Foi um mês e meio de muito trabalho, com seis finais de semana seguidos sem folga. Mas valeu a pena. Na cobertura jornalística da sétima Copa do Mundo, a ironia veio com a reedição da mesma final e campeã da primeira, com a Alemanha vencendo a Argentina, como havia sido naquele Mundial de 1990, na Itália. A tragédia, como todos sabem e ainda arde à cara de quem nela tem vergonha, ficou por conta dos 7 a 1 diante da mesma Alemanha, nas semifinais de uma Copa concebida e realizada como projeto político em ano eleitoral, à custa do dinheiro público gasto num Mundial mais caro que a soma dos dois anteriores.
À parte isso, na certeza de que o jornalismo, como futebol, é trabalho coletivo desde antes dos tempos do Nelson Rodrigues (1912/80) — tão em voga nesta “pátria em chuteiras” definida por ele com intenção bem diferente —, todos os que trabalharam juntos nas coberturas das seis Copas anteriores pela Folha, ficam representados no agradecimento presente e pessoal ao Rodrigo Gonçalves, a Joseli Mathias, ao Eliabe de Souza, ao Arnaldo Neto, a Júlia Maria Assis, ao Nicholas Sampaio, ao Valmir Oliveira, a Channa Vieira, ao Silésio Corrêa, ao Alexandre Bastos, ao Cilênio Tavares, a Suzy Monteiro e ao Christiano Abreu Barbosa. Sem eles, bem como os demais na redação e/ou nos blogs da Folha a dar o suporte na meia cancha, o trabalho apresentado no jornal em sua versão impressa e online, nesses 30 dias de Copa, não seria possível. Tampouco os resultados na liderança fora do campo, conferidos por você, leitor, mais uma vez alcançados aqui.
Assim, na certeza de que só pode projetar o futuro com alguma chance de êxito quem é capaz de observar criticamente o presente e o passado (nem que seja o recente), o blogueiro se despede com uma postagem feita há pouco menos de três anos. Embora, naquela época, a diferença do Brasil para quem trabalhava com maior seriedade para voltar a ser o melhor do mundo no futebol, fosse de apenas um gol no placar final, nomes como Bastian Schweinsteiger, André Schürrle e Mario Götze já eram destacados.
Hoje, quando o que era futuro próximo virou passado recente, todos devem ter assistido a Schürrle marcar os dois últimos gols na goleada alemã contra o Brasil em 2014. Ademais, não é segredo que foi de seus pés que depois sairia o passe ao gol do título, na final diante dos argentinos, marcado por Götze, vindo do banco na prorrogação para confirmar a promessa de 2014 apontada neste blog, desde 2011, ao lado do brasileiro Neymar — que infelizmente não pôde se confirmar.
Quanto ao maestro Schweinsteiger, coube a ele liderar seus companheiros também fora de campo, na simpatia e na integração demonstradas no Brasil para conquistar meio mundo, o que seus antepassados não conseguiram em duas Guerras Mundiais, com arrogância, segregação e a força das armas. Emblematicamente, seria esse alemão louro, de olhos azuis e futebol clássico a provar que RAÇA independe da cor da pele, cabelos ou olhos de quem joga (ou tampouco apupa das arquibancadas), ao tomar a frio os pontos na cara aberta por um soco do ex-genro de Maradona, antes de voltar a campo para encarar e vencer na bola a Argentina, numa final de Copa do Mundo, dentro do Maracanã.
Enquanto isso, do primeiro ao último apito, nossos Macunaímas pretensos tentaram usar a Copa para uivar seus próprios “complexos de vira lata”, com a neurastenia ressentida de um Pinscher. Poderiam ter se exposto menos ao ridículo se entendessem algo de futebol além das suas propriedades sempre instáveis como “ópio do povo”, ou tivessem ouvido o assobio soprado aqui, desde 10 de agosto de 2011, após aquele amistoso de Stuttgart, no qual o Brasil perdeu por “apenas” 3 a 2:
“Com seu conhecido ufanismo no futebol cada vez mais dissociado da realidade, o brasileiro que ainda insiste na absurda tese de que só nossos jogadores (e talvez os argentinos) sabem tratar a bola com arte, hoje deveria ter visto Schweinsteiger jogar. Bastaria para engolir qualquer empáfia, junto com todas as consoantes do nome do craque alemão”.
Assim, enquanto este dublê de cronista esportivo e blogueiro vai gozar do descanso que julga merecer, confira abaixo o print e a íntegra daquela postagem, escrita muito antes das diferenças no futebol terem derivado, entre outras coisas, nos xingamentos à presidente brasileira Dilma Rousseff (aqui, aqui, aqui e aqui) e nos aplausos à chanceler alemã Angela Merkel (aqui), nascidos das mesmas arquibancadas do país da Copa:
Mesmo com Neymar, Schweinsteiger rege a vitória da Alemanha
Por Aluysio, em 10-08-2011 – 18h14
Como previsto abaixo pelo blog, prevaleceu a classe do volante Bastian Schweinsteiger, que conduziu a vitória alemã por 3 a 2 diante do Brasil. No confronto contra as maiores forças do futebol mundial, após ter perdido também para Argentina e França, além de ter empatado com a Holanda, continua virgem em vitórias o time de Mano Menezes, neste seu período de um ano à frente da Seleção.
Após o começo de jogo arrasador dos germânicos, quando sufocaram o Brasil em seu campo de defesa, a Seleção até que conseguiu nivelar as ações no primeiro tempo. No segundo, o equilíbrio permanecia até que o juiz assinalasse um discutível pênalti de Lúcio sobre Schürrle. Schweinsteiger, que não tinha nada com isso, bateu com categoria para abrir o placar e ter seu nome gritado em coro pela torcida. Depois, quem depositava as esperanças de empate em Neymar, teve que ver outro habilidoso jovem de 19 anos, mas de nome Mario Götze, ampliar a vantagem alemã.
Em outro pênalti discutível, de Lahm sobre Daniel Alves, Robinho demonstrou coragem ao pegar a bola e converter, espantando o azar das quatro cobranças desperdiçadas pelo Brasil na Copa América. Novamente sem nada com isso, Schweinsteiger pressionou e roubou a bola de André Santos, dentro da área brasileira, cruzando com precisão para Schürrle marcar 3 a 1. Mesmo debilitado pela gripe que quase o tirou do jogo, Neymar descontou a diferença, no finalzinho, com um chute de fora da área.
Mano, que projetava resgatar o futebol-arte na Seleção, com vistas à Copa do Brasil de 2014, hoje demonstrou um claro recuo, ao entrar em campo com o volante Fernandinho no lugar de Ganso, que realmente não atravessa boa fase, mas é o único meio-campista convocado cuja criatividade merece destaque. Antes conhecida como um dos maiores expoentes mundiais do futebol-força, o fato é que desde a Copa de 2006, passando pelas exibições de gala diante da Inglaterra e da Argentina em 2010, a Alemanha tem demonstrado estar bem mais próxima ao objetivo do Brasil.
Com seu conhecido ufanismo no futebol cada vez mais dissociado da realidade, o brasileiro que ainda insiste na absurda tese de que só nossos jogadores (e talvez os argentinos) sabem tratar a bola com arte, hoje deveria ter visto Schweinsteiger jogar. Bastaria para engolir qualquer empáfia, junto com todas as consoantes do nome do craque alemão.
Qual Copa?