Novela cubana revela o neofascismo tupiniquim

Até por comungar a revolta sentida pela generosa maioria da população brasileira, diante da truculência e intolerância fascistas com que a ativista política e blogueira cubana Yoani Sánchez foi recebida no Brasil, pela Juventude do PT e outros anacrônicos militantes pré-Muro de Berlim, pensei em escrever algo sobre o tema. Todavia, após ler hoje, na edição impressa de O Globo, o artigo semanal do jornalista Nelson Motta, tratando do assunto, penso que ele resume bem o pensamento, felizmente, ainda majoritário nesta terra de Vera Cruz. Não por outro motivo, para espargir as sombras do maniqueísmo raso em que habitam os vermes do fascismo, seja em Havana, em Brasília, em Recife, em Salvador, em Feira de Santana, ou mesmo nesta planície de hipocrisias cortada pelo Paraíba, segue abaixo o eco democrático do texto…

Novela Cubana

Por Nelson Motta

Se os eficientíssimos serviços de repressão cubanos, que há anos espionam Yoani Sánchez dia e noite, tivessem descoberto a menor prova de suborno, a “agente milionária da CIA” já estaria presa. É sintomático que, para eles, alguém só discorde do governo se levar dinheiro. Freud diria que estão falando deles mesmos.

Antigamente eles queriam ser mais realistas que o rei, hoje tentam ser mais tirânicos que os tiranos, como mostraram os protestos contra Yoani em Recife, Salvador e Feira de Santana, não só com gritos e faixas, mas esfregando dólares falsos no seu rosto e puxando os seus cabelos.

Mas Yoani até gostou dos protestos, como um sopro de democracia para quem vive numa ditadura sufocante, e se divertiu ouvindo velhas palavras de ordem “que nem em Cuba se ouvem mais”. O resultado foi uma repercussão muito maior – maciçamente a favor da blogueira – do que teria a sua viagem ao Brasil.

No sertão baiano, uma milícia de talibãs tropicais impediu a exibição do filme “Conexão Cuba-Honduras”, porque não queriam discutir nada, mas calar o opositor no grito. Quando conseguiu falar, Yoani disse que vive numa sociedade “onde opinião é traição” e eles vaiaram. Mas deveriam aplaudir, porque no Brasil que eles sonham também será assim. A maior fragilidade da democracia é poder ser usada livremente pelos que querem destruí-la, a começar pela liberdade de expressão.

Yoani escreve, descreve e analisa muito bem o cotidiano de Cuba, mas suas críticas não são violentas, debochadas ou incendiárias. Muitas vezes são crônicas sobre as dificuldades para comprar um ovo, o elevador quebrado há oito anos, a escassez de quase tudo, os roubos e malandragens sistêmicos, a internet lenta e censurada, os privilégios da elite.

Como quase todos num país ainda na idade do byte lascado, Yoani não tem conexão em casa. É obrigada a postar em hotéis a preços absurdos porque as poucas lan houses são só para estrangeiros e seu blog não pode ser acessado na ilha.

Agora Yoani quer usar o dinheiro dos seus prêmios culturais ganhos no exterior para fundar um jornal independente. Ley de Medios em Cuba já!

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