Brasil — retrospecto contra o Equador e perspectivas contra o Paraguai

Do jogo Brasil 4 x 2 Equador da noite de ontem, que não fiz nem para o blog, nem para a Folha impressa, pelo horário avançado da partida, algumas observações:

1) Dizer que Júlio César falhou nos dois gols sofridos é chover no molhado. Todavia, falhas individuais à parte, os quatro gols que o Brasil tomou na duas últimas partidas evidenciam que o setor defensivo, coletivamente, não está bem. Isso se agrava não só porque até o jogo anterior, 2 a 2 com o Paraguai, a defesa vinha sendo o ponto alto do time de Mano Menezes, como pelo fato de que na defesa estão os jogadores mais experientes da jovem Seleção Brasileira. Para que os debutantes do meio para frente se firmem na Seleção, os veteranos lá de trás podem passar tudo, menos insegurança.

2) Ponto positivo da defesa, Maicon foi ontem o melhor jogador em campo. Sem sombra de dúvida, reconquistou a titularidade dos tempos de Dunga, substituindo agora com Mano a Daniel Alves, pior brasileiro no jogo anterior, com o Paraguai. Curiosamente, o lateral-direito do Barcelona, que perdeu a vaga na Seleção, é até mais habilidoso do que o da Inter de Milão. Todavia, por apoiar quase sempre entrando em diagonal da área adversária, Daniel acabava se embolando com Robinho, que joga aberto naquele setor. Com Maicon e seu vigor físico invejável, a Seleção ganhou não só em fluidez e velocidade nas tramas ofensivas pela direita, como uma importante opção de jogada pela linha de fundo, necessária a um time que pecava por afunilar pelo meio suas ações de ataque. 

3) Entre os dois volantes, o jovem Lucas Leiva cumpre suas funções táticas e defensivas, mas não tem imaginação no passe. Do lado oposto na linha defensiva do meio-de-campo, Ramires, que nunca foi grande passador, mas se destacou como eficiente condutor de bola, não atravessa boa fase técnica. Marcada pela obviedade dos passes curtos e laterais, a saída de bola brasileira facilita a marcação adversária e expõe a defesa aos contra-ataques. Um volante criativo como ex-são paulino Hernandes, destaque na última temporada italiana, pela Lazio, como meia de ligação, poderia ser uma solução. Todavia, como Mano sequer o convocou, a opção só vale para depois da Copa América.

3) Prejudicado pela bola que não chega redonda dos volantes, Paulo Henrique Ganso não tem conseguido ser o homem do último passe, aquele que acha o atacante em condições de conclusão. Bem verdade que tem tentado buscar o jogo menos do que poderia, passividade refletida também em sua pouca movimentação, facilitando a marcação dos adversários. Mas até por seus 21 anos e por não termos, em todo o futebol brasileiro, um reserva à altura para a função, não resta outra coisa a não ser a paciência.

4) Os dois gols de Pato e os dois de Neymar, além do legal que Robinho marcou e o bandeirinha uruguaio garfou, não podem camuflar a demanda que o ataque brasileiro tem da figura do pivô, aquele atacante que joga de costas para o zagueiro, retendo a bola lançada à chegada dos homens de trás, ou que gire com ela para concluir a gol. Ontem, Pato até marcou dois gols típicos de centro-avante, convertendo o lançamento que André Santos colocou em sua cabeça e, depois, chutando corajosamente a bola disputada entre ele, Robinho e dois zagueiros equatorianos. Todavia, seu senso de colocação no primeiro gol e seu destemor no segundo, além da sua habilidade e velocidade, não lhe confererem o físico ou as características de um pivô, função que nunca exerceu no Internacional, nem executa no Milan, onde atua como garçon do excelente centro-avante sueco Ibrahimovic. Dos convocados, mesmo sem estar na melhor forma, o único capaz de desempenhar o papel é Fred. Tendo ele como referência de área, o próprio Pato poderia render mais, assim como Neymar, que finalmente passou a objetivar o gol sobre o drible. No caso, mesmo que ontem não tenha atuado mal, quem poderia sair é Robinho.

5) As análises anteriores se atêm àquilo que Mano poderia fazer, não ao que fará. Com o placar elástico final a disfarçar o susto dos dois empates parciais impostos pelo fraco Equador, a tendência nas quartas-de-final de domingo é a manutenção do time que entrou jogando ontem. Contudo, com ou sem mudanças, tolo é quem acha que o reencontro com os paraguaios, agora em jogo eliminatório, tem um favorito. O Brasil possui valores individuais capazes, em dia inspirado, de construir uma vitória até tranquila. Mas mantendo a base da equipe que só foi eliminada na Copa do Mundo da África do Sul, com um suado 1 a 0 da campeã Espanha, nas mesmas quartas-de-final em que o Brasil caiu diante da Holanda, o Paraguai, como time, é melhor. Não custa lembrar que, de 2000 para cá, no confronto entre as duas seleções, foram quatro vitórias para cada lado e dois empates. A lógica aponta, pois, para o equilíbrio. Muito embora a grande graça do futebol tavez seja assistir a lógica, tantas vezes, levar de goleada.

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