Mais uma vez sem tempo ou inspiração para trazer algo inédito neste “Opiniões” àqueles que se habituaram a buscar e encontrar poesia aqui aos domingos, o blog recorre aos seus arquivos para uma reprise sempre necessária, de um texto publicado originalmente aqui, há mais de quatro anos. Enquanto o desavisado poderá se surpreender com a ousadia verbal da poesia barroca no Brasil do séc. XVII, não custa tentar descobrir, depois que passar o eventual susto, de quantos “ff” se compõem, quatro séculos depois, a definição da sua própria cidade:
Reconhecidamente nosso maior poeta barroco e, na irrelevante opinião deste blogueiro, o maior talento já produzido pela poesia brasileira, Gregório de Matos Guerra (1636/95) mais uma vez aparece (aqui) para cadenciar o ritmo neste espaço em que a prosa, em respeito ao dia mais nobre de domingo, cede vez aos versos.
Para endossar a importância, a incrível atualidade e a surpreendente ousadia verbal do autor também conhecido em vida como “Boca do Inferno”, após ler abaixo um dos seus poemas mais conhecidos, tente você, leitor, sobretudo se campista, acatar a sugestão do título para definir também esta nossa cidade, assim como o poeta fez com a sua há 400 anos. E, neste raciocínio, aproveite e me responda: de quantos “ff” se compõe mesmo C-A-M-P-O-S-D-O-S-G-O-I-T-A-C-A-Z-E-S???…
Define sua cidade
De dois ff se compõe
esta cidade a meu ver:
um furtar, outro foder.
Recopilou-se o direito,
e quem o recopilou
com dous ff o explicou
por estar feito, e bem feito:
por bem digesto, e colheito
só com dous ff o expõe,
e assim quem os olhos põe
no trato, que aqui se encerra,
há de dizer que esta terra
de dous ff se compõe.
Se de dous ff composta
está a nossa Bahia,
errada a ortografia,
a grande dano está posta:
eu quero fazer aposta
e quero um tostão perder,
que isso a há de perverter,
se o furtar e o foder bem
não são os ff que tem
esta cidade ao meu ver.
Provo a conjetura já,
prontamente como um brinco:
Bahia tem letras cinco
que são B-A-H-I-A:
logo ninguém me dirá
que dous ff chega a ter,
pois nenhum contém sequer,
salvo se em boa verdade
são os ff da cidade
um furtar, outro foder.
Para começar, Aluysio, eu tenho a dizer uma coisa, o que já foi anteriormente publicado, se torna novo, quando a gente lê novamente… Toda releitura torna a leitura, uma nova leitura. Sempre que relemos, o olhar é outro, e sempre será, pois temos o poder de nos reciclar, de olhar as coisas pela ótica do estranhamento. Eu quero sempre ler , mesmo que já tenha lido antes, pois o que foi antes, não é o mesmo depois. E, respondendo ao que questionastes, quantos são os “efes” que compõe a nossa C-A-M-P-O-S D-O-S G-O-Y-T-A-C-A-Z-E-S, essa intrépida amazonas, eu, ser renascentista que sou, concordo com o Poeta Barroco, Grégorio de Matos Guerra, são dois os “efes”, no mínimo. um de furtar e outro de foder, coisas nas quais esse desGoverno atual é expert.
Pois achei a poesia divertida, posso imaginar o “frisson” que causou na época de sua publicação! Mais ainda, imagino quantas vezes foi proibido por professores religiosos e falsamente pudicos ao longo do tempo! Aos “ff” desta cidade, acrescentaria mais alguns: “falsear”, “faltar”, “fulminar”.
No mais, fixo-me na foto bucólica e a “pose” dos simpáticos vira-latas!
quais são as interxtualidades desse texto
Caro Luan,
As determinadas por Fernando Pessoa: “Sentir, sinta quem lê!”
Abç e grato pela participação.
Aluysio