Há quem diga que o advento das redes sociais acabou com os blogs. Via de regra, é o mesmo estrabismo de quem, a partir da popularização anterior da blogosfera, tropeçou sob a sombra do próprio ego ao pregar a “visão” da morte da mídia tradicional. Na verdade, os blogs acabaram se revelando complementares às mídias existentes, tanto quanto os blogueiros, pelo menos aqueles que souberam se atualizar, passaram a usar as redes sociais para ampliar o alcance das suas postagens. Estas, muitas vezes geradas da própria democracia irrefreável dessa nova e revolucionária mídia, numa autofagia que é início, meio e fim da sociedade de informação na qual hoje vivemos.
Da teoria à prática, foi o que aconteceu, por exemplo, com uma postagem feita (aqui) em seu mural do Facebook, na noite do último dia 27, pelo advogado tributarista Carlos Alexandre de Azevedo Campos, ex-assessor do ministro Marco Aurélio de Mello, no Supremo Tribunal Federal (STF). Embora não tenha mostrado papas na língua ao afirmar que a prefeita Rosinha Garotinho (PR) oferta ao município “o pior governo dos últimos 100 anos”, o advogado campista advertiu que a desunião da oposição, “por vaidade, ou cegueira política ou mesmo incapacidade para se articular”, caminha para dar mais uma vitória ao garotismo nas eleições municipais de outubro próximo.
Após ler a postagem, na manhã de domingo, considerando relevantes o argumento e o argumentador, fiz o print para aproveitá-la como postagem (aqui) também no blog “Opiniões”, hospedado na Folha Online. E o link do blog foi devolvido (aqui) ao Facebook, onde gerou um debate tão ou mais interessante que a postagem inicial, nessa retroalimentação fantástica, na qual ao final ninguém sabe, ou parece se importar, sobre as diferenças de cronologia entre o ovo e a galinha.
Hoje, não por coincidência, a página 2 desta edição impressa de jornal traz (aqui) uma reportagem com a análise política sempre arguta do também advogado e ex-vereador Nelson Nahim (DEM), cuja pauta foi parida naquele debate gerado sobre a postagem de Carlos Alexandre. Íntimo conhecedor do modus operandi do secretário de Governo de Rosinha e prefeito de fato, Anthony Garotinho (PR), Nahim revela que o irmão aposta na divisão das próprias forças em movimento coordenado com a esperada divisão nas forças dos adversários, para que seu grupo continue até 2020 no comando de Campos, onde está encastelado desde 1989.
Com o desgaste do governo Rosinha, que fez uma primeira administração razoável, mas tem a segunda entre as piores dos 180 anos de história do município, não é preciso ser grande analista para perceber que as maiores chances de um candidato da oposição estão na disputa do segundo turno. E não há ser pensante com dúvida de que será uma disputa em dois turnos. No primeiro, fica todo o favoritismo do governo, que a exemplo das eleições municipais de 2004 e 2006, se inverte no segundo, puxada pela tendência de união dos votos da oposição, numa escolha meramente plebiscitária.
No debate no Facebook, gente como o argentino Gustavo Alejandro Oviedo, outro advogado, além de publicitário, chargista e crítico de cinema,viu (aqui) vantagens na fragmentação: “Penso que um candidato como João Peixoto, por exemplo, pode conseguir votos em lugares onde Rafael Diniz não poderia obter, e vice-versa”. Outro advogado, além de blogueiro da Folha Online, José Paes Neto tentou explicar (aqui) a pulverização da oposição: “Num cenário em que a oposição ainda não tem uma liderança natural, me parece normal que vários nomes tentem se colocar. A migração de políticos da situação para a oposição também ajuda a aumentar o número de pré-candidatos”.
Em contrapartida, no mesmo debate virtual entre argumentos reais, o estudante de psicologia da Universidade Federal Fluminense (UFF) Johnatan França de Assis tomou partido para advertir (aqui): “Se não vencermos essa eleição será em virtude da desarticulação da oposição”. Por sua vez, o professor e designer Sérgio Provisano questionou (aqui): “Ele (o eleitor) será cooptado por discursos populistas ou ouvirá a voz da razão? Estariam as oposições com ações que despertem a cidadania, ou se debatendo em uma fogueira de vaidades?”.
Os números usados por Nahim, duas páginas atrás, para explicar a estratégia de Garotinho, são claros e inequívocos. Mesmo desgastado, o governo tem entre 90 a 100 mil votos. Na intenção de dividir este total com algum equilíbrio, o garotismo deve lançar dois candidatos e tentar levar ambos ao segundo turno, onde a oposição seria mais forte, mas onde pode nem chegar, se permanecer tão dividida quanto hoje se mostra.
Como Lúcifer, encarnado brilhantemente por Al Pacino, diz na última fala do filme “Advogado do Diabo” (1997, de Taylor Hackford): “De todos os pecados que eu inventei, a vaidade sempre foi meu favorito”.
Publicado hoje (06/03) na Folha da Manhã
Meu caro Aluysio Abreu Barbosa, eu enxergo tudo isso com uma visão complementar, dentro da ótica de que o maior truque do Diabo, foi fazer com que as pessoas acreditassem que ele não existe. Mas ele existe e assume diversas personas sim. Eu, de mídias entendo um pouquinho, meu entendimento, admito, é raso, mas mesmo assim me atrevo a dar um ou outro pitaco, pois o diabo que habita em mim, é vaidoso às vezes. eu concordo que os Blogs não morreram não, eles são importantes em seu formato, pois se prestam a armazenar e documentar opiniões, daí a sua importância como uma espécie de memória cibernética. O que percebo, de modo geral, é a preguiça das pessoas em neles postarem e comentarem, pois por terem, na sua maioria, a necessidade de aguardarem moderação, o imediatismo que as outras mídias como o facebook proporciona, por exemplo, não contempla as nossas vaidades. Mas eu remo contra as marés, eu comento neles e depois, num acesso de egocentrismo, trago ao face, pois ali, o debate é mais imediato e dinâmico e, tenho o entendimento que todo debate, se conduzido dentro da visão do respeito ao contraditório e dentro de normas civilizadas e sempre necessário. Esse debate ao qual você se referiu, eu me intrometi e me propiciou ampliar a minha rede de amigos, incorporando nela, pessoas de alto nível como o José Paes, o Gustavo Alejandro Oviedo e o Carlos Alexandre de Azevedo Campos, cujos pensares, mesmo que em um ou outro tópico, tenha uma ou outra divergência de opinião, só me enriqueceu em meu livre pensar. ressalto a importância de toda a forma de mídia, seja ela impressa, falada, televisada, por qual meio for, pois servem em essência para, volta a repetir, para estimular o debate, que é sempre necessário e fundamental para oxigenar nossos pensamentos e sem querer rasgar seda, entendo que esse espaço democrático e aberto, após a devida moderação, é claro, preenche de vida inteligente, essa mídia, essas mídias, pois de debates de ideias é que avançaremos na construção de uma sociedade melhor para todos. Mais uma vez eu venho parabenizar você e ao José Renato por nos proporcionar esse espaço e, mais uma vez, levarei do blog ao face. Fraterno abraço em todos.
Esta, colocacao de todos que sempre foram braco direito e esquerdo , fiel e obedientes como Pudim e Mauro Silva, fica claro que a intencao do maestro e dv, e colocar o candidato dele na pista para brigar por mais 4 anos, e muita gente acredita , que os dous estao zangado, com o maestro. Jamais , iria acontecer este fato, quem duvida , pague para ver.
Bem colocados os argumentos, fazendo uma análise em enxuta síntese. Mas, eu penso que a tal “estratégia” do “secretário”, desta vez, vai ser “um tiro pela culatra”, e daqueles que explode o cano, na cara do atirador!
Aonde quer que se vá, o que se ouve é repúdio mesmo, o grau de asco é muito elevado, e estou me referindo à população de menor poder econômico, que é a maioria dos eleitores.
Tenho acesso permanente a dois importantes bairros bem populosos, um deles em Guarus, em ambos, ouço manifestações espontâneas, o tempo todo!
Acho até que a ‘oposição’ pode tirar proveito exatamente desta “divisão” que o “secretário” está articulando. O óbvio será a escolha de apenas UM candidato mais representativo, com o apoio daqueles que tiverem que ‘abrir mão’.
__Ou seja, jogar a “regra inversa” do “secretário”! E este terá o resultado de sua pequena “batalha de Waterloo”, com certeza na mais vergonhosa derrota da sua vida política!
Que excelente analogia essa aí do Savio, “Bataha de Waterloo”, eu concordo que que será uma derrota épica!