Artigo do domingo — Até o fim

Pedido nas passeatas de 13 de março anteviu a realidade que impôs ao país a partir das ruas (foto de El País)
Pedido nas passeatas de 13 de março anteviu a realidade imposta ao Brasil por suas ruas (foto de El País)

 

 

“Uma Revolução Francesa sem sangue”. Desde que ouvi pela primeira vez a definição do Gilberto Dimenstein sobre o atual momento brasileiro, tenho me deixado permear pelo otimismo emanado daquela conversa em vídeo (aqui) do conceituado jornalista com o historiador Leandro Karnal e os filósofos Mário Sérgio Cortella e Luiz Felipe Pondé.

Após o ministro Teori Zvascki, do Supremo Tribunal Federal (STF), ter afastado (aqui) Eduardo Cunha (PMDB) do mandato e da presidência da Câmara Federal, na última quinta-feira (05), tudo indica que irão até o fim as responsabilizações dos crimes eviscerados na operação Lava Jato. Sobretudo porque, de quebra, Teori afastou não apenas Cunha, mas a tentativa de anular o processo do impeachment da presidente Dilma Rousarseff (PT). Segundo denunciou (aqui) a jornalista Eliane Catanhêde, a manobra seria tentada pelos também ministros do STF Marco Aurélio de Mello e Ricardo Lewandovski, a partir da Arguição de Descumprimento de Preceito Fundamental (ADPF) impetrada pelo Rede Sustentabilidade de Marina Silva.

Apesar do julgamento das pedaladas fiscais de Dilma como crime de responsabilidade, no Senado, estar marcado para a próxima quarta (11), tudo indica que ela e Cunha, usando a expressão da primeira, já são “cartas fora do baralho”.

Quem questiona agora, o faz pelos mesmos motivos da “lógica” particular de quem primeiro pregou que os tribunais superiores anulariam as delações iniciais dos ex-diretores da Petrobras ao juiz Sérgio Moro; depois que a Lava Jato não chegaria a Odebrecht, por ser a empreiteira muito poderosa; depois não chegaria em Lula (PT), por conta de um acordo para blindar o ex-presidente; depois no senador Aécio Neves (PSDB), porque o Ministério Público protegeria os tucanos; depois que o procurador geral da República não investigaria Dilma, pois Rodrigo Janot protegeria o PT; depois que este mesmo PT costuraria um acordo com o STF para salvar a pele do senador Delcídio (sem partido) e impedi-lo de abrir o bico; depois que prevaleceria um suposto acordo para salvar Cunha em troca do impeachment.

Isso até que o último mi-mi-mi ecoado com força de arrasto nas redes sociais, dando conta que a Java Jato acabaria depois do impeachment, levasse o cala boca do afastamento de Cunha com Dilma ainda no poder.

Obsessão resumida (aqui) pelo comediante Fábio Porchat em artigo de palhaço sem aspas ou riso, o “Fora, Cunha!” deixou sem discurso quem antes já não tinha argumento para tentar defender o governo Dilma. Não foi o antagonista Cunha quem fez a Câmara aprovar o impeachment, assim como o processo não será barrado no Senado pelo aliado Renan Calheiros (PMDB), enquanto este não se torna a bola da vez da Lava Jato.

O que tirou Dilma e Cunha do poder foram as manifestações de 13 de março, maiores da história do país. Exatamente como foi Dilma quem acabou com a economia do Brasil — e o lulopetismo a reboque.

Se Michel Temer (PMDB) perder isso de vista por um único segundo após assumir o leme a partir do dia 12, será o próximo a naufragar.

 

Publicado hoje (08/05) na Folha da Manhã

 

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Este post tem 5 comentários

  1. Santos

    Tudo muito simplista, tirou Dilma e Cunha e tudo se resolve, a não ser que os empresários estavam de birra e agora vão baixar preços para a inflação ceder, os deputados vão parar com birras também e vão aprovar (pule de dez) a volta da CPMF e todos ajustes amargos que todo mundo era contra no governo Dilma.Enfim tudo muito simples, e pra todo mundo dormir bem que leve também a operação lava jato pra bem longe, para que o Temer envolvido ate o ultimo fio de cabelo e seus novos ministros delatados possam governar em paz. Por que criaram tanto problema se a solução do Brasil era tão simples, já defenestrava ela no inicio de 2015, brasileiro adora sofrer.

    1. Aluysio

      Caro Santos,

      Não há simplismos para além da sua interpretação.

      Abç e grato pela chance da observação!

      Aluysio

      1. Santos

        O seu comentário ao meu,a meu ver é simplista demais. O pior Aluysio, é que muitos, mas muitos brasileiros acordaram para uma realidade da qual não esperavam, não era apenas a Dilma, mas todos que estivessem envolvidos em escândalos, por isso a ironia do simplismo, causaria menos estragos ao Brasil. E não venham com o papo de depois a gente tira……….. que o pais afunda de vez.

        1. Aluysio

          Caro Santos,

          A questão, como exposto no artigo, é complexa, mas sua lógica é simples: enquanto tiver apoio das ruas, a apuração da corrupção não vai parar. E a aguardada delação de Marcelo Odebrecht, noticiada depois que o artigo foi escrito, é só mais uma prova disso.

          Abç e grato pela chance do reforço!

          Aluysio

  2. Edimar

    A condução dos intrincados e, complexos processos da Operação Lava Jato, por si só, não tem nada de simplista. Acredito que os desdobramentos pegará muita gente de surpresa. À conferir.

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