Quem conheceu a Macaé bucólica até os anos 80 e 90 do século passado, talvez nem tenha mais se espantado ao abrir ontem (15/02) o jornal para ver uma das suas comunidades, da qual helicópteros da Polícia já foram alvejados por tiros de fuzil, novamente ocupada pelas forças do Bope. Infelizmente, a violência já se banalizou tanto naquele município, que essas cenas impensáveis alguns anos atrás, hoje são apreendidas como rotina.
De maneira análoga, quem contrasta o passado recente da Princesinha do Atlântico com seu presente borralheiro de sangue, e percebe neste verão o claro recrudescimento da violência também nas praias de Campos e São João da Barra, não pode deixar de perceber que Farol de São Thomé, Atafona e Grussaí caminham a passos largos para se tornarem novas Macaés.
Se em Farol, com dois homicídios registrados em fevereiro, até a Guarda Municipal assume publicamente o medo de ter que policiar as ruas sem armas de fogo, o que dizer então das praias sanjoanenses, nas quais foram oito os assassinatos cometidos neste verão, até o momento em que este artigo é escrito?
Nascido em Niterói e criado em Campos, quando viajo no Brasil ou no exterior, e alguém me pergunta de onde sou, não sem orgulho respondo ser atafonense. Além de veranear desde os anos 1970 naquele mágico pedaço de areia entre a foz do rio Paraíba do Sul e o oceano Atlântico, mutável como as marés, onde o passar geológico do tempo pode ser acompanhado na brevidade de uma vida humana, foi lá que escolhi para morar por 11 anos, entre 1995 e 2006.
Por osmose involuntária, já que não morro de amores pela desorganização arquitetônica, espremida nas ruas estreitas e irregulares de Grussaí, também conheço relativamente bem aquela praia, assim como o que há depois da sua Lagoa, até a outra de Iquipari. Desde adolescente, para pescar à beira mar, buscava aquela faixa de areia entre as duas lagoas alongadas, antigos braços da foz do Paraíba que perderam força de oposição ao oceano, observando no passar dos anos o crescimento urbano se expandir rapidamente sobre a restinga, sem nenhuma preocupação ambiental ou de ordenamento urbano por parte do poder público, formando um cenário de poluição visual ainda pior do que da parte, digamos, mais “nobre” de Grussaí.
Memórias pessoais à parte, a violência extremada que hoje se tornou cotidiana nas comunidades macaenses de Nova Holanda e Malvinas, começa a se instalar em Atafona e Grussaí a partir de lugares específicos: na primeira praia, nas comunidades do Carrapicho e da Coréia; enquanto na segunda, o foco fica no desarranjo urbano do lado direito da Lagoa de Grussaí. Se os lugares não são desconhecidos, tampouco são as causas: despreparo do poder público, a disseminação rápida do crack, a fuga dos bandidos para o interior com a instalação das UPPs na capital do Estado, e a irresponsabilidade social das empresas que prestam serviços na instalação do Porto do Açu, para a qual trazem peões de todo o Brasil, sobretudo do Nordeste, e que ali permanecem, como massa humana desqualificada profissionalmente e sem fonte de renda, tão logo acaba a empreitada.
E como a provar que a violência, o desrespeito às leis e às regras de convívio social, estão longe de ser uma questão apenas da periferia, muitos problemas têm sido gerados também com a saída das casas noturnas destinadas aos “bem nascidos” ou, na língua mais direta da periferia, os “playboys” e “filhinhos de papai”. Na saída da boate Canto do Meio, por exemplo, quem tem casa na orla de Chapéu de Sol ou Atafona, é obrigado a conviver, todas as manhãs de sábado e domingo, com procissões de jovens bêbados, caminhando em meio a gritos, chutes nos portões das casas, que não se furtam em provocar, com a coragem física obtida só em bando, os incautos que ousem usar a passarela ou o asfalto da av. Atlântica para a sobriedade matinal de uma corrida ou caminhada.
De fato, depois que a casa noturna fecha, só no final da madrugada, não é raro ver a aglomeração que ali se estende mais algumas horas, da qual carros saem cantando pneu e batendo pega, usando no mesmo sentido as duas faixas opostas da av. Atlântica, ponde em risco a vida de condutores e passageiros, além de qualquer um que der o azar de cruzar seus descaminhos. Qualquer viatura da PM ou da Guarda Civil que ali fizesse pouso no final das madrugadas e início das manhãs de sábado e domingo, certamente esgotaria o talonário de infrações, enchendo qualquer depósito com veículos apreendidos, guiados por gente com tanto combustível nas veias e na mente, quanto nos tanques dos carros.
No lugar disso, o poder público, sabe-se lá por quais motivos, prefere se omitir. Pior, ainda contribui para agravar o problema, como no palco da concha acústica onde se desenrolam os shows no final das tardes de sábado, ao lado do Pólo Gastronômico de Grussaí. De lá, o som invade as casas quarteirões adentro, como se dentro delas estivesse tocando a banda, obrigando a audição de gente que, veja só, talvez preferisse paz e sossego.
E em total despreparo logístico, as ruas fechadas no entorno do palco dos shows, que deveriam servir de vias de acesso e saída dos pedestres, ficam quase completamente ocupadas por vendedores ambulantes, ponde em risco a vida dos milhares de espectadores, em caso de necessidade rápida de evacuação, como foi o caso trágico de Santa Maria, além de acintosamente transformarem o espaço público em privado, contando em ambos os casos com o beneplácito da Guarda Civil e da PM.
Como as tartarugas marinhas que buscam o litoral da região para desova, as sementes da violência estão plantadas nas areias de Atafona, Grussaí e Farol. Os lugares e as causas não são desconhecidas, assim como as 10 vidas humanas que, só em janeiro e nesta metade de fevereiro, foram tiradas por outros seres humanos nas três praias, para confirmar que é cada vez menor o espaço a nos separar de Macaé, onde a paz hoje só é mantida com as tropas de elite do Bope.
Publicado na edição impressa da Folha de 16/02/14.
e eu pergunto:
O que passa pela mente deses humanoides factoides das bebidas e drogas??
Encontram paz, amor e graça para viver assim, foras de si?
Com o cérebro entupido de tudo de ruim, ainda encontram companhias para amar no fim da noite?
Estão todos certos e, nós, ultrapassados?
Ou nós é que somos vítimas do mundo moderno?
Acho que falta respeito . em todos os sentidos.
Estou de pleno acordo com sua publicação. Grussai e Atafona estão se transformando em esconderijos de traficantes, viciados e outros bandidos que vem de comunidades maiores da região.
É impressionante o numero de crimes cometidos com arma de fogo na região (até o presente momento 10 mortes em 2014). Está passando da hora da policia (civil e militar) usar seus serviços de inteligencia para desarmar esses maus elementos que se matam em uma guerra entre eles e acaba também sobrando para o cidadão de bem.
Engraçado, que este problema (VIOLÊNCIA ) vem se alastrando desde o governo de carla machado,mas pelo q se v,só agora o grupo(FOLHA ) se atentou para isso.
o que fez carla para melhorar a seg.de SJB?
o que fez o estado?
o que fez o gov.federal?
Até bem pouco tempo os nobres eram só elogio,e sabe o que aconteceu…o q vcs estão vendo.se em vez de só elogiar tivessem ajudado a denunciar,cobrar talvez as coisas não chegariam a este ponto|quem sabe quando ela voltar(se voltar as coisas não melhorem,pra vcs!!
Maquiavel explica que o despreparo para O Príncipe causa isso ai. Trata-se de falta de preparo dos políticos e de um povo interesseiro por falta de educaçâo, onde se vota por interesse ou até por desinteresse. Até a propria Imprensa tem sua participaçâo no atual consciente coletivo. Pois por tras de muitos órgâos de Imprensa existem Politicos patrocinando ou até empreendendo negócio, induzindo às opiniôes e resulta nesta cidadania podre e insôlita.
Parabéns, Aluysio, por explicitar também um problema crônico das cidades do interior.
Pacifica-se de um lado, mas parece haver a fuga em massa dos malfeitores para “destruir” nossos recantos de paz.
Forte abraço.
Ops! Em lugar de também, leia-se tão bem. Obrigado!
Falta ao Sr. Prefeito Municipal de São J.da Barra bom senso e também preparo. O que se vê em Grussaí é um atentado contra a adm. pública com desperdício de recursos em eventos que não nenhum retorno financeiro trazem aos cofres públicos.O público presente nos referidos shows corresponde à população flutuante de final de semana das chamadas classes C,D e E que não alteram em nada o quadro econômico da região. Gasta-se recursos financeiros para alimentar uma pequena parcela de vendedores ambulantes e outros comerciantes afins. Aquela quantidade de pessoas mobilizadas para os eventos são funcionários terceirizados? Em Grussaí ainda tem Trio Elétrico, coisa que caiu em desuso, só existindo ainda no Nordeste. Não sei como o Corpo de Bombeiros do RJ aprovou aquela arena de Grussaí cercada de vendedores ambulantes. O MINISTÉRIO PÚBLICO deveria investigar quem autorizou aquilo…
É uma vergonha o que acontece nas imediações das residências no entorno da Casa Noturna Canto do Meio, pois o som atrapalha o sono de quem vai passar um final de semana em suas casas de veraneio e após os shows na casa noturna o que se se vê são jovens embriagados e (trecho excluído pela moderação) cometendo os maiores absurdos, como: colocando pega com os seus carros, jovens meninas se expondo de uma maneira indecorosa pelas ruas, numa total falta de respeito com o cidadão de bem. Até quando vamos ter que suportar isto? Não seria o caso da Policia Rodoviária Federal e o MP estadual começarem a tomar as providencias necessária?
A OAB enviou ofícios aos órgão de segurança solicitando reforço no policiamento, investimento na infraestrutura do policiamento existente, mas parece que não há interesse publico. Quantos terão que morrer, sofrer violências e abusos para que tomem providencias eficazes. A população clama por socorro por toda parte, mas só tem uma viatura para atender a todos! ABSURDO!!
Caro Antonio Carlos/SJB,
Creio que vc deveria reler o artigo. Quando digo, por exemplo, que a desocupação desordenada no lado direito da Lagoa de Grussaí, um dos atuais focos da violência das praias de SJB, começou desde que eu era adolescente, como hoje estou perto de completar 42 anos, por certo estou retroagindo a origem do problema aos anos 1980 do século passado, muito antes portanto não só do atual administração municipal de Neco, mas também das duas gestões de Carla Machado, ou das duas anteriores de Betinho Dauaire. Ademais, quando faço a cobrança de mais fiscalização por parte da PM, tanto nos arredores do Canto do Meio, nas madrugadas de sábado e domingo, quanto na ocupação por ambulantes das vias de chegada e saída dos shows de Grussaí, nas tardes e noites de sábado, por óbvio o endereço da cobrança é estadual, muito embora a esfera municipal da Guarda Civil seja igualmente cobrada pelo texto em ambos os casos, nos quais as duas forças de segurança pública se omitem. Por fim, o que escrevo e assino num artigo, muito embora seja eu um dos diretores do Grupo Folha, é a minha opinião pessoal, não necessariamente a do jornal. E tentar enxergar motivação política nesta opinião de alguém que já residiu por 11 anos, mantém casa e há mais de três décadas frequenta o litoral sanjoanense, é pretender me impor o seu próprio estrabismo politiqueiro sobre o complexo e cada vez mais evidente problema da violência.
Grato pela chance de esclarecimento!
Aluysio
Todos os dias me pergunto a respeito da motivação de certos canais da Imprensa em, neste momento, abordarem problemas que surgiram aqui, não agora, mas desde quando a sra. Carla iniciou essa gastança de dinheiro com shows megalomaníacos. Exceto o período em que ela não viajava para Nova Iorque em companhia de empresários (as) – das comunicações e dos transportes, quando era apenas uma professorinha no comando de uma prefeitura sem recursos dos royalties do petróleo e pouco para a gastança publicitária e outras, a Imprensa marretava.
Bastou-se alguns tostões a mais numa pequena (ou nem tão pequena assim, porque é o meu dinheiro e de todo o povo) orgia financeira, que deu origem a festas, jantares, encontros e muitos uísques, compras na Quinta Avenida, hospedagens caras, finais de semana no Rio e outras cidades, para o panorama mudar. As flores, como que por milagre, nasceram em uma relação amistosa, como de velhos amigos, com almoços até na sede dos jornais.
Agora, que os recursos não vazam pelo ladrão da prefeitura (ou pelas mãos destes) para festas, jantares, encontros, e nem para o excesso de dinheiro no bolso de certos empresários, os faróis estão acesos. Os holofotes viraram para SJB. Não que as coisas não estejam acontecendo. Estão! Porém, resultado da irresponsabilidade de administradores perdulários com o dinheiro público, mas excelentes administradores do seu patrimônio pessoal, que migrou de um Gol emprestado, para a ostentação descabida de carros importados, jóias, viagens postadas no Facebook e até dicas de compras em Orlando, Miami e outras cidades do mundo.
Quando a Imprensa quer, ela vê o que lhe interessa, ou que interessa aos diretores de jornais e jornalistas mal pagos que recebem umas coisinhas por fora. Quando lhe convém, a miopia ataca aos olhos. E a sanha perseguidora a quem tenta fazer um trabalho sério, para recolocar a cidade nos eixos, esbarra na ostentação do governinho de fachada que nos bastidores tenta resistir porque não se desapega do poder. Em nome do dinheiro que não rola mais com a facilidade de outrora, vira-se oposição, abrindo o baú de maldades que domina a cena política da planície Goytacá.
E eis que tentam acuar, espremer, diria quase extorquir aquele que surge com uma mentalidade nova num cenário dominado por “coronéis” diminutos, quase garotos, e “sargentos de saias” e donos de verdadeiras “lavanderias”, onde brotam recursos da área de saúde. Acharam que iam mandar e quando perceberam que há mais dignidade em um trabalhador rural do que o interesse mesquinho e pessoal do culto ao poder, mesmo do Quarto Poder; do que o desejo de “enricar”, ou da comodidade de ser um fantoche, voltam as baterias com artilharia pesada de todos os lados, agindo no mais profundo subterrâneo da política e da existência humana: de um lado o conglomerado bancado sabe-se lá como e por quem, com recursos de origem duvidosa, do Coronel Diminuto; em outra ponta, veículos de comunicação sustentados com dinheiro lavado e enxaguado dos planos de saúde; e fechando o triedo, os novos velhos amigos. E tome pressão!
Sei que o senhor não publicará o meu comentário. É normal que jornalistas se pensem donos da verdade, até porque convivi por muitos anos com eles. Os conheço bem e fui vítima das inverdades, sem direito a qualquer defesa, publicadas sob o manto da “missão jornalística e do dever de informar”, mas nem as indenizações recebidas foram suficientes para reconstituir uma vida atirada ao lixo, por quem se fazia passar por honesto, mas me espremia desejando uma “troca”, um “jabazinho”, no jargão de vocês. Mas pelo menos, faço-o saber da indignação que começa a tomar conta não apenas de mim, mas de toda uma comunidade que identifica no atual prefeito alguém muito mais interessado no bem dessa terra do que outros que por aqui passaram.
Repito: não estou dizendo que não haja erros e criminalidade. Mas veja o endereço de moradia da maioria das vítimas. A guerra de gangues de Campos, mudou-se no Verão para SJB. Mas não apenas hoje. Isso é fruto do descalabro ocorrido em passado recente; e a motivação do senhor em escrever e a sua indignação, por certo, não são maiores que a minha, tanto com a violência, como com o que fizeram com a minha terra. E nem tão pouco com o que tentam fazer com o atual prefeito. Pelo menos, quem sabe, o senhor leia e reflita sobre o verdadeiro significado de covardia.
Obrigado!
Caro Eridivan,
Tivesse lido e refletido sobre o artigo e o comentário acima do seu, antes de escrever, teria sido tb capaz de constatar que vai a um passado bem além dos dois governos Carla Machado, pela qual vc parece obcecado, a atribuição de origens à presente explosão da violência em SJB. Menos mal que depois de gastar tanta tinta em mirabolantes teorias da conspiração sobre o espelho, vc tenha, ainda que só ao final, admitido existir o problema, refletido em 10 seres humanos cujas vidas foram tiradas por outros seres humanos nas praias sanjoanense, só em janeiro e nestes 20 dias de fevereiro. Aliás, tivesse se dado ao trabalho de ler também o texto oito posts acima deste, constataria que o problema era de fácil previsão, como alertou a OAB-Campos por duas vezes às forças estaduais (não municipais) de Segurança Pública, e pouco ou nada tem a ver com o provincianismo bipolar que divide sanjoanenses entre abelhas e marimbondos, da política ao carnaval. Ou será que a OAB, além da preocupação cidadã com a escalada da violência, também teria nebulosos motivos políticos, pecuniários ou de ordem pessoal para enxergar o óbvio manchado de sangue? Covardia, meu caro Eridivan, é pretender medir os outros, sejam pessoas ou instituições, pela régua própria e curta. Sorte que, bem diferente daquela que se abate sobre moradores e veranistas sanjoanenses, essa covardia não faz mal a ninguém, muito embora tb não faça bem algum.
Grato pela chance de esclarecimento!
Aluysio