No último dia 27, véspera de começarem as oitavas de final da Copa do Mundo, afirmei aqui que os favoritos a passar às quartas eram: Brasil, Colômbia, Holanda, Costa Rica, França, Alemanha, Argentina e Bélgica. Pois encerradas ontem as oitavas de final, se classificaram: Brasil, Colômbia, Holanda, Costa Rica, França, Alemanha, Holanda, Argentina e Bélgica. À exceção da Colômbia, que não passou sustos para bater por 2 a 0 um Uruguai abalado pela suspensão de Luisito Suárez (lembre o caso aqui e aqui), e talvez da França, que bateu a Nigéria pelos mesmos 2 a 0 em tempo normal, todos os demais tiveram jogos muito difíceis — o Brasil, diante do Chile, que o diga! Mas isso não altera o fato de que passaram todos os times de melhor campanha na fase de grupos. Para quem realmente entende algo de futebol, a única surpresa é que não houve surpresa nenhuma.
Mas o que reservam agora as quartas de final? Como o nível dos confrontos tende a subir com a seleção natural das fases, a única previsão sensata é que o excelente nível do futebol apresentado na fase de grupos e nas oitavas desta Copa se mantenha, muito embora Brasil, Costa Rica, Alemanha, Argentina e Bélgica tenham se desgastado com a prorrogação — sendo que os dois primeiros foram ainda submetidos ao estresse adicional da disputa de pênaltis.
No mais, o blog passará a analisar as oito seleções cujo favoritismo adiantou às quartas de final, nestes dois dias sem futebol que nos separam do seu início, na disputa das quatro vagas às semifinais. Comecemos por que mais interessa, o Brasil, que na próxima sexta, dia 4, às 17h, na arena Castelão, em Fortaleza, enfrentará um velho freguês sul-americano, mas até aqui uma das sensações da Copa: a Colômbia.
BRASIL
O coordenador técnico Carlos Alberto Parreira, o treinador Luiz Felipe Scolari e o presidente da CBF, José Maria Marin, erraram grosseiramente quando jogaram publicamente sobre os ombros de uma seleção jovem e ainda inexperiente em Copas, cujo grande craque tem 22 anos, a obrigação de ganhar o Mundial dentro de casa. O caso de Thiago Silva, zagueiro de excelência técnica e um dos poucos que já tinham disputado Copa, ao pedir para ser o último a cobrar o pênalti contra o Chile, sentado numa bola e chorando, de costas à disputa, revela em seu capitão um time à beira de um ataque de nervos. E tanto pior quando a psicóloga encarregada de dar esse tipo de suporte à Seleção, como revelado pela própria Regina Brandão em vídeo da própria CBF divulgado ontem, não é uma profissional exclusiva neste período de Copa. De qualquer maneira, é curioso que os maiores “chorões” da Seleção, Thiago, Júlio César, David Luiz e Neymar têm conseguido boas atuações em campo. Se não fosse o goleiro, por exemplo, que chorou antes da cobranças de pênaltis contra o Chile, para nela defender dois e contar com a benção da trave em um, o Brasil sequer teria permanecido na Copa.
Na parte tática e técnica, a equipe não tem apresentado nenhum poder de criação no meio de campo, apelando à ligação direta dos chutões da defesa ao ataque. Fred está em péssima fase, Jô não é um reserva à altura e Felipão não preparou previamente um esquema de jogo sem centroavante fixo. Um dos jogadores mais regulares do time, o primeiro volante Luiz Gustavo não jogará, suspenso pelo segundo cartão amarelo. E a ele, em tese, caberia a marcação do colombiano James Rodríguez, artilheiro e um dos craques da Copa. Para tentar vigiá-lo, entre outras possibilidades, o mais provável é que Fernandinho seja recuado a primeiro volante para a volta de Paulinho, sacado do time porque não vinha rendendo. Neste exato momento, onde os titulares treinam pela primeira vez, nestes quatro dias que nos separam do jogo dramático contra o Chile, Paulinho está jogando como o novo titular da Granja Comary.
Em quatro jogos, o Brasil venceu dois (um com a ajuda do juiz e outro sobre a pior seleção da Copa), empatou outros dois e sofreu gols em três deles, sem ter convencido em nenhuma apresentação. Então está tudo perdido? Absolutamente, não! A Colômbia é um adversário tecnicamente superior, mas taticamente menos chato de se enfrentar que o Chile. Levado pela torcida, o Brasil tem camisa e um craque (Neymar) para encaixar seu jogo, roubar em seu ataque as bolas que lá não consegue fazer chegar para finalmente embalar, a partir de uma vitória sobre um velho freguês continental. Nos 21 jogos (nunca em Copa do Mundo), foram 14 vitórias brasileiras, cinco empates e duas derrotas.
COLÔMBIA
Tem o segundo melhor ataque, com 11 gols marcados, a melhor defesa, com dois sofridos, junto com França, Bélgica e Costa Rica. Mas tem sobre qualquer outra seleção o melhor saldo: 9 gols. Após a contusão que tirou da Copa o badalado atacante Falcão García, seu companheiro de time no Mônaco da França, o meia James Rodríguez assumiu tão bem o papel de protagonista na Colômbia que terminou as oitavas de final como artilheiro isolado da competição, com 5 gols, e um dos seus maiores craques, ao lado do holandês Arjen Robben e do argentino Lionel Messi. Se todos os três jogaram bem em todas as partidas, o colombiano foi o único a marcar gols nos quatro jogos desta Copa, tendo ainda dado duas assistências para gol. Para se ter uma ideia do significado destas estatísticas, na Copa de 1986, no México, da qual se diz não sem justiça que Diego Maradona ganhou para a Argentina, El Pibe de Oro teve cinco gols e cinco assistências em todos os sete jogos daquele Mundial.
Um dos autênticos camisas 10 cuja falta o futebol mundial hoje tanto se ressente, Rodríguez às vezes parece se ausentar da partida, mas quando “acorda”, proporciona momentos como o do primeiro gol colombiano contra o Uruguai, talvez o mais bonito da Copa, em que matou no a bola no peito, de costas para o gol, girou o corpo e, sem deixar a bola cair, emendou de canhota o chute certeiro de fora da área. Todavia, tanto quanto o arremate, impressiona é que antes dele, a bola foi precedida de uma troca de 15 passes pela seleção colombiana, numa posse de bola de 50 segundos, evidenciando a virtude coletiva do time muito bem treinado pelo experiente argentino José Pekérman, que conta com outros destaques individuais. Sempre pela direita, Cuadrado é o líder de assistências do seu time e de toda Copa, com quatro, incluída aquela em que, em pleno voo, gritou em alerta a Rodríguez que lhe passaria de cabeça a bola para marcar o segundo gol do jogo, despachando o Uruguai de volta para casa.
O lateral esquerdo Marcelo, que nunca teve na defesa seu forte, terá que ter ajuda com Cuadrado. E quem quer que marque Rodríguez, homem a homem ou por zona, terá que estar atento ao fato dele costumar habitar entre as linhas de defesa e meio campo adversárias, justamente onde o time de Felipão tem cometido constantes erros em saída de bola, como o que gerou o gol de empate do Chile. Contra o Brasil, é quase certo que a Colômbia cederá a posse de bola, mas não faz questão de mantê-la para explorar os contra-ataques com rapidez e muita precisão. Entretanto, além da falta de tradição em Copa do Mundo (é a primeira vez que chegam às quartas de final) e da escrita desfavorável contra os brasileiros, pesa contra os colombianos o fato de até agora não terem enfrentado um adversário de peso.
Se passar pelo Brasil, a Colômbia ganhará “casca” para enfrentar na semifinal o vencedor de Alemanha e França. Se confirmar a escrita desfavorável e acabar derrotada, repetirá a velha história tantas vezes reeditadas nesta Copa: “jogaram como nunca, perderam como sempre”.
Mal posso esperar para assistir amanhã! Minha esperança é que o Brasil perca! 😀 haha Outra parte de mim quer que o Brasil ganhe desta vez para pegar a Alemanha ou a Holanda no final para perder bonito! rs