-2016 servem como horizonte, não há porque não se rever e redefinir a política de segurança pública, que de qualquer forma, terá que ter o fator humano -treinamento, remuneração, qualificação- como fator central. E o personagem pode até ser o mesmo, se tiver humildade para começar de novo.
12. Não se cita o governador, pois a SSP é autônoma e ele pouco é informado e por isso sempre repete a ladainha: “não abro mão da política de confronto”, como se o confronto fosse uma política.
No final da noite de ontem, mesmo dia em que o blog Ponto de Vista (aqui) alertou sobre a ação crescente dos bandidos na cidade, que já migrou das ruas para dentro das casas, dois homens encapuzados pularam o muro e invadiram uma residência na Estância da Penha, fazendo refém o casal de moradores. Eles foram dominados e amarrados dentro do banheiro, enquanto os ladrões levavam dinheiro, jóias, eletrodomésticos, o carro da família (a Paraty KSQ 5555) e até o cachorro que estava no quintal.
A continuar como está, ontem foram eles, amanhã pode ser você!
Mentor de todo o projeto na nova Folha Online, diretor financeiro e de tecnologia da Folha e tricolor que anda vivendo à base de anti-depressivo, Christiano Abreu Barbosa saudou o nascimento deste espaço (aqui), onde minhas mal traçadas linhas cumprem papel de coadjuvante de pouco brilho ao traço do chargista José Renato. Ressalvada a generosidade de um irmão para com outro, agradeço a lembrança elogiosa, muito embora tenha que alertar sobre o esquecimento da menção devida aos blogs Folha no Ar e Vento Nordeste, também hospedados no site da Folha.
O primeiro é assinado pelo jornalista Rodrigo Gonçalves, titular do programa e maior responsável por seu sucesso, enquanto o segundo pertence ao escritor e também jornalista João Noronha, arauto dos mistérios de Atafona. Ambos estrearam no último domingo, junto a este Opiniões.