Maniqueísmo, o pior pecado de qualquer debate

 

Tive dúvidas de natureza ética para comentar parte da entrevista que fiz, no post abaixo, com o ex-deputado estadual e ex-vereador Sérgio Diniz. Mas, muito a cavalheiro, até por ter previamente assumido aqui meu voto nele para deputado federal, na última eleição, gostaria de destacar uma declaração que julguei muito preocupante, sobretudo na boca de alguém com a reconhecida idoneidade de princípios e capacidade intelectual de Diniz: “Não vejo nenhum aspecto positivo na atual administração de Campos. Todos são negativos”.

Não ser capaz de enxergar nada de positivo no governo Rosinha é repetir, pela negação, aquele que só vê aspectos positivos na atual administração municipal. E ambas as visões padecem do estrabismo mais grave, capaz de desviar o foco de qualquer debate, sobre qualquer tema: o maniqueísmo — que o jornalista Alexandre Bastos, em brilhante artigo, tão bem definiu aqui.   

Goste-se ou não de Garotinho, não há como negar seu talento ou omitir seu lugar já conquistado na história como político de maior expressão produzido por Campos desde o ex-presidente Nilo Peçanha (1867/1924). E, atraído por tamanha força de gravidade, a impressão que se tem em determinados momentos é que todo o debate político da cidade  foi arrastado à mesma passionalidade, ao mesmo critério figadal, ao mesmo primarismo de quem nega qualquer virtude alheia no adversário e o transforma, de simples oposto no campo das idéias, em um inimigo pessoal a ser combatido a ferro e fogo, características que sempre compuseram aquilo que Garotinho tem de pior em seu discurso e sua prática.

Programas municipais como o Bairro Legal, o Morar Feliz e a expansão do Fundecam para pequenos e micro empreendedores podem ser melhorados, podem ser questionados pela demora ou aparente vício de algumas licitações, mas não podem ser negados como bons programas, que deveriam ter continuidade por qualquer um que emergir triunfante das urnas de 2012. Negar isso é fruto de um maniqueísmo que preocupa (e muito), sobretudo quando excede o revanchismo até compreensível de ex-aliados de Garotinho tão ativos na blogosfera local, e passa a contaminar também o discurso de homens de bem, equilibrados e verdadeiramente independentes, como é o caso de Sérgio Diniz.

Garotinho não é o mal, como aqueles que o combatem, simplesmente por fazê-lo, não são o bem. Em ambos os lados existe uma coisa e a outra também, tanto quanto há em mim, ou em você, leitor. No universo que habita entre essa bipolaridade, característica tão perniciosa à psique de um indivíduo ou de uma coletividade, espera-se que sejamos capazes de encontrar bases mais sólidas para pavimentar as discussões dos nossos caminhos enquanto tribo.

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Este post tem um comentário

  1. sandra

    Faltam alicerces sólidos nos programas dos “garotinhos”,quase todos ,se não todos os CQV(otima idéia) não existem mais,por exemplo.

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