Mercado de Campos — Caráter criminoso permite provocação ao Ministério Público?

Mercado

 

 

 

Jornalista, presidente da Associação de Imprensa Campista (AIC) e representante desta no Conselho de Proteção do Patrimônio Municipal (Coppam), Vitor Menezes
Jornalista, presidente da Associação de Imprensa Campista (AIC) e representante desta no Conselho de Proteção do Patrimônio Municipal (Coppam), Vitor Menezes

Um crime bem arquitetado

Por Vitor Menezes

 

O caso do Mercado Municipal de Campos dos Goytacazes, que teve projeto para o seu entorno aprovado, nesta semana, pelo Coppam (Conselho de Preservação do Patrimônio Arquitetônico do Município), poderia ser listado como apenas mais um em uma cidade que despreza a sua riqueza histórica e cultural. No entanto, por sua imponência, impacto social e centralidade, ele assume uma relevância especial.

O resultado, até o momento, dos debates que se deram nos últimos meses, desde quando o Shopping Popular foi removido para que ocorressem “reformas”, é o de que a Prefeitura de Campos insiste em executar uma obra que manterá o prédio histórico espremido entre estruturas que o encobrirão, como se o campista tivesse vergonha de ter um dos mercados mais belos e antigos do Brasil, inaugurado em 1921.

O oposto disso, como podem pensar alguns, não seria necessariamente excluir os permissionários — camelôs e feirantes — do local. Sabe-se da relação afetiva e das imposições econômicas que os levam, e até mesmo aos lojistas do entorno, a defenderem o adensamento popular naquela pequena quadra, o que é compreensível. No entanto, o chocante foi não ter sido apresentada uma só solução criativa que explorasse um raio mais amplo do entorno, possivelmente no sentido da Rua Benta Pereira, fazendo com que o chamado complexo do Mercado se tornasse ainda maior, confortável, seguro e atraente.

Optou-se pela visão limitada da cultura do puxadinho, que tem a sua beleza e inventividade quando fruto da criatividade popular para enfrentar a escassez de espaço e de recursos, mas que se revela indesculpável quando verificada em grandes empreendimentos, especialmente naqueles feitos pelo poder público e em relação aos quais se espera uma responsabilidade maior com o futuro.

O resultado será mais um crime contra a história de Campos, a se somar aos solares que agonizam, ao antigo Trianon que se foi e ao assassinato do Monitor Campista. E o desserviço se estende ao aspecto de fazer toda uma população acreditar, por meio do mau exemplo, que esta opção é a acertada, que negar a beleza, desprezar a memória e edificar prédios sem alma a parcos metros de monumentos históricos é normal, é necessário, é “progresso”.

Registre-se que aqui não se discute o mérito técnico do projeto apresentado ao Coppam pelo arquiteto Cláudio Valadares, que apenas, como profissional, precisou se ater ao espaço definido pelo “cliente” para a obra. Fruto de um amadurecimento do debate nas redes sociais, e até mesmo no próprio Conselho, é até possível reconhecer um grande número de melhorias em relação às intenções do início do ano para o local.

Neste sentido, trata-se até de um crime bem arquitetado. Mas isso não retira o seu caráter criminoso, o que permite que o assunto seja objeto de provocação no Ministério Público, em razão de o projeto ferir acintosamente a proteção do entorno de um bem tombado.

O atual governo de Campos aprofunda, com esta decisão, as consequências de opções históricas infelizes sobre o local, tomadas pelo governo Raul Linhares, quando ergueu uma enorme cobertura metálica para abrigar a feira livre e encobriu um lado do Mercado, e pelo primeiro governo Anthony Garotinho, quando ergueu estrutura semelhante para criar o Shopping Popular. Para estes dois momentos ainda poderia haver a desculpa de que a consciência de preservação histórica não estava consolidada, tanto sob o ponto de vista cultural quanto da legislação. Hoje, no entanto, o cenário é diferente. Atualmente, as escolhas poderiam ser muito melhores. E não tardará para que as novas gerações paguem o preço de mais este erro.

 

Publicado hoje na Folha

 

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Este post tem 10 comentários

  1. Sandra Machado

    Nós ainda não desistimos.Está família não é de Campos,de notório mal gosto não se identifica com os campistas,pessoas que se orgulham de sua história, de seu passado.Por exemplo, observamos o estado de conservação do nosso Palácio da Cultura e o Mausoléu,dos nossos heróis.Não tem raízes aqui.Então está se lixando para a nossa cidade.

  2. Sandra Machado

    Parabéns Vitor pelo brilhante artigo.

  3. Marcia

    Amanhã,às 17h,manifestação nabpraca São Salvador contra
    o aumento abusivo do IPTU e taxa de iluminação.
    Que seja também um protesto contra esse crime que está para ser
    praticado contra o nosso belo patrimônio.
    Já basta o Trianon!

  4. Rone Souza

    O mercado precisa ser vitalizado. O que precisa ser abolido é o camelô, pois grande parte dos produtos não têm procedência.

  5. Sandra Machado

    Simples assim.

  6. Paula

    É incrível como do NADA apareceram tantos defensores dos ¨prédios históricos¨de Campos,tendo visto a QUANTIDADE de prédios ¨históricos¨e ABANDONADOS existente em nossa cidade e ninguém fala PORRA nenhuma á respeito mas quando o assunto é o local onde quase 2000 FAMÍLIAS tiram seu SUSTENDO aí esse bando de (trecho excluído pela moderação) dos quais NUNCA ouvi falar se mentem,e tetam impedir que essas FAMÍLIAS RETORNEM aos seus lugarem de ORIGEM!!!

  7. Paula

    Na moral NUNCA ouvi falar nesse tal de Vitor Menezes,e sem mais nem menos esse (trecho excluído pela moderação) aparece se dizendo o senhor da verdade e com certeza esse (trecho excluído pela moderação) só diz essas (trecho excluído pela moderação) porque NÃO FREQUENTA o Mercado Municipal e assim NÃO sabe como era o ¨Prédio Histórico¨antes do Shopping Popular,então Sr (trecho excluído pela moderação) vou lhe contar o ¨seu prédio histórico¨era cheio de PROSTITUTAS,TRAFICANTES,JOGATINAS entre outras coisas ¨HISTÓRICAS¨e NÃO me lembro de ter te visto defendendo o ¨prédio histórico¨então meu camarada (trecho excluído pela moderação).

  8. Ana Moura

    Te apoio Paula!

    Quando retiraram os camelôs e levaram para o espaço provisório a imprensa apoiou a manifestação dos removidos e ajudaram nas manifestações contra a prefeita. Agora é mais uma manobra para desgastar a imagem do governo.

    Esse” jornalista” que não conhece a realidade das ruas pq vive assessorando ao ssindicato dos trabalhadores da tao bem falada Petrobras, só sai de casa para as dar suas aulainhas ou então para reunião da associação de imprensa campista , que de passagem não passa de um grupo de jornalistas que falam mal da cidade mas não tem coragem de ir a guarus, tapera, penha…
    Ficam em seus apartamentos de pantufinha tomando café na caneca e escrevendo sobre seus lindos ideais desconectados da realidade do nosso povo trabalhador.

  9. Aluysio

    Cara Ana Moura,

    Divirjo do Vitor em muitos pontos sobre jornalismo, mas nunca da sua condição de jornalista, que vc questiona com o recurso pouco elegante das aspas. Se me permite, sua tentativa de desqualificar o argumentador, ou os supostos motivos pelos quais ele argumentou, na incapacidade dialética de se opor aos seus argumentos, me trouxeram à lembrança outro bom artigo publicado recentemente na Folha, da lavra do advogado José Paes Neto. Por muitos motivos, vale a pena conferir: http://www.blogs2.fmanha.com.br/zepaes/2014/12/21/menos-odio-mais-planejamento/

    Abç e grato pela chance da discussão!

    Aluysio

  10. Alaor Ferreira Netto

    Identificar comentários exclusivamente encomendados me faz raciocinar que uma trupe contratada existe para este tipo de besteiras contra um artigo onde se vê claramente a preocupação com o Patrimônio Histórico. Se for legítimo pensamento do povo, também não assusta. esse mesmo povo colocou na prefeitura de Campos até hoje, o que bem os representa. Agora, toma!!!!! Cidade sem memória, sem

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